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Precarização Olímpica


Alternativas para diminuir lacuna histórica, projetos governamentais de fomento ao esporte apresentam deficiências


Por Leonardo Pimentel


Os próximos Jogos Olímpicos já têm data e local: 2016, no Rio de Janeiro. Muitos jovens brasileiros sonham em representar o país na próxima edição do maior evento esportivo do planeta. Mesmo assim, não encontram incentivo nas escolas, onde o acesso à prática esportiva não é democratizado. Então, eles têm de recorrer a projetos como o Suderj Rio 2016, programa da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro que oferece atividades esportivas gratuitas em núcleos espalhados por todo o Estado. O projeto busca disseminar os mais variados esportes olímpicos à população, para criar uma atmosfera dos Jogos na futura sede. “O objetivo é de integração, não de formação de atletas, mas, caso haja algum talento, é encaminhado para os clubes”, disse o professor Carlinhos, supervisor do projeto. “O programa também busca apresentar variados esportes que vão estar nas Olimpíadas para que a população se familiarize com eles”.














Crianças treinam jiu-jítsu na favela Buraco
do Boi, em Niterói 


No núcleo de vôlei da Praça do Barreto, em Niterói, há 32 alunos inscritos. Fabiana e Vitória, de 14 anos, e Priscila, 15, são alunas assíduas do projeto. “A gente fica triste quando chove ou quando não tem aula. Contamos as horas para vir até aqui jogar”, conta Vitória, que espera um dia se tornar profissional. “Seria um sonho participar das Olimpíadas!”.


O professor do núcleo, Eduardo Teixeira, conta que exige boletim escolar de todos os alunos, mas afirma que isso não é regra preestabelecida nos núcleos. “Eu peço boletim, mas cada professor tem seu critério. Há núcleos em regiões carentes em que o jovem vem para o esporte e, a partir daí, há um trabalho para que ele frequente a escola”, afirma.


É o caso da turma de jiu-jítsu da favela Buraco do Boi, também em Niterói, que ainda recebe aulas de futebol e ginástica. Como a região é conflagrada pela violência, a prática esportiva serve como uma válvula de escape ao cotidiano difícil daquelas crianças, que têm no esporte uma perspectiva de cidadania e de um futuro melhor. Há três anos, a Associação de Moradores da comunidade convidou o professor Joilson Ramos para dar aulas de jiu-jítsu para as crianças da região. Há um ano, a Suderj incluiu a favela Buraco do Boi como um núcleo do projeto, mas as aulas da luta ficaram sem a verba porque o jiu-jítsu não é uma modalidade olímpica, ao contrário do futebol e da ginástica. Joilson tem cerca de 80 alunos e precisa se virar para obter dinheiro e tocar a empreitada. Ele faz recolhimento de garrafas pet, papelão e latinhas na comunidade e também busca parcerias, como a que fez, há três meses, com Flávio Cabral, da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA). O apoio viabilizou a criação de uma oficina paralela de luta olímpica para as crianças, que frequentam campeonatos e dispõem de apoio financeiro e logístico da CBLA.


Benefícios Fiscais



Regulamentada em 2007, a Lei de Incentivo ao Esporte é outra ferramenta de inclusão do Governo Federal que representa avanços, mas também gera contestações. A lei oferece às empresas que financiam projetos de âmbito esportivo uma contrapartida em benefícios fiscais, ou seja, o dinheiro que a empresa pagaria como imposto é revertido em prol de algum projeto esportivo, especialmente de cunho social. Entretanto, há polêmicas quanto ao critério da Comissão Técnica do Ministério do Esporte, que analisa as iniciativas que pleiteiam o benefício. Ela coloca, no mesmo plano, projetos sociais que necessitam dos recursos para existir e projetos que, a priori, não precisariam recorrer à lei. É o caso de Pietro Fittipaldi, de 15 anos, piloto da Nascar, que mora nos EUA e é neto de Emerson Fittipaldi. O campeão da F1 se valeu do direito legal de apresentar uma proposta de financiamento da carreira de Pietro através da isenção fiscal de sua empresa. A proposta, aprovada há quatro meses pela Comissão, gerou muita polêmica à época. Em resumo, essa lei dá margem aos dois lados e precisa ser revista a fim de priorizar projetos que realmente necessitem dos recursos.


Outra política federal de fomento ao esporte é o Bolsa-Atleta. Criado em 2005, o programa também gera discussões. Inicialmente restrito a pessoas de baixa renda, para que pudessem se manter no esporte, esse ano o programa foi aberto a atletas de alto rendimento que já possuem patrocínios. Nomes como o iatista Robert Scheidt, as saltadoras Maurren Maggi e Fabiana Murer e as ginastas Jade Barbosa e Daniele Hypólito, por exemplo, agora se beneficiam da verba federal. Entre as categorias do programa, o menor incentivo é dado a atletas das categorias estudantil e de base, que recebem R$ 370 por mês. Para atletas nacionais, a bolsa é de R$ 925, enquanto para internacionais chega a R$ 1.850. O maior patamar está nos representantes olímpicos e paralímpicos: R$ 3,1 mil. Para esportes não olímpicos, o valor cai drasticamente e equivale a 15% da renda mensal do atleta.


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Sucesso da China





Recorrente no topo do Ranking de Medalhas das Olimpíadas, a China evoluiu no cenário esportivo mundial porque conta com uma política de incentivo ao esporte bem definida. Existem no país cerca de 310 colégios esportivos que garimpam chineses a partir dos seis anos nos colégios convencionais, de acordo com o biotipo, aptidão e interesse pelo esporte. Essas verdadeiras fábricas de atletas são bancadas pelo governo e abrigam aproximadamente 130 mil chineses que estudam pela manhã e, à tarde, dedicam-se ao esporte. O projeto olímpico chinês começou a aparecer nos Jogos de Barcelona, em 1992, quando o país conseguiu o quarto lugar geral, com 16 medalhas de ouro. De lá para cá, a China só cresceu e nos Jogos de Pequim, obteve 51 medalhas de ouro, superando os Estados Unidos e liderando o quadro geral. Desta vez, nas Olimpíadas de Londres, a China conseguiu 38 medalhas de ouro e, apesar da queda, ficou em segundo lugar, afirmando-se como potencia esportiva.


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