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Produtividade tóxica: quando a rotina se torna um inimigo pessoal


O acúmulo de tarefas e a autocobrança podem prejudicar a saúde física e mental.

Por Stephany Mariano

imagem: shutterstock


Acordar cedo para estudar, trabalhar, participar de projetos, cursos, palestras, manter a agenda cheia. Essa tem sido a rotina de muitas pessoas. Uma necessidade constante de produzir, em muitos casos sem pausas, e o acúmulo de tarefas têm contribuído para o desenvolvimento do que os especialistas chamam de produtividade tóxica. Mas o que seria esse fenômeno?

O termo tem sido utilizado para se referir a uma rotina não saudável, com o potencial de trazer prejuízos às pessoas que têm enfrentado esse problema. A palavra tóxica ganhou destaque com seu uso em outras situações que trazem uma ideia similar. Esse tipo de produtividade está ligada à ideia de que o valor do indivíduo depende e/ou é definido pelo o que ele produz.

Como em vários outros aspectos da vida, esse problema foi potencializado por conta da pandemia. O isolamento social obrigou as pessoas a ficarem em casa, isso fez com que suas rotinas de estudo e trabalho, por exemplo, fossem realizadas da porta para dentro. Nesse novo cenário, que já não é tão novo assim, o ensino remoto e o home office dominaram a vida das pessoas ao redor do mundo, trazendo novas possibilidades e inovações, mas que ao mesmo tempo tem trazido também pontos negativos significativos. Com o ambiente profissional, pessoal e educacional combinados em um só cômodo, tornou-se cada vez mais difícil impor limite entre essas atividades, culminando em um acúmulo de tarefas.

Rotinas exaustivas

Beatriz Garcia, ora tem algumas horas de estudo, ora passa o dia inteiro fazendo as coisas da faculdade. A estudante no último período de Enfermagem da UFF conta que, por achar que não tinha muito o que fazer, acabou acrescentando atividades demais e sente que não consegue mais alcançar todas elas. “Tá tudo muito confuso. Eu vou começar uma coisa e aí, quando eu vejo, eu já tô fazendo umas 3 atividades juntas, e no fim do dia eu não consegui completar nenhuma”. Por conta disso, a jovem de 24 anos afirma se sentir em um estado de cobrança constante, que quase sempre acaba em frustração. “Se eu não pegar coisas pra fazer eu me sinto inútil e se eu pegar muitas coisas eu me sinto inútil também, porque eu não consigo dar conta do que eu planejei fazer”.

A estudante afirma que a autocobrança fala mais alto e que as redes sociais contribuem muito para a pressão que coloca em si mesma, devido à comparação de seus resultados com o de outras pessoas. O mesmo acontece com Yuri Banov, estudante de psicologia da UFF. Além dessa comparação, percebeu que havia algo de errado com sua rotina por conta da dificuldade de realizar tarefas simples devido ao esgotamento. “Fazer um parágrafo de um texto, escrever alguma coisa, eu percebi que não estava rolando, sabe?”.

Yuri diz sentir dificuldade em definir o momento de cumprir suas tarefas e de descansar, fazendo com que esqueça de pensar em si mesmo. “Quando chegou a pandemia, o lugar de lazer era o mesmo lugar onde eu estudava e aí essas coisas se engrenaram junto”. Por conta disso, ele precisou estabelecer um limite de horário para tentar não passar tempo demais só produzindo. “Você vai emendando uma tarefa na outra. Quando é que você vai pensar em você mesmo?”

Combatendo o inimigo

Mas como identificar o problema? Brenda Vanin, psicóloga clínica especialista em psicologia, avaliação e atenção à saúde diz que uma rotina pode se tornar tóxica quando esquecemos de incluir o descanso como uma de nossas prioridades. “ O descanso faz parte do ciclo da produtividade, nós não somos máquinas, nós não somos como os computadores, os robôs, que podem fazer aquilo de forma ininterrupta”. Ela ainda reforça que é preciso compreender e respeitar o próprio limite, pois esse seria um dos motivos pelos quais a produtividade que seria normal se torna tóxica.

Um estudo realizado pela Chegg.org, ouviu estudantes universitários em 21 países e o Brasil obteve o maior índice de universitários que declararam ter a saúde mental afetada na pandemia, com 87% dos entrevistados afirmando que houve aumento de estresse e ansiedade. A produtividade tóxica é um dos fatores que podem afetar diretamente a saúde mental dos indivíduos, gerando transtornos de ansiedade, depressão e a síndrome de burnout. "A síndrome de burnout tem a ver com o esgotamento que é causado pelo ambiente de trabalho ou de estudo, então um estudante universitário ou até um estudante que ainda está na escola pode acabar desenvolvendo o burnout", explica a psicóloga.

Brenda reforça que buscar fontes de lazer e atividade física. Pausas e o apoio de amigos e familiares são importantes para amenizar a situação, mas também é preciso compreender que nem sempre o indivíduo conseguirá resolver a questão sozinho. Neste caso é recomendado buscar ajuda. “Você, junto com o profissional, vai descobrir qual é a melhor forma de lidar com essa situação, qual é o seu contexto específico, como vocês podem desenvolver estratégias novas e o que funciona para o seu caso”, finaliza.




Lutadores de MMA partem para a briga por maiores salários

Apesar de mobilizarem enormes audiências, grandes nomes do MMA ainda ficam atrás dos lutadores de boxe, quando o assunto é remuneração. Mas os gigantes dos octógonos já começam a reagir.  

Por Arthur Falcão 

Foto: dreamstime.com

Uma polêmica nas redes sociais entre o Presidente do UFC, Dana White e o (até aquele momento) campeão peso meio-pesado, Jon Jones, gerou uma sequência de discussões a respeito do valor das bolsas que lutadores de MMA recebem na maior organização do esporte no planeta.

Mesmo tendo o atleta (Connor McGregor) mais bem pago do mundo em 2021 de acordo com a Forbes, muitos lutadores estão confrontando a organização e pedindo maiores salários. Essa situação se intensificou com o recente cruzamento de lutadores de boxe e MMA em lutas de exibições milionárias, mostrando que eles podem ganhar bem mais do que só a fama e gerando a pergunta: porque lutadores de MMA recebem bem menos do que os de boxe?

Tradução: “O UFC precisa me pagar como um lutador principal para me fazer lutar nos eventos principais. Os youtubers estão mostrando toda a desgraça neste negócio.” 

O que ajudou o irlandês Connor McGregor a passar à frente de nomes como Neymar, Lionel Messi, Naomi Osaka e LeBron James, foi a venda da maior parte das ações da sua empresa de uísque Proper No. Twelve, avaliada na casa dos 150 milhões de dólares. Entretanto, quando se compara em termos de bolsa por luta, seus ganhos são bem menores.



Fonte: • Chart: The World's Highest-Paid Athletes | Statista

No período da lista, ele realizou apenas uma luta e recebeu US$ 5 milhões para subir no octógono, que somada aos patrocínios e ganhos de Pay-per-view, garantiu uma receita de US$ 20 milhões de dólares, para a revanche contra Dustin Poirier. Isto o manteve como lutador que mais recebeu dentro do UFC sendo um salário muito maior que o resto da elite dos lutadores de MMA.



Fonte:  Leading UFC fighters by total earnings as of 2020 | Statista

Mas comparado ao boxe, os valores são muito inferiores. Tanto que há um único lutador de MMA presente na lista dos 100, enquanto entre os lutadores de boxe há quatro: Tyson Fury (11º, US$ 57 milhões), Anthony Joshua, (19º, US$ 47 milhões), Deontay Wilder (20º, US$ 46 milhões) e Canelo Alvarez (30°, US$ 37 milhões)

Um outro exemplo é a luta realizada por Floyd Mayweather e o próprio Connor McGregor, que rendeu um total de  US$ 100 milhões para o pugilista, isso, sem considerar os patrocínios e bônus da luta. Já para Connor, rendeu US$ 30 milhões, que é o dobro do que ele já acumulou de ganhos desde que foi contratado pelo UFC.

Muitos fatores são relevantes para a diferença das bolsas que os lutadores recebem, mas alguns dos mais discutidos são a divisão de lucros de cada evento e a história de cada esporte. Por ser muito nova, a história do MMA ainda é ligada à violência de antigos praticantes, quando o esporte não era profissionalizado. Assim, muitos patrocinadores tendem a não querer ligar suas marcas a essa imagem, enquanto o boxe já é um esporte secular e olímpico, com isso, mais aceitável. Além disso, uma diferença crucial é a divisão de lucros: enquanto dentro do UFC a maior parte da renda vai para a organização, no boxe elas são mais divididas com os pugilistas, com isso, mesmo que o UFC hoje venda mais pay-per-views que o boxe, os lutadores não recebem uma porcentagem grande dos eventos a ponto de compararem seus ganhos aos valores do boxe.

Uma demonstração desta impactante diferença são os valores da luta de maior audiência de um dos melhores lutadores de MMA do UFC, Jon Jones, em sua revanche contra Daniel Cormier: no UFC 214 ele vendeu o total de 860,000 pay-per-views, recebendo US$ 580 mil. Já Canelo Alvarez, em sua luta de boxe, vendeu pouco mais que Jones, 900,000 pay-per-views e recebeu US$ 58 milhões.  

Um fator que torna a negociação de pugilistas mais igual com promotores de eventos de luta é a Lei Muhammad Ali, que obriga as organizações a pagar a maior porcentagem dos ganhos aos atletas, enquanto no MMA, por não possuir leis destes tipo, dependem de cada organização. Devido ao monopólio do UFC na modalidade, uma negociação por maiores salários quase sempre termina num não.

Com isso, mostra-se que mesmo semelhantes no patamar de fama, os lutadores de MMA tem muito caminho a percorrer para crescerem esportiva e financeiramente em comparação ao boxe.  

Vacina contra Influenza tem baixa procura entre jovens Friburguenses

Governo Federal entregou 72.500 doses do imunizante, mas o município vem encontrando problemas para ampliar a cobertura vacinal
João Pedro Boaretto

Localizado no interior do estado do Rio de Janeiro, o município de Nova Friburgo tem cerca de 190.000 habitantes. Para a campanha de vacinação contra o vírus da Influenza, foram recebidas 72.500 doses do imunizante, que começou a ser aplicado em abril de 2021, tendo como público alvo inicial os profissionais da saúde. A aplicação foi se expandindo em etapas, até chegar à população geral em julho. A oferta para todos se deu a partir de uma nota técnica do Ministério da Saúde, que orientou os municípios a distribuírem as doses enquanto durassem os estoques. Mas até o início de setembro, a meta de zerar os estoques não tinha sido atingida, embora a prefeitura não informe o percentual de vacinas aplicadas, por falta de dados no e-SUS. 


Foto: Reprodução/A Voz da Serra

A principal dificuldade para o avanço da campanha é a pandemia do coronavírus, que atrasou a aplicação por conta dos intervalos entre as doses da gripe e da Covid-19. Além disso, as unidades de saúde estão sobrecarregadas e constantemente cheias. Porém, de acordo com Marlise Quintana, subsecretária de saúde de Macuco, município próximo à Nova Friburgo, é necessário planejamento e organização para administrar as campanhas simultaneamente. “As ações de imunização continuam a ser extremamente importantes para a proteção contra a influenza e devem ser mantidas apesar de todos os desafios frente à circulação contínua ou recorrente do SARS-CoV-2”. 


Um outro problema é a comunicação ineficaz com o público-alvo mais jovem, que não busca os postos de vacinação para a atualização da caderneta. De acordo com a assessoria, “A Secretaria Municipal de Saúde em conjunto com a Comunicação pretende realizar campanhas específicas para aumentar a cobertura vacinal contra a gripe em Nova Friburgo”. Para Maria Laura Rosmaninho, estudante de 19 anos, a prefeitura não é assertiva na comunicação com os adolescentes. “Eu nunca vejo ninguém falando sobre vacinas, a campanha não é destinada aos jovens e quando eu preciso tomar alguma vacina específica, tenho que ir até o posto para me informar.” Ela ainda acrescenta que o debate poderia ser levado para outras áreas, como nas salas de aula, porque é na escola que a maioria dos jovens têm acesso à informação.


O vírus Influenza, além de causar febre, cefaléia, dores no corpo, coriza e tosse, pode levar os infectados à hospitalização em casos mais graves. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 1,8 mil pacientes tiveram SRAG causado pelo vírus Influenza no último ano no país. Um fator que preocupa ainda mais os friburguenses é o clima frio da cidade, propício para o aumento de casos da doença.


Para Ana Júlia Medeiros, comerciante de 20 anos, os jovens não levam a sério as campanhas de vacinação por se acharem fortes e saudáveis, como se fossem inatingíveis. Porém elas são imprescindíveis, principalmente no atual momento de crise sanitária. 

Marlise garante que a vacinação é uma ação preventiva. “Ela previne o surgimento de complicações decorrentes da doença, óbitos e suas consequências sobre os serviços de saúde, reduzindo os sintomas que podem ser confundidos com os da covid-19 nesse período de pandemia", reforçando a necessidade de se vacinar, até mesmo como uma forma de aliviar a sobrecarga dos hospitais.



Lei Aldir Blanc: artistas de Mesquita ainda esperam conseguir apoio

 Implementada em 2020, para auxiliar artistas prejudicados pela pandemia, a Lei destinou, ao município, mais de R$ 1 milhão. Parte da verba não foi gasta por problemas burocráticos.

Por Maria Eduarda Costa


Live cultural promovida por artistas beneficiados pela Lei Aldir Blanc. Reprodução / Facebook.


Criada em 2020 para socorrer músicos, artesãos, artistas de rua, entre outros profissionais da classe artística prejudicados pela pandemia, a Lei Aldir Blanc destinou mais de R$ 3 bilhões a estados e municípios, responsáveis pelo repasse dos recursos aos beneficiários. O nome da lei é uma homenagem ao famoso letrista morto ano passado, vítima do novo coronavírus.


Em Mesquita, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, o valor recebido possibilitou o pagamento de 81 artistas e 9 instituições culturais. Segundo Kléber Rodrigues, subsecretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo do município, Mesquita recebeu um milhão e cento e noventa e sete mil reais do Governo Federal. 


A cidade fluminense ficou responsável pelo mapeamento dos eixos competentes ao município e pela organização do pagamento, desde o edital até a gestão das contrapartidas. Como obrigatoriedade imposta pela lei Aldir Blanc, os artistas beneficiados precisam realizar uma produção artística dentro do seu nicho e disponibilizá-la para a população. 


O setor cultural ficou contemplado de forma diversificada, desde os produtores audiovisuais até os contadores de histórias. Assim, a cidade promoveu o pagamento do recurso através de editais dentro de cada segmento artístico. “Para cada um dos editais a gente criou uma comissão de avaliadores com gente de dentro da Prefeitura e pessoas de fora reconhecidas em suas áreas, dando credibilidade e lisura ao processo. Essa avaliação ficou disponível”, conta o subsecretário da pasta. 


Alguns artistas encontraram dificuldades para o recebimento do recurso. De acordo com Rodrigues, responsável pela pasta, a ausência de documentos e a falta de retorno do contato fez com que menos da metade dos inscritos no edital recebessem o dinheiro. Apesar disso, a artesã Cláudia Alves diz que sua inscrição não foi aceita com a justificativa de inadequação nos padrões da lei. "Eu fui à Prefeitura para entender e lá me informaram que o prazo foi expirado, mas na resposta que eu recebi não informava que tinha um prazo”, afirma a artista. 


Nessa ocasião, os artistas de Mesquita já estavam em contato com a Prefeitura. No início da pandemia, a gestão da cidade ofereceu três meses de cestas básicas para os trabalhadores do setor cultural. Desse benefício Cláudia e seu marido José Bernardo, também artista, conseguiram usufruir, mas a situação piorou ao longo dos meses e a ajuda do governo municipal não se manteve. 


A não utilização de todo o valor recebido aos municípios implica na devolução do dinheiro oferecido através da lei Aldir Blanc. Por isso, diante de um número de contemplados abaixo do esperado, a gestão de Mesquita optou por permitir a inscrição em mais de um edital e dobrar o valor dos prêmios aos participantes. Essa situação propiciou o pagamento de altos valores aos artistas beneficiados, de R$ 1.500 até R$18.000, segundo Kléber Rodrigues. 


Simone Santana, artesã mesquitense, recebeu o valor de R$ 6 mil, pagos à vista. Inicialmente, a artista receberia R$ 3.000, mas o valor dobrou com a possibilidade de fazer mais de uma inscrição, já que ela também é professora de artesanato. De acordo com Simone, o dinheiro foi suficiente para pagar suas dívidas e repor seu estoque de material. “Consegui dormir tranquila, mas quando você está precisando muito, rapidamente o dinheiro se acaba”. 


As aulas que Simone oferecia foram interrompidas com o isolamento social, mas a renda da artesã começou a ser complementada pela venda de máscaras de tecido. Foi esse trabalho que ela apresentou em sua contrapartida, ensinando as pessoas a confeccionarem suas próprias máscaras em uma live promovida nas mídias sociais da Prefeitura da cidade. Segundo Rodrigues, a Subsecretaria responsável pelo projeto ofereceu os recursos de captação de som e imagem necessários para que os artistas realizassem a obrigação imposta pelo recebimento do dinheiro.


Live cultural promovida por artistas beneficiados pela Lei Aldir Blanc. Reprodução / Facebook.


O subsecretário acredita que a promoção desses artistas configura uma segunda ajuda à classe, já que o espaço de divulgação é uma ferramenta importante nesse tipo de serviço. Cláudia Alves, a artesã que não conseguiu ser contemplada pela lei Aldir Blanc, concorda com Rodrigues. No entanto, a artista crê que o auxílio para a divulgação e facilitação da exposição dos artistas deve ser um comprometimento do poder público constantemente. “Eu não quero que o governo me sustente, mas eu queria um apoio para expor minha mercadoria em um lugar limpo e seguro, para ter tranquilidade para trabalhar”, explica Cláudia. 


Com o alto número de casos como o de Cláudia e José Bernardo, a Prefeitura de Mesquita resolveu empenhar o dinheiro restante do concurso. Segundo Rodrigues, a ideia é pagar todos os inscritos aptos e, por isso, a Subsecretaria de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo promoverá novos editais ainda esse ano. Já o Governo Federal não dá sinais de um possível segundo repasse de verbas para 2021. 


Segundo o responsável pela pasta na cidade fluminense, o caráter emergencial da medida não possibilitou a organização de vários municípios que não contavam com algum tipo de cadastramento da classe artística. Na visão de Rodrigues, a coleta de dados e conjunção de informações entre municípios, estados e federação seria a forma mais efetiva de prestar auxílio aos artistas, mesmo fora da pandemia. 


Em futuros processos, Rodrigues vê a possibilidade de auxiliar os artistas com recursos pontuais, assim como os da lei Aldir Blanc. “Algo que dê suporte para que o artista crie algum produto, mas temporário, senão vira assistência social e esse não é o objetivo”, afirma. Na pandemia, diz o subsecretário, essa ajuda deveria ser encarada como um pilar de saúde integrada. "A cultura foi mal interpretada como sendo um elemento acessório, mas na realidade ela foi a grande fuga para que a grande maioria não sucumbisse ao processo da pandemia”, finaliza.


FavelaZap cria plataforma de informação contra a Covid-19

Mesmo sabendo que o acesso à internet não é uma realidade de todos os brasileiros, os criadores apostam na ferramenta.

Por Thayssa Rios

Menina ao celular na favela
Foto: Ângelo Cavalcante

Quando a pandemia do novo coronavírus se instalou no Brasil, trazendo a necessidade do isolamento social, nem todos os brasileiros puderam trazer as tarefas de trabalho para dentro de casa, e não apenas porque algumas atividades exigiam a presença física dos trabalhadores. A falta de equipamentos e de internet de qualidade limitou para muitos moradores de periferia as possibilidades do chamado home office. Esse foi o caso, por exemplo, dos membros do Observatório de Favelas, ONG que funciona dentro do conjunto de favelas da Maré, e realiza estudos e ações no território. Segundo Priscila Rodrigues, coordenadora de comunicação do OF, a maioria dos integrantes faz parte de uma população à qual não foi permitido parar de trabalhar no contexto pandêmico. “Muitos de nós somos moradores de favela, pessoas pretas, e mulheres. O nosso primeiro movimento foi entender como garantir que a gente conseguisse parar, o que não é simples para uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos”.

Sem poder oferecer computador e internet para todos trabalharem de casa, o grupo criou o FavelaZAP como parte da campanha “Como se proteger do coronavírus”, voltada para os próprios colaboradores. A ferramenta deu tão certo que acabou sendo incorporada a outras ações voltadas à comunidade. Priscila Rodrigues explica que a plataforma de mensagens se mostrou útil para a missão institucional do organizatório “que é criar experiências que possam diminuir a desigualdade e fortalecer a democracia a partir das favelas e periferias e seus moradores, afirmando esses territórios e esses sujeitos como potência de direitos”. Através do FavelaZAP, a instituição pode interagir com os moradores e criar campanhas para ensinar e conscientizar sobre as formas de se prevenir contra o coranavírus, em um contexto em que as casas, na maioria, são pequenas, impossibilitando o isolamento, e onde nem sempre tem água corrente para lavar as mãos, álcool em gel e janelas.

Foram criados conteúdos que pudessem garantir cuidados e autonomia para os moradores de favelas e periferias. Através de parcerias, a equipe se reúne com especialistas e busca informações sobre temas diferentes. O material é disparado através do WhatsApp, que consideram ser a plataforma mais fácil para fazer a transmissão do conteúdo, já que é uma ferramenta que está na palma das mãos e “todo mundo tem”, conforme Priscila. Isabella Rodrigues, que é quem lida diretamente com o FavelaZAP como social media, diz que tem consciência de que a internet não chega a todos os brasileiros, mas lembra que o WhatsApp é a rede social que mais pessoas têm acesso. Segundo a pesquisa do Comitê Gestor da Internet do Brasil, em 2020, o país chegou a 152 milhões de usuários.

"Se a fake News chega pelo WhatsApp, por que não usar para entregar as informações no FavelaZAP?", pondera a coordenadora de comunicação, Priscila Rodrigues.

Principal meio de interação da campanha da instituição, o FavelaZap não é o único canal de divulgação de informação contra a pandemia. Assim como outras organizações de favela, como o LabJaca, do Jacarezinho, o Observatório também usa o Instagram e o contato presencial para informar os moradores.

A instituição pretende manter o canal de informações mesmo depois da pandemia, porque gerou um alcance maior do que o imaginado. Isabella Rodrigues conta que recebeu relatos de outros estados sobre o conteúdo produzido pela ONG e até denúncias de violência doméstica e abuso de autoridade e agressão policial, o que gera um espaço de interação e refúgio para os moradores. “A última vez foi uma moradora da Maré pedindo atendimento psicológico. Entrei em contato com a nossa coordenadora do eixo de Direito à vida e Segurança Pública e ela foi encaminhada”.


O que muda nas escolas com a chegada do Novo Ensino Médio?

Apesar de prevista para 2022, a implantação dos novos currículos ainda é uma incógnita para muitos alunos. Para profissionais, as mudanças não foram suficientemente discutidas.

Por Taís Aparecida


 FatCamera/iStock


O Novo Ensino Médio está previsto para começar a ser implementado em todo país em 2022, mas, apesar disso, muitos estudantes ainda não sabem que impactos a mudança trará para o dia-a-dia escolar. Emily Lopes Sant'anna, aluna de 17 anos do Colégio Pedro II (CP2) de Realengo, considera que as escolas não têm se organizado para informar a comunidade. "Creio que a maioria dos alunos do atual Ensino Médio [da escola dela] ainda não se informou sobre isso. A falta de comunicação da escola certamente é um dos motivos”.

A desinformação também atinge estudantes da rede particular. Karolina Duarte Adolfo, do Colégio Elite, conta que a escola não explicou aos alunos como será o novo Ensino Médio, situação parecida com a relatada por secundaristas da rede estadual de ensino. Lucas do Prado Ramos, estudante do CE Profª Jeannette de Souza Coelho Mannarino, afirma que em nenhum momento sua escola falou sobre o que vai mudar a partir de 2022. Ele diz, ainda, que só ficou sabendo do assunto após uma conversa com a amiga.


Sobre a Reforma do Ensino Médio


O Novo Ensino Médio surgiu em 2017 através de uma Medida Provisória (MP) apresentada pelo governo do ex-presidente Michael Temer, que alterava a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada no legislativo, se tornando a lei nº 13.415/2017. Dentre as mudanças propostas pela lei estava criação de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), lançada em 2018.  

A BNCC diz que "é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica". Ou seja, a BNCC é um documento obrigatório para todas as fases da educação básica que todos os estados e instituições de ensino devem seguir para implementar seu currículo seguindo as diretrizes e competências que o documento coloca.


Retirado do documento da BNCC.


Com as mudanças, o novo ensino médio passa a ser dividido em dois blocos: a formação geral básica e os itinerários formativos. Na formação básica, em vez de as disciplinas serem dadas individualmente como antes, agora elas serão aglutinadas em núcleos do conhecimento: linguagens e suas tecnologias (português, inglês, educação física, artes), matemática e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas (história, geografia, filosofia e sociologia) e ciências da natureza e suas tecnologias (química, física e biologia).

Já o itinerário formativo seria uma formação para o aluno se aprofundar mais na área que ele quer seguir, sendo cinco opções de aprofundamento: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas, ciências da natureza e suas tecnologias e a formação técnica profissional.

A carga horária se divide em 60% para a base comum e 40% para os itinerários formativos, sendo que na base comum serão obrigatórias as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática nos três anos do Ensino Médio. O conteúdo das outras áreas de conhecimento serão inseridos no currículo de acordo com cada escola ou a partir dos estados,. Nos itinerários formativos as escolas devem oferecer ao menos uma opção, mas caso a escola ofereça mais de um itinerário, o aluno poderá escolher mais de uma opção.

Essa reforma do Ensino Médio se iniciará gradativamente em 2022 sendo oferecido nesse primeiro ano para os alunos da primeira série. Assim, segundo o MEC, até 2024 todas as séries estarão oferecendo o novo Ensino Médio.

A proposta do governo com essas mudanças é criar um modelo de ensino flexível; integrado, com interdisciplinaridade entre as áreas do conhecimento; e autônomo, deixando o aluno livre para decidir o que ele quer seguir. Isso porque eles argumentam que havia muita desistência e desinteresse por parte dos alunos nessa última etapa do ensino básico. E que além disso, o Brasil também vinha tendo um desempenho insatisfatório no PISA e em outros métodos de avaliação internacional.

No Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) ainda está em processo de elaboração do currículo do Novo Ensino Médio que valerá para a rede estadual e privada. Mas a rede particular também terá autonomia na implementação de seu próprio currículo, caso assim desejar.

Críticas à Reforma do Ensino Médio


Mesmo que a reforma tenha sido aprovada e comece a entrar em vigor no ano que vem, há muitas críticas e pontos controversos em relação ao novo Ensino Médio. Paulo César Maia de Castro, professor de Sociologia em duas escolas públicas do Rio de Janeiro, enxerga essa mudança de maneira crítica e vê a aglutinação das disciplinas como um empobrecimento do conhecimento e da construção do saber crítico. "O Novo Ensino Médio para mim é uma destruição da educação e daquilo que a gente acredita como educação pública, gratuita e de qualidade. É um esvaziamento de conteúdo e das disciplinas enquanto um corpo de conteúdos e significados".

Paulo Afonso do Prado, regente e orientador educacional de duas escolas em região rural de Itaocara/RJ, percebe essa mudança como uma construção de pessoas apenas para o mercado de trabalho, sem exercitar o pensamento crítico desse aluno. Com a junção das disciplinas em áreas do conhecimento, ele acredita que vai ser impossível abranger todos os conteúdos, então o discente acabará tendo uma formação rasa.

Prado também critica o fato de o Estado do Rio ter começado a discutir tarde a construção do currículo de maneira ampla com os professores, pois, na visão dele, encurtou o tempo de debate e reflexão sobre esse currículo. Mas ele acha interessante a proposta da interdisciplinariedade entre as áreas do conhecimento, porém tem receios em relação a essa implementação na prática.

Além disso, Paulo Prado teme que, com o aumento da carga horária, mais estudantes de escolas públicas com baixos recursos abandonem as salas de aula, e com isso a evasão aumente. Mas para ele, no ponto de vista regional e rural, a possibilidade de criar disciplinas que dialoguem mais com o aquele local em que o estudante vive pode ser um ponto positivo da mudança, pois geraria um maior sentimento de pertencimento.

A secundarista Karolina Duarte, enxerga essa reforma como uma regressão pois, na visão dela, eles vão juntar matérias críticas essenciais para a formação de um indivíduo cidadão e darão mais ênfase em disciplinas mais "práticas", como Matemática e Língua Portuguesa. "Na questão da história você pode entender, por exemplo, o que foi o Apartheid ou por que Rosa Parks fez diferença nos EUA. A diferença dos ideais de Luther King e Malcolm X e como isso se reflete na cultura".

Além disso, ela percebe que essa mudança ocorreu de maneira muito abrupta. "Não dá para você transformar um sistema de anos, que já não é muito bom, em uma coisa completamente diferente sem uma adaptação prévia dos alunos, sem uma formação específica para os professores", opina.

O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (SEPE) se pronunciou em abril deste ano contrário ao novo Ensino Médio e também pedindo a revogação da construção do currículo escolar implementado pela SEEDUC. Segundo o SEPE, a implementação dessa matriz curricular feita pelo Estado não teve participação da comunidade escolar, apenas consultas que acabaram sendo limitadas devido às restrições causadas pela pandemia da Covid-19 e também porque boa parte dos alunos não tem acesso à internet. O documento diz ainda que a proposta apresentada é do Governo e não do Estado:

"A manutenção desse cronograma por parte da SEEDUC não leva em consideração o contexto da pandemia no estado do Rio de Janeiro e a necessária participação de professores, estudantes e da comunidade como um todo na reformulação do currículo. As consultas públicas estão sendo realizadas de forma virtual, o que impossibilita o debate e torna o processo apenas burocrático. Exigimos o congelamento da tramitação do documento até que seja feita uma ampla discussão com a sociedade. A Comissão da Educação Básica, bem como o pleno do Conselho, não podem dar encaminhamento a qualquer ação sobre a matriz curricular no sentido de sua regulamentação, tendo em vista que a proposta apresentada ao CEE, é uma proposta de Governo e não de Estado. Não houve participação alguma da sociedade civil em sua construção. É fundamental estabelecer processo democrático para a discussão da Reforma Curricular. O debate tem que chegar em cada escola"

 

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