Por Jéssica Monteiro e Roberta Thomaz
Déa Lúcia Amaral é assim: 65 anos, mãe de dois filhos e um bom humor bem familiar. “Meu espirito é livre, liberto de qualquer coisa e alegre. Agora o corpo não adianta: to gorda, obesa, pressão alta, isso ai não tem jeito“.
Às vésperas do Dia das Mães, o Casarão foi bater um papo com a mulher que inspirou “Minha mãe é uma peça”, comédia teatral estrelada pelo seu filho, o ator Paulo Gustavo, e adaptada em filme com estreia prevista para o dia 21 de junho. Confira!
O que tem de "Déa Lúcia" em "Minha mãe é uma peça?"
Meu filho montou a peça em cima de mim, mas não da minha vida. Ele pegou características das mulheres da nossa família. Minha mãe, minha vó, minha filha, somos todas iguais. Ele criou o personagem em cima da figura da Déa Lúcia, “maluca”, como ele achava. Ele nos imitava em todas as festas de família.
Então tudo começou com brincadeiras em as festas de família?
Sim. As mães da família são uma figura muito forte, mais forte que a dos pais. Não sei explicar por quê. Se é personalidade ou loucura – como ele mesmo diz. Ele diz que a mãe dele é maluca, e que ele “dá uma aliviada”, porque sou pior que ele escreveu.
Qual foi a sensação de se ver representada no palco pelo seu filho?
Ah, gente. Não posso nem falar que choro. Foi emocionante. Assisti ao ensaio geral e não acreditei no que estava vendo. Era tudo muito além das imitações. Pensei: “Meu Deus, o que é isso?”.

Mal ou bem, é uma homenagem.
É! Também fiquei muito emocionada com o filme. Mas não posso contar, é surpresa. Só posso dizer que fiquei muito orgulhosa e emocionada. Não sei se é loucura, mas...quando estou com a sensação de que meus filhos estão em perigo, sinto dor na minha cesariana! Sinto um incômodo no corte da cirurgia. Quase morro.
Nossa. Isso é uma sensação muito “mãe”, não?
Pois é! Eu tenho um amor incrível pelos meus filhos. Tenho até medo de mim. Se desse para rosnar, rosnava. Acho até que preciso me controlar, é uma coisa muito forte em mim. Não vejo a vida sem Juliana e Paulo Gustavo. Não saberia viver sem meus dois filhos. Não me vejo nessa vida sem eles.
E o que eles filhos acham de tanta proteção?
Acham um porre. Eles odeiam. Ligo para Paulo Gustavo e Juliana todos os dias. Se ele não chegou de madrugada, já pego o celular! Corro atrás mesmo. Se precisar, bato. Até hoje. Outro dia mesmo dei umas bolsadas nele! Acho que realmente sou meio maluca.
Existe um limite? Até onde uma mãe deve interferir na vida do filho?
Sim, tem limite. Existe um respeito. Procuro não me meter, somente apoiar, tanto nas horas boas quanto nas ruins. Eu estou sempre com eles. Só me meto naquilo que me diz respeito, que na maioria das vezes é a minha preocupação. Coisa de mãe mesmo.
Vocês moram juntos. Como é essa relação?
Mãe morar com filho é diferente de filho morar com mãe. Casa de mãe é casa de filho, mas casa de filho não é casa de mãe. Tenho que respeitar os horários dele, a casa dele. Eu, por exemplo, gosto de casa cheia. Ele não. Enfim, existe um período de adaptação. É diferente! Ele já é um homem feito.
Ainda rola aquela coisa de “mãe, faz um sanduíche”?
Com certeza! Mãe é mãe 24 horas. Ele me avisa quando chega em casa. “Mãe, me acorda cedo amanhã?”. Se você quer ser mãe, ótimo! Mas se quer ter um filho apenas para fechar um ciclo: nascer, crescer, casar, ter filhos... não faça isso! Mãe se entrega de corpo e alma. É assim que eu entendo isso. Largo qualquer coisa para atender eles.
E na época em que a senhora trabalhava fora? Como era?
Aí não tinha como. Eu trabalhei para sustentar meus filhos, mas eles nunca deixaram de ter amor.
Como ficou a relação familiar após o sucesso do Paulo Gustavo?
Esse sucesso todo é só para o público. Dentro de casa, é a mesma coisa, somos mãe e filho. Ele é mal criado e respondão. Continua tudo da mesma forma.
E a senhora? Ficou famosa?
Em Niterói, já me conheciam. Cantei em bailes, casamentos e eventos noturnos por 20 anos. Sempre quis ser artista, mas na minha época as coisas eram mais complicadas. Eu levava meus filhos em algumas apresentações. Eles sentavam na mesinha e ficavam lá! Foram criados no meio da música.
As pessoas te chamam de dona Hermínia?
Sim! Todos os artistas. Fiquei conhecida, gente! Dei algumas entrevistas. Agora você vê! Daqui a pouco vai ficar complicado passar nessa Gavião Peixoto. Outro dia mesmo fui fazer compras, encontrei uma amiga e ela me cumprimentou pelo trabalho e sucesso do meu filho. Logo depois, a vendedora perguntou se eu era a mãe de algum famoso. Respondi: “Famoso nada, minha filha! Isso é onda da minha amiga! A pessoa faz uma coisinha de nada e já fica famosa? Famoso é Tony Ramos!”.
Mas no fundo a senhora gosta, não gosta?
Eu nada! Tenho vergonha. A pessoa trabalha para caramba e eu vou ficar falando que sou mãe de famoso? Se ele fizesse uma novela, eu falava: “é fulano, da novela”. Mas não! É teatro e programa de TV a cabo. Não acho uma posição justa.
E como a senhora se sente no papel de “musa inspiradora”?
No fundo, todas as mães são musas. Todas tem um pouco de dona Hermínia. Só ganhei uma personagem porque era comigo que ele convivia.
Então conta para a gente. Afinal, quem é a Déa Lúcia?
Olha, estou convencida de que sou uma maluca.
Por quê?
Sou a mãe que todo amigo do filho queria ter. Mas o filho não. Sou mãe amiga, confidente, parceira, pronta para qualquer loucura. Os amigos falam: “sua mãe é maravilhosa”. Meus filhos respondem: “não, ela é maluca”. Depois do filme, então, vocês vão ter certeza disso! Até para porteiro eu já liguei pra catar eles dois: “William, você tem três minutos para botar essas crianças dentro do elevador. Se vira!”.
O que é ser mãe pra senhora?
O que é ser mãe? Mãe não existe fórmula. A gente vai aprendendo a ser mãe com os filhos. Quando um filho cresceu, você acha que aprendeu o jeito de ser mãe. Ai você tem outro, e o outro é totalmente diferente. Ai você começa um novo aprendizado. Ser mãe no fundo é um eterno aprendizado de amor. O que diferencia uma mãe de uma outra mulher, é o amor incondicional que mãe tem pelo filho. Essa é a única coisa que é certa, o resto é um eterno aprendizado.
Esperava algumas lágrimas.
Minha filha, Paulo Gustavo odeia que eu chore. Sou maluca, mas também sou “manteiga derretida”. Fernanda Montenegro perde para mim.
Quais são as diferenças entre a Déa Lúcia e a dona Hermínia?
Ela é muito ciumenta. Não sou tão assim. Não faço distinção entre filhos e também não sou brigada com a atual mulher do meu ex marido. Enfim, a personagem tem características minhas, mas não retrata a minha vida.
Soube que, além da dona Hermínia, a Déa Lúcia fez uma participação especial no filme.
Claro! Foi uma exigência minha. Hitchcock passava no filme, por que eu não? Passei, linda, na praia de Icaraí.
E depois do filme? O que vai ser?
Ih, minha filha! Só Hollywood. (risos)
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