Navigation Menu

Candidatos à Araribóia

Concorrentes à prefeitura de Niterói falam ao Casarão


Por Gabriel Vasconcelos, Leonardo Pimentel,
Fernanda Costantino e Filippe Irrazábal

Não é fácil se eleger prefeito numa cidade de médio porte como Niterói.

Com aproximadamente 490 mil habitantes (censo de 2010), a prefeitura sorriso conta com um orçamento de R$ 1,4 bilhão para este ano, uma quantia alta se comparada, por exemplo, com os gastos do município vizinho. São Gonçalo recebeu R$ 786 milhões e possui o dobro de habitantes, cerca de um milhão de pessoas. Mesmo com tamanha verba, Niterói enfrenta problemas de toda ordem. Caos no trânsito, violência e nociva especulação imobiliária serão alguns dos desafios para o novo Araribóia.

Se as deficiências do município acusam o desgoverno dos últimos quatro anos, facilitam a campanha dos cinco candidatos: Felipe Peixoto (PDT), Flávio Serafini (PSOL), Heitor Fernandes (PSTU), Rodrigo Neves (PT) e Sérgio Zveiter (PSD). Com críticas que soam naturais e propostas intuitivas, todos apontam a má gestão do pedetista Jorge Roberto Silveira, inclusive Peixoto.

Mas nem tudo favorece os prefeitáveis. Em comum, três dos cinco candidatos carregam o fardo de não serem absolutos em seus próprios partidos ou chapas. No PT, o deputado federal Chico D’Ângelo assombrou Rodrigo Neves nas prévias, e, na chapa governista, o deputado estadual Comte Bittencourt (PPS) era mais cotado que Felipe Peixoto. No PSOL, o nome de Flávio Serafini também não tem o mesmo peso que o de figuras conhecidas da legenda, como o ex-vereador Paulo Eduardo Gomes e o vereador Renatinho. Por isso, as campanhas são decisivas e a disputa se mostra aberta. Uma prova está na pesquisa realizada pelo Ibope em agosto, na qual 25% dos votos são nulos ou brancos e 18% indecisos. O Instituto ainda indica um empate técnico entre Felipe Peixoto e Rodrigo Neves, ambos com aproximadamente 20% das intenções.

Sabendo disso, O Casarão procurou cada um dos concorrentes a prefeito. Depois de um mês inteiro de telefonemas, e-mails e toda uma hierarquia de assessores e secretários, conseguimos quatro entrevistas pessoais com três candidatos e um vice, além de outra por e-mail. Todas podem ser lidas na íntegra em nosso Blog.

Para o corpo editorial, o saldo foi extremamente positivo. Isso se deve ao fato desta ser a primeira edição de um jornal sem o calibre da grande mídia e, por isso, nem sempre atraente aos homens públicos. É importante lembrar que, na administração de uma cidade, extremos são perigosos. Se por um lado a ausência de alianças pode comprometer a governabilidade junto a Câmara dos Vereadores, uma coligação com muitos partidos pode significar um futuro leilão de pastas públicas para aliados, o que, não raro, submete secretarias e autarquias municipais a lideranças políticas sem a experiência técnica suficiente. Além disso, vale avaliar a vida pregressa e a viabilidade das promessas dos concorrentes, assim como acompanhar a prestação de contas no site do Tribunal Superior Eleitoral, no link divulgacand2012.tse.jus.br. Tudo isso levará a uma escolha coerente no dia 7 de outubro. Boa urna!




FLÁVIO SERAFINI. Primeiro candidato a aceitar a entrevista, candidato da coligação “Mudança de verdade” (PSOL/PCB), fez questão de nos encontrar em nosso próprio campus, o Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF - Iacs. Professor há oito anos, é formado em Ciências Sociais com especialização em História do Brasil pela UFF. Uma de suas principais propostas prevê a extinção das atuais secretarias regionais do governo. “As secretarias só servem como cabide de emprego. É preciso extinguir 70% dos cargos comissionados e acabar com as terceirizações que hoje servem para a prática do nepotismo de uma forma disfarçada. Essa medida já libera um montante de pelo menos R$100 milhões anuais para outros investimentos”.

Outro ponto destacado pelo concorrente foi o caos na mobilidade urbana da cidade. Segundo Serafini, as medidas tomadas pelo atual prefeito, como a construção da Via Orla e Via 100, não ajudam a melhorar e só pioram a situação. O candidato do PSOL acredita que é preciso investir em transporte sobre trilhos em Niterói e, mesmo não sendo um assunto do governo municipal, pressionar por melhorias no serviço de barcas, cuja antiga concessionária, Barcas S.A., teria mantido uma relação duvidosa com o poder público. “A barca não cumpriu o projeto de expansão, rompeu o contrato que diz respeito à garantia do transporte noturno, não cumpriu o contrato que previa o aumento do número de embarcações e tampouco garante a segurança dos usuários. A coisa é tão promíscua que, hoje, o grupo que controla o transporte é o mesmo que controla a ponte e outras vias”, lembra.

Serafini comentou ainda que a desordem no trânsito é causada pelo crescimento desordenado da cidade, que hoje não possui parâmetros urbanísticos rígidos que evitem problemas como a falta d’água, já presente em alguns bairros de Niterói.



SÉRGIO ZVEITER. O candidato optou por se posicionar via e-mail, o que afeta a espontaneidade das respostas. Advogado e deputado federal aos 56 anos, Zveiter integra a coligação “Compromisso de mudança” (PTB / DEM / PRTB / PTC / PSD). Ele criticou profundamente a atual gestão, mas foi breve e objetivo nos quatro pontos de atuação de seu governo, os quais priorizamos.

A maior parte das propostas do candidato incide sobre a problemática do trânsito. Apesar de falar em VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e na implantação de ciclovias, as intenções se voltam muito para os automóveis. A ideia é construir o túnel Charitas-Cafubá para carros e coletivos, sem cobrança de pedágio além de criar uma via expressa ligando a Região Oceânica à Ponte Rio Niterói. Outra pretensão é exigir da concessionária NitPark, que explora serviços de estacionamento na cidade, a construção de estacionamentos e garagens subterrâneas para acomodar veículos em áreas de grande fluxo.

Na Saúde, Zveiter falou em ampliar o Projeto Médico de Família, além de plantão 24 horas nas policlínicas. Completam o planejamento a reabertura das emergências dos hospitais Antônio Pedro e Orêncio de Freitas, e a instalação de mais três UPAs na cidade. Quanto à Educação, ele pretende municipalizar os Cieps, instituir o ensino integral nas escolas municipais, ampliar o número de creches e criar um programa de bibliotecas em praças públicas.

Finalmente, na área da segurança, Zveiter falou em dobrar o efetivo da Guarda Municipal e dar um reajuste a classe. Além disso, pretende se aproximar da sociedade civil através de encontros e reformular a Secretaria Municipal de Segurança. “A segurança pública será um problema do prefeito. O Secretário de Segurança será um delegado da Polícia Federal e o subsecretário, um guarda municipal. Tem guarda que recebe menos de um salário mínimo. Isso não pode continuar”.


AXEL GRAEL. Atribulado com compromissos de campanha, Rodrigo neves não nos atendeu. Por isso, entrevistamos seu vice na coligação “Vamos Niterói” (PRB / PT / PMDB / PSC / PSDC / PHS / PMN / PSB / PV / PC do B), que nos recebeu no estúdio onde gravava seu programa eleitoral. Aos 54 anos, Axel disputa um cargo eletivo pela primeira vez, embora tenha experiência na administração pública. Engenheiro florestal da Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, foi duas vezes subsecretário da pasta, presidente da Feema, diretor executivo da Fundação Parques e Jardins e presidente do Instituto Estadual de Florestas.

Para Axel, Niterói vive uma realidade muito parecida com relação a saúde e educação. “Aqui, 70% da população tem plano de saúde e 70% dos estudantes vão para escolas particulares. Numa prefeitura que arrecada um bilhão e meio de reais por ano, é impossível não conseguir fazer uma política de educação e saúde boa para os 30% restantes da população. E nessas duas áreas você ainda tem repasse de recursos federais do SUS (Sistema Único de Saúde) e do Fundo Nacional de Educação. Niterói não tem desculpa para não ter um excelente programa de Saúde e de Educação.” Por isso, prometeu priorizar a primeira infância ao reabrir creches fechadas e implantar 20 novas unidades, além de reativar as emergências médicas do município e contratar mais 200 médicos.

Outro tema abordado por Axel Grael foi mobilidade urbana. Para ele, Niterói tem de adotar um planejamento de vanguarda, que priorize o transporte coletivo, assim como acontece em cidades como Copenhagen, Amsterdã, Berlim e Melbourne. “Hoje, se bobear tiram praças para fazer estacionamento. É a ditadura do automóvel e a gente precisa reverter isso” afirmou o vice-candidato, cuja chapa pretende construir um túnel Charitas-Cafubá sem pedágio e exclusivo para coletivos BRT e bicicletas. A ideia é integrar a cidade com duas grandes malhas cicloviárias, uma na Região oceânica e outra que ligue Jurujuba ao Barreto. Além disso, se destaca a promessa de criar uma via expressa para automóveis e BRT entre o Largo da Batalha e a Ponte Rio Niterói a fim de desafogar o trânsito de São Francisco, Icaraí e Santa Rosa. Por fim, Axel falou do programa de segurança “Todos pela Segurança”, que prevê a dobra do efetivo da Guarda Municipal, o aumento de sua remuneração e instalação de 200 novas câmeras de monitoramento na cidade.


FELIPE PEIXOTO. A entrevista aconteceu em um restaurante fino de Icaraí, após um almoço de confraternização com diretoras da rede municipal de educação. Atual deputado estadual, aos 35 anos, Felipe Peixoto pertence ao mesmo partido do prefeito Jorge Roberto Silveira, o PDT, que integra a coligação “Niterói do Futuro” (PP / PDT / PSL / PTN / PPS / PRP / PSDB / PT do B / PPL). Ele já foi vereador da cidade por três mandatos, além de Secretário de Estado de Desenvolvimento e Pesca. A pressa para chegar à Assembleia Legislativa do Rio forçou o candidato a dar respostas sucintas para a maioria de nossos questionamentos.

Uma de suas principais propostas se refere ao sistema de transportes. “É fundamental tirar do papel o projeto Jaime Lerner, que pretende fazer as vias seletivas de ônibus, construir os terminais de integração do Largo da Batalha, Charitas, Piratininga e Caramujo. Mas o deslocamento a pé na cidade também é importante. Também ampliarei a malha cicloviária da cidade. Vamos criar um sistema de aluguel de bicicletas, ampliando os 49 km de ciclovia atuais para 200 km, além do número de estacionamentos de bicicletas de 400 para dois mil pontos.”

Outra questão importante para locomoção na cidade é a construção do túnel Charitas-Cafubá. Felipe explicou os motivos pelos quais haverá cobrança de pedágio caso seja eleito. “O túnel já foi licitado. Para ganhar voto, seria muito simples eu chegar aqui e falar: vamos fazer o túnel sem pedágio. Mas é uma obra que não se viabiliza de outra forma. Se o município tiver dinheiro para indenizar a concessionária que ganhou a licitação, isso será feito, mas, dentro da nossa realidade financeira, e com a falta de acesso a recursos federais que possam patrocinar uma obra viária, precisamos respeitar o contrato licitado.”

Felipe Peixoto também falou das ideias para a Segurança, principalmente nos arredores da UFF, constante queixa de alunos e funcionários. “Vamos valorizar a Guarda, ampliar o efetivo que, hoje é de 390 homens, para até 660 no final de nosso mandato. E naquele trajeto da universidade, do Valonguinho em direção ao Gragoatá, Faculdade de Direito, Economia e IACS, a gente vai criar um corredor de calçada com arborização, iluminação própria, monitoramento por câmeras e com guardas municipais e policiais militares”.

HEITOR FERNANDES. Servidor público dos correios e dirigente sindical, o candidato de 49 anos disputa o pleito pelo PSTU sem a esperada coligação com o PSOL e PCB. Segundo ele, a razão para o partido não se coligar está na ausência de uma plataforma programática e política comum.

Heitor apontou a Câmara de Vereadores como um balcão de negócios para interesses dos empresários dos transportes e da especulação imobiliária e propôs como solução a criação de conselhos populares em todos os bairros para discussão dos temas de interesse social da cidade, como educação, cultura, habitação e saúde. A Câmara de Vereadores estaria submetida a estes conselhos, onde seriam determinadas as prioridades do governo.

Além disso, ele falou no combate à concentração de renda para a diminuição da criminalidade e, também, na unificação das polícias, sua desmilitarização e controle pela população. Por último, vale destacar a promessa de criação de uma empresa municipal de transporte público sob o controle dos usuários e dos trabalhadores do segmento. Um dos objetivos seria a redução das tarifas para um real.




0 comentários: