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Editorial n° zero: abram portas e janelas

Fazer ressurgir o papel pintado na própria casa. A ideia nasceu de uma simples, mas bem justificada inquietação: por que estudantes de Comunicação não podíamos desenvolver uma publicação periódica impressa? Nada mais justo para um Instituto de Artes e Comunicação Social do que um jornal próprio - ainda que com cara de revista - feito pelos e para os próprios estudantes e quem mais nos cerca. Arriscamos, por isso, coisa humana e pequena, concebida em folhas que abusam e intimam à leitura, pedem dobradura e já se conhecem amassadas no lixo. Um nobre retrocesso num mundo de informações em vendaval.




Para tanto, uma janela precisava ser destrancada.




Vasculhamos o passado e descobrimos bons exemplos para aquilo que nos movia. Noutros tempos, diferentes títulos, em diversos formatos e gramaturas, deram vida ao campus da Lara Vilela. Alguns extrapolaram os portões da universidade: alcançaram os bares e ônibus de Niterói e, aos trancos e barrancos, deixaram legado. Fizeram história nos anos 90. O pequeno SACI se firmou como o “jornal com um pé no chão” e o irreverente Aliás, teve o nome rapado – com vírgula e tudo – pelo covarde Estadão. E, no fim daquela década vimos nascer O Casarão, imponente nas densas matérias em papel A3, e que agora reencarna em menos páginas, mas com a mesma liberdade.




O contato com esses trabalhos deu fôlego ao que já tinha ímpeto. Por vezes, fomos a Marte em um dia: imaginamos coloridas páginas recheadas com majestosas reportagens. Conseguimos oito páginas em preto e branco que não comportam histórias tão longas, mas foram feitas com muito esmero. As muitas reuniões – encontros nas casas de uns e outros, sempre acompanhados de bolo, ou na sala de leitura da tranquila Casa França-Brasil, seguida de cerveja pelos paralelepípedos da Rua do Ouvidor – deram corpo ao imaginário transformador. Demos muito tempo ao tempo, é verdade. E nos surpreendemos com as casualidades bressonianas. A abertura do Edital para Produtos Estudantis pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFF – PROAES, com o qual acabamos agraciados, não poderia acontecer em melhor momento. Hoje entregamos o primeiro de três números com financiamento garantido.




O escultor francês Auguste Rodin disse, certa vez, que “o que se faz com o tempo, o tempo respeita”. E mesmo que pareça presunçoso, é preciso considerar: fomos respeitados pelo tempo. O resultado talvez não tenha sido como o imaginado. Limitações de toda espécie impediram a concretização de diversas metas. Mas dormimos com a certeza de que esta edição de abertura é apenas a primeira gota no copo que um dia transbordará, a janela que se abre. Com o tempo, alcançaremos novos horizontes, pois como bem rabiscou Oscar Wilde: “um mapa do mundo que não inclua a utopia não é digno de se admirar”.




Neste número 1, demos espaço a narração e descrição. Como carro-chefe, uma reportagem sobre a greve nas universidades federais, numa abordagem que se pretende reflexiva e assertiva diante do vazio da grande mídia. Passeamos ainda, com jogo de cintura, por temas como as eleições à prefeitura e a violência na cidade de Niterói. E para ninguém dizer que não sorriu, trouxemos uma volta pela cena do entretenimento alternativo da cidade. Tudo isso cerejado pela seção Alhos e bugalhos, que dá asas à criatividade e traz investidas literárias dos colaboradores.




De fato, mexer em água parada exige esforço. Como “atividade do dia”, o jornalismo pode, e deve, ser o espaço da liberdade. (Ou seria de construção da liberdade?). É por isso que todos – estudantes, funcionários, professores, gatos e vira-latas, ratos e baratas – estão convocados a construir, de maneira coletiva, novos modos de olhar e comunicar, longe dos imperantes ditames mercadológicos.




E num exercício de inspiração, reconhecemos que passado e futuro se imbricam numa teia tênue para formar o tempo presente. Portanto, bebamos passado, deglutamos presente e urinemos futuro! Como já dizia o editorial da edição n° zero de Aliás,:“Depois de muito pensarmos sobre o jornalismo e o papel de uma escola que forma jornalistas, resolvemos arriscar uma experiência que se pretende questionadora dos modelos de produção valorizados nessa área. E se dizemos que esse novo/velho casarão é do tamanho do nosso sonho, queremos sugerir possibilidades infinitas para um projeto que só se justifica se estiver em permanente transformação”.



Boa leitura. Entre e não feche a porta!


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