Alternativas para diminuir lacuna histórica, projetos governamentais de fomento ao esporte apresentam deficiências
Por Leonardo Pimentel
Os próximos Jogos Olímpicos já têm data e local: 2016, no Rio de Janeiro. Muitos jovens brasileiros sonham em representar o país na próxima edição do maior evento esportivo do planeta. Mesmo assim, não encontram incentivo nas escolas, onde o acesso à prática esportiva não é democratizado. Então, eles têm de recorrer a projetos como o Suderj Rio 2016, programa da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro que oferece atividades esportivas gratuitas em núcleos espalhados por todo o Estado. O projeto busca disseminar os mais variados esportes olímpicos à população, para criar uma atmosfera dos Jogos na futura sede. “O objetivo é de integração, não de formação de atletas, mas, caso haja algum talento, é encaminhado para os clubes”, disse o professor Carlinhos, supervisor do projeto. “O programa também busca apresentar variados esportes que vão estar nas Olimpíadas para que a população se familiarize com eles”.
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Crianças treinam jiu-jítsu na favela Buraco do Boi, em Niterói |
O professor do núcleo, Eduardo Teixeira, conta que exige boletim escolar de todos os alunos, mas afirma que isso não é regra preestabelecida nos núcleos. “Eu peço boletim, mas cada professor tem seu critério. Há núcleos em regiões carentes em que o jovem vem para o esporte e, a partir daí, há um trabalho para que ele frequente a escola”, afirma.
É o caso da turma de jiu-jítsu da favela Buraco do Boi, também em Niterói, que ainda recebe aulas de futebol e ginástica. Como a região é conflagrada pela violência, a prática esportiva serve como uma válvula de escape ao cotidiano difícil daquelas crianças, que têm no esporte uma perspectiva de cidadania e de um futuro melhor. Há três anos, a Associação de Moradores da comunidade convidou o professor Joilson Ramos para dar aulas de jiu-jítsu para as crianças da região. Há um ano, a Suderj incluiu a favela Buraco do Boi como um núcleo do projeto, mas as aulas da luta ficaram sem a verba porque o jiu-jítsu não é uma modalidade olímpica, ao contrário do futebol e da ginástica. Joilson tem cerca de 80 alunos e precisa se virar para obter dinheiro e tocar a empreitada. Ele faz recolhimento de garrafas pet, papelão e latinhas na comunidade e também busca parcerias, como a que fez, há três meses, com Flávio Cabral, da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA). O apoio viabilizou a criação de uma oficina paralela de luta olímpica para as crianças, que frequentam campeonatos e dispõem de apoio financeiro e logístico da CBLA.
Regulamentada em 2007, a Lei de Incentivo ao Esporte é outra ferramenta de inclusão do Governo Federal que representa avanços, mas também gera contestações. A lei oferece às empresas que financiam projetos de âmbito esportivo uma contrapartida em benefícios fiscais, ou seja, o dinheiro que a empresa pagaria como imposto é revertido em prol de algum projeto esportivo, especialmente de cunho social. Entretanto, há polêmicas quanto ao critério da Comissão Técnica do Ministério do Esporte, que analisa as iniciativas que pleiteiam o benefício. Ela coloca, no mesmo plano, projetos sociais que necessitam dos recursos para existir e projetos que, a priori, não precisariam recorrer à lei. É o caso de Pietro Fittipaldi, de 15 anos, piloto da Nascar, que mora nos EUA e é neto de Emerson Fittipaldi. O campeão da F1 se valeu do direito legal de apresentar uma proposta de financiamento da carreira de Pietro através da isenção fiscal de sua empresa. A proposta, aprovada há quatro meses pela Comissão, gerou muita polêmica à época. Em resumo, essa lei dá margem aos dois lados e precisa ser revista a fim de priorizar projetos que realmente necessitem dos recursos.
Outra política federal de fomento ao esporte é o Bolsa-Atleta. Criado em 2005, o programa também gera discussões. Inicialmente restrito a pessoas de baixa renda, para que pudessem se manter no esporte, esse ano o programa foi aberto a atletas de alto rendimento que já possuem patrocínios. Nomes como o iatista Robert Scheidt, as saltadoras Maurren Maggi e Fabiana Murer e as ginastas Jade Barbosa e Daniele Hypólito, por exemplo, agora se beneficiam da verba federal. Entre as categorias do programa, o menor incentivo é dado a atletas das categorias estudantil e de base, que recebem R$ 370 por mês. Para atletas nacionais, a bolsa é de R$ 925, enquanto para internacionais chega a R$ 1.850. O maior patamar está nos representantes olímpicos e paralímpicos: R$ 3,1 mil. Para esportes não olímpicos, o valor cai drasticamente e equivale a 15% da renda mensal do atleta.
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Sucesso da China
Recorrente no topo do Ranking de Medalhas das Olimpíadas, a China evoluiu no cenário esportivo mundial porque conta com uma política de incentivo ao esporte bem definida. Existem no país cerca de 310 colégios esportivos que garimpam chineses a partir dos seis anos nos colégios convencionais, de acordo com o biotipo, aptidão e interesse pelo esporte. Essas verdadeiras fábricas de atletas são bancadas pelo governo e abrigam aproximadamente 130 mil chineses que estudam pela manhã e, à tarde, dedicam-se ao esporte. O projeto olímpico chinês começou a aparecer nos Jogos de Barcelona, em 1992, quando o país conseguiu o quarto lugar geral, com 16 medalhas de ouro. De lá para cá, a China só cresceu e nos Jogos de Pequim, obteve 51 medalhas de ouro, superando os Estados Unidos e liderando o quadro geral. Desta vez, nas Olimpíadas de Londres, a China conseguiu 38 medalhas de ouro e, apesar da queda, ficou em segundo lugar, afirmando-se como potencia esportiva.
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