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As duas faces de Reginaldo

Após quase 30 anos afastado da direção cinematográfica, Reginaldo Faria pôde, enfim, assitir a estreia de seu oitavo filme, 'O Carteiro'


Por Gustavo Cunha


As gerações mais novas o conhecem apenas como um grande ator. Um senhor ator, com todos os sentidos que a palavra agrega. Não há como esquecer do pilantrão Marco Aurélio, de ‘Vale Tudo’, clássico da teledramartugia brasileira exibido entre 1988 e 1989. Aos 75 anos, Reginaldo Faria não cansa de cultivar sonhos. Um deles se materializou na semana passada, com o lançamento do filme ‘O Carteiro’, dirigido por um Reginaldo também cineasta.


Afastado da direção de cinema desde 1984, quando rodou a comédia ‘Aguenta Coração’, Reginaldo pôde, enfim, assistir a estreia do seu oitavo filme, mesmo que em poucas salas. A felicidade foi ainda maior, já que ele teve o privilégio de trabalhar ao lado dos dois filhos, Marcelo e Candé. “Na nossa família, esse ato de trabalhar juntos já é feito há algum tempo. É como se fôssemos uma família de camponeses, em que cada um faz a sua parte, todos trabalhando na função que lhes compete”, comparou, lembrando que o sobrinho cineasta Maurício Farias também está em cartaz com a comédia ‘Vai Que Dá Certo’.


O ator-diretor acredita que ambos os filhos seguiram naturalmente pelo caminho artístico. “Não influenciei em nada na escolha deles. Nunca fiz nenhum tipo de pressão. Se um filho demonstrava interesse em participar de um trabalho que eu estava envolvido, eu dizia ‘então tá, vamos lá’. Mas nunca impus nada, de maneira alguma”, explicou.

[caption id="attachment_488" align="aligncenter" width="470"]Marcelo Faria interage com o pai durante as gravações de 'O Carteiro' Marcelo Faria interage com o pai durante as gravações de 'O Carteiro'[/caption]

Marcelo, que hoje tem 41 anos, começou na televisão em 1984, na minissérie ‘A Máfia no Brasil’, protagonizada pelo pai. Mas a fama e o reconhecimento vieram apenas na década seguinte, com o personagem Ralado, da novela ‘Quatro por Quatro’. O caçula Candé, a quem Reginaldo faz sempre questão de chamar Carlos André, iniciou a carreira no teatro, depois de fazer o curso de artes cênicas na Casa de Artes de Laranjeiras, a CAL. Em 2010, fez uma participação especial em ‘Malhação Id’, ao interpretar João, um personagem viciado em crack.

“Foi muito bom trabalhar com o meu pai. No set, rolaram coisas que não aconteceriam se o meu pai não fosse o diretor. Lembro de uma cena em que disse: 'caralh*, peraí, pai. Para fazer essa cena, eu preciso de uns 10 minutos de preparação!'. Se não fosse ele, com certeza, não poderia agir dessa maneira”, afirmou Candé, entre muitos risadas. O papel principal inicialmente seria de Marcelo. Mas como o ator - agora de férias, em viagem pelo exterior - acabou se envolvendo com outros trabalhos, Reginaldo se viu praticamente obrigado a oferecer o personagem ao filho caçula, de 27 anos. “O desafio foi grande. Fiquei com medo de fazer logo um protagonista”, confessou Candé, que teve como recompensa o privilégio de trabalhar ao lado da mulher, Dany Stenzel, também atriz, na época grávida de quatro meses. “Foi um trabalho realmente em família”, brincou.

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A história se passa na década de 1980, no pequenino Vale Vêneto, distrito gaúcho inscrito no município de São João do Polêsine. O romântico carteiro Vitor (interpretado por Candé) tem o indevido hábito de violar a correspondência alheia. Nessa brincadeira, acaba se apaixonando por Marli (Ana Carolina Machado), nova moradora da cidade. Ao descobrir que a donzela cultiva um romance à distância com um rapaz do Rio de Janeiro, passa a interferir diretamente na relação dos dois. Disso, surgem situações cômicas e ingênuas, que remetem o público a cenas de clássicos da comédia italiana.

“O filme traz esse espírito da pequena cidade. No mundo de hoje, existe algo que me intriga muito. A facilidade da eletrônica, ao mesmo tempo que aproxima as pessoas, também as afasta. E isso me incomoda! Uma vez, por exemplo, saí com cinco pessoas para jantar, e todas, no momento em que se sentaram à mesa, pegaram os celulares”, afirmou, em tom de protesto.

E é mesmo esse Reginaldo, revoltado com a rapidez do mundo moderno, que se vê nas telonas. Um Reginaldo friburguense que, além de ator e diretor, é também compositor da trilha sonora principal do filme - “Aos 13 anos, vim para o Rio de Janeiro estudar violão clássico. Desde então, não parei”. Sobre projetos futuros, mesmo com todas as dificuldades de colocá-los em prática, adianta: “Tenho um novo roteiro pronto. Chama-se ‘Confissões de um Velho Adolescente’. Preciso apenas de recursos financeiros para realizá-lo”.

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