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A vez dos desacreditados

[caption id="attachment_1484" align="aligncenter" width="470"] Foto: Luís Pedro Rodrigues[/caption]

Por Daniela Reis


Antes de tudo preciso dizer que esse artigo não pretende responder às inúmeras perguntas que os protestos de junho de 2013 suscitaram, mas, quem sabe, criar mais um monte delas.


Nós nunca levantamos bandeiras. Nunca fomos às ruas. Nunca acreditamos em nada. Nascemos e vivemos com nossos celulares, computadores e outros brinquedos capitalistas. Menos ideologia e mais tecnologia sempre foi nosso lema. Tão pós-modernos que criticamos massivamente o Brasil sem pôr um pezinho longe de casa para cobrar mudanças.  Aprendemos nas escolas todas as conquistas heroicas de nossos pais e avós: Ditadura, opressão, tortura. E em sua versão mais recente e muito menos dolorosa: Collor, caras pintadas, impeachment. Tão distante do mundo egoísta em que aprendemos a viver. Tudo incontestavelmente real, exceto pelo fato de que são apenas meias verdades. Junho veio e nos deixou nus, expostos no meio da rua e gritando.


Então é isso? Demoramos tanto tempo para protestar para, enfim, fazer uma revolução "meia boca"? Discursos vazios, gritos de guerra absurdos. Alguém faça esse gigante voltar a dormir por tudo que é mais sagrado. Por nós, a geração dos profanos. Cegos, surdos e mudos como os três macacos. Macaquinhos de imitação fazendo gracinha com cartazes. Mas, de novo, a verdade possui múltiplos lados.


O que sobrou no pós-modismo das manifestações não foi a mudança radical do país. A Dilma não caiu (felizmente); a máfia dos transportes ainda não foi desmantelada e a mídia hegemônica continua distribuindo seus discursos prontos. Mas surgiu uma consciência coletiva de “ei, não podemos nos acomodar”. Sentar a bunda no sofá aos domingos e assistir Faustão, Domingo Legal ou qualquer uma dessas porcarias que enchem a grade da televisão aberta não é o perfil majoritário da nossa geração.


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Foto: Mídia Ninja


O nosso lugar é na rede, online, conectados. Sim, a internet dissemina uma quantidade absurda de conteúdo fútil/engraçadinho/patético. Mas entre um post e outro há gente discutindo o futuro do país. Usuários alertando para a corrupção, impunidade, projeto de cura gay. Gente apontando o dedo na cara suja da maior parte dos políticos. A onda de manifestações serviu, sim, para muita gente conhecer a PEC 37. Ou discutir Copa, reforma política e royalties para educação.


Nos chamaram de apolíticos, alienados, ignorantes, acomodados. Até o dia em que saímos de nossas casas apra levar gás lacrimogêneo nos olhos. Toda revolução é bonita quando enxergada a distância. Talvez a nossa seja tão bela quanto as que nos sucederam. Ou talvez nada disso possa ser considerado beleza, apenas necessidade. Junho guarda, em si, a potência de se tornar o começo de uma maior conscientização dos brasileiros. Será?

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