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Resenha: Orgulho e Preconceito

Por Camille Velloso


Com recém completos 200 anos, a obra "Orgulho e Preconceito" de autoria da escritora inglesa Jane Austen ainda na era de "Cinqüenta tons de cinza" é sucesso entre os leitores. O livro é um clássico que perdura e se perpetua mesmo após dois séculos, com um crescente estrondoso de fãs.

 




Publicada em 1813, sob o título "First Impressions", a obra narra o romance conflitante entre duas personagens pertencentes a mundos sociais distintos: Elizabeth Bennet, nascida em família pouco abastada, e Fitzwilliam Darcy, homem da alta sociedade detentor de grande fortuna e orgulho. A estória, situada na Inglaterra do final do século XVIII, traz a tona de forma perspicaz e esclarecedora a figura e papel da mulher na sociedade da época, em que seu único propósito era o de se casar e constituir família.




Lizzy, Elizabeth Bennet, a segunda dentre cinco filhas de um casal de condições mais simples, se vê em dado momento obrigada a se casar com um primo para salvar a família, prática comum na época. Mas toda a perspicácia e bravura da jovem a levam a enveredar por um caminho pouco usual para a figura feminina, que não possuía voz, em busca do que seria o seu tipo de final feliz. Elizabeth é, a despeito de tudo, uma heroína que rompe com os estereótipos de sua sociedade. É através desta personagem que Jane Austen faz suas mais mordazes críticas.




Desde o primeiro encontro com Mr. Darcy, Lizzy experimenta o incômodo causado pelo abismo social que os distingue. Não meramente pela questão da fortuna, mas pela antipatia e preconceito que alimentam o orgulho do homem distinto e impassível que se molda diante de seus olhos. Mr. Fitzwilliam Darcy, detentor da mais invejada propriedade e riqueza, vê em Elizabeth Bennet uma figura de altivez e inquietude raras, algo capaz de arruinar uma dama na sociedade da época, o que se perfaz na forma como a jovem o confronta sem nenhum pudor e sem submeter a própria opinião a dele ou de quem quer que seja.




O romance se desdobra entre a descoberta das personagens por si e através do outro. Dentre conflitos causados pelas pessoas e familiares que os cercam, Elizabeth e Darcy descobrem a si próprios e o impacto que um pré julgamento pode ter em relações futuras. Página a página é possível se notar que há um crescimento das personagens que permite ao leitor enxergar as problemáticas da época levantadas por Austen.




Jane, conhecida por ser impassível e mordaz em suas narrativas traz em "Orgulho e preconceito" um romance que vai além. Não se trata de uma narrativa feita para mera fruição de um romance, mas para criticar e atentar para a postura feminina, de futilidade, incentivada pela sociedade. Através de Elizabeth Bennet, Austen descaracteriza toda e qualquer pretensão de uma heroína suscetível ou mesmo submissa as expectativas da época.




É possível se ver em cada personagem um estereótipo da sociedade em que a própria autora viveu. As críticas sutis se entrelaçam ao romance entre Elizabeth Bennet e Mr. Darcy, dando maior profundidade a narrativa da obra. Trata-se de uma construção mais concisa e enredada que traz às personagens traços mais humanizados que fogem ao tom excepcional enfadonho de protagonistas clássicos.








É um romance clássico sim, mas que não se limita a superficialidade de se contar uma estória, há a preocupação de fazê-lo de forma a incentivar maior reflexão sobre os estereótipos e arquétipos tão bem traçados pela autora. Prova disso é que as temáticas abordadas por Jane Austen permanecem atuais mesmo após quase 200 anos de sua morte. Se as vestimentas e indumentárias dos tempos de Elizabeth e Mr. Darcy mudaram de lá para cá, certas temáticas e problemáticas permanecem as mesmas.




Um grande forte deste romance se faz nos diálogos, sempre concisos e intensos, principalmente os das protagonistas. A leitura da obra de Austen proporciona ao leitor um mergulho na Inglaterra do século XVIII e em uma narrativa simples, mas com uma linguagem mais trabalhada sem se tornar pesada ou tediosa. A linguagem acaba se tornando um ponto com dois lados: o positivo, de se permitir sair da zona de conforto e ler algo mais intenso, trabalhado e diferente mesmo das propostas que se tem atualmente; e o negativo, de ser algo pouco difundido no mercado atual, na era dos romances mais leves, já que a autora oferece algo diferente.




O romance entre Elizabeth Bennet e Mr. Darcy, narrado em "Orgulho e preconceito", se tornou a obra mais conhecida da autora e a que teve maior número de adaptações: dois filmes, em 1940 e 2005; três filmes feitos para a televisão inglesa, em 1938, 1952 e 1958; e três minisséries, nos anos de 1967, 1980 e 1995, para a BBC. E as mais recentes, o livro de Seth Grahame-Smith "Orgulho e Preconceito e Zumbis", de 2009; e “Eu fui a melhor amiga de Jane Austen”, de 2011 da autoria de Cora Harrison, baseado no diário de Jenny Cooper, prima de Jane Austen.




Trata-se de um romance para suspirar, corar e mergulhar de cabeça no clássico com a pitada de crítica bem humorada característica da autora inglesa. O livro que narra o romance de Elizabeth Bennet e Mr. Fitzwilliam Darcy é um convite para o mundo das contradanças, bailes, carruagens, propriedades e asmais puras, perspicazes e envolventes estórias de amor já narradas. E é esta a razão, em conjunto com a temática crítica atual abordada, que tem perpetuado “Orgulho e preconceito” e o nome de Jane Austen como partes impreteríveis e incontestáveis do romance inglês.




Um pouco mais sobre Jane Austen





Nascida em 1775 em Steventon-Hampshire, Inglaterra, Jane Austen ficou conhecida como o segundo maior nome da Literatura inglesa, vindo apenas atrás de William Shakespeare. Impulsionou o romance inglês para a modernidade ao tomar como tema o cotidiano de pessoas da sociedade a qual freqüentava e pertencia, levantando reflexões com suas críticas sutis e até engraçadas. Inovou ainda ao dar voz a mulher de sua época com personagens femininas fortes, críticas e menos submissas.




A autora teve publicados seis romances: "Orgulho e Preconceito", "Persuasão" ,"Razão e Sensibilidade", "Mansfield Park", "Emma" e "A abadia de Northanger”; todos adaptados para o cinema. Além de suas obras e romances, a autora teve ainda a própria vida adaptada para as telonas em títulos como: “Miss Austen Regrets” e “Becoming Jane”, este último traduzido para “Amor e Inocência”.

2 comentários:

  1. […] A minha querida amiga Camille Velloso, escreveu uma resenha para o site do Jornal O Casarão (da UFF) que traz uma boa análise e mais sobre a autora. Confira. […]

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  2. […] Sua mãe gosta de falar que os romances arruinaram Amelia para homens reais. O comentário insulta Amelia porque insinua que ela só lê livros com heróis românticos clássicos. De vez em quando até que curte, mas seu gosto literário é bem mais variado. Além disso, adora  Humbert Humbert como personagem, mas aceita o fato de que não iria querê-lo como parceiro, namorado ou até como um casinho. Sente o mesmo por Holden Caulfield, sr. Rochester e Darcy. […]

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