Navigation Menu

Título sem culpa




Por Lucas Bastos

O Fluminense é o Campeão Brasileiro de 2012. O Tricolor carioca atingiu 76 pontos, dez a mais que o Grêmio (66) e onze a mais que o Atlético-MG (65), fazendo-o levar o título três rodadas antes do fim do campeonato. Inúmeras análises táticas poderiam ser traçadas em cima desse time vitorioso, mas só o que se ouve e o que se lê nos programas esportivos é sobre a polêmica arbitragem brasileira e sua possível influência na tabela. Por que será que ultimamente todas as discussões futebolísticas circundam esse tema?






Futebol é uma paixão nacional. E uma paixão é algo irracional, que mexe com as convicções mais profundas de um sujeito. É aquela linha tênue entre amor e ódio. Adicione rivalidade a essa mistura, e você terá resultados explosivos. Qualquer vitória é motivo de festa desenfreada. A mais simples das derrotas é tão devastadora que precisa de uma explicação plausível para conseguirmos aceitá-la. Mas nem tudo na vida tem um porquê simples. E no desespero, os torcedores acabam terceirizando a culpa. Parabéns, árbitro, você é o mordomo da história.


Claro que a arbitragem tem contas a prestar. Em pleno 2012, a FIFA não aceita o uso de tecnologia no futebol. Isso faz com que erros absurdos continuem ocorrendo, inclusive em competições de nível internacional, como no jogoAlemanha x Inglaterra, pelas quartas de final da Copa do Mundo de 2010, no qual a seleção inglesa não teve um gol validado porque o bandeirinha não viu que a bola havia ultrapassado a linha de fundo. Inclusive a entidade máxima do futebol parece gostar de suscitar polêmicas. Ao adotar o uso de mais dois auxiliares, estrategicamente posicionados nas linhas de fundo para evitar novos equívocos, ela conseguiu fazer com que os espectadores tivessem mais um tópico de discussão: a sanidade mental dos seus diretores. Ninguém até hoje conseguiu provar a eficácia dessa medida, e, sinceramente, duvido que consigam no futuro.


Quando focamos no caso brasileiro, a situação não fica melhor. Recentemente, a ANAF (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol) respondeu a críticas feitas pelo Botafogo com uma carta bastante controversa, na qual atacava diretamente o clube e mostrava-se pouco disposta a travar um diálogo sobre seus possíveis erros. Há mais tempo, mais precisamente em 2005, tivemos o ápice da vergonha: o caso Edilson. No Brasileirão do mesmo ano, 11 jogos foram anulados e tiveram de ser jogados novamente devido à descoberta de um esquema de manipulação de resultados que visava beneficiar apostadores. Edilson Pereira de Carvalho era um dos juízes envolvidos na chamada “Máfia do Apito” e foi banido do futebol, o que não foi suficiente para dar mais credibilidade à arbitragem nacional.


Junte esses fatores ao péssimo preparo exibido pelos homens do apito no mundo inteiro, e o que temos? Paranoia. Impedimentos milimétricos viram falhas inaceitáveis. Lances de interpretação transformam-se em favorecimento ao clube X ou Y. Os torcedores entram no estádio já desconfiados e esperando a primeira oportunidade para crucificar o juiz. E a própria imprensa esportiva ecoa esse tipo de comportamento, muitas vezes utilizando polêmicas desse gênero como pauta de matérias e minimizando boas atuações da (agora equipe) de arbitragem.


Foi exatamente esse tipo de fenômeno, que nunca havia sido visto em tamanha proporção, que atingiu a reta final do Brasileirão 2012 (podemos colocar nesses termos, já que agora não resta muito para se decidir no campeonato). O país inteiro (exceto os tricolores cariocas) condena o desempenho do Fluminense no campeonato alegando favorecimento da arbitragem. Há de se encontrar um pouco de razão nas reclamações, já que, por exemplo, na partida Ponte Preta x Fluminense, as ações dos árbitros foram cruciais para o resultado positivo do campeão. Mas também há de se pensar que esse tipo de comportamento prejudica a todos os envolvidos, seja quem apita ou joga, pois a pressão causa um desgaste psicológico tão grande que induz o sujeito ao erro.


Pode ser que exista um grande esquema para favorecer o Fluminense ou para prejudicar o Atlético MG. Mas enquanto não provarem nada, o que se pode fazer é deixar as polêmicas de lado e parabenizar o Campeão Brasileiro pela bela campanha. Mas se você quiser se recusar a tomar essa atitude porque considera que os jogos cruciais são comandados por árbitros de índole duvidosa, fique à vontade, é um direito seu. O que não dá é considerar essa paranoia como inerente ao esporte, uma espécie de tempero a mais nessa mistura. Futebol é diversão, e não há nada divertido em mania de perseguição.


O Brasileirão pede um pouco menos de paranoia e um pouco mais de respeito. E, caso você seja torcedor do Fluminense, um pouco mais de comemoração também é uma boa.

0 comentários: