Por Luiza Gould e Mayara Mendes
Tudo começa quando a família Ogino decide se mudar. Depois de pegar um túnel, o casal e a filha de dez anos vão parar em um lugar misterioso. A menina então se perde e se vê rodeada de espíritos, ao mesmo tempo em que percebe que seus pais se transformaram em porcos. É aí que ela encontra Haku, um aprendiz de feiticeiro que a ajudará a salvar seus pais e fugir do que parece um sonho. Este é o enredo do filme "A Viagem de Chiriro", do diretor Hayao Miyazaki. A animação japonesa de 2001 ganhou o Urso de Ouro em 2002 e o Oscar da Animação em 2003.
A história parece só um desenho, mas, na verdade, fala sobre as fases da vida e até mesmo sobre capitalismo. Antônio Moreno, professor de animação da Universidade Federal Fluminense, explica que as animações cada dia mais têm esta característica: são voltadas tanto para o público infantil quanto para o adulto.
Moreno tem conhecimento sobre o assunto para falar sobre este novo rumo da animação. Seus trabalhos, inclusive, confirmam que o público desta arte deixou de ser formado só pelas crianças.
Em seu filme "Verdes ou Favor não comer a grama", Antônio Moreno fala sobre a importância da área verde em uma comunidade. Outros trabalhos como "Reflexos" e "Eclipse" também se destacam em sua carreira.
Em "Reflexos", Moreno ilustrou a peça musical "O Canto do Cisne Negro", composição de Vilas Lobo, enquanto o animador Pedro Ernesto Stiplen, o Still, ilustrou a música "Dança Brasileira", de Camargo Guarnieri. “Foi um filme muito feliz e ganhamos alguns prêmios com esta montagem”, lembra o professor.
Já "Eclipse" é considerada a obra mais marcante para Moreno. O curta traz um poema latino-americano que fala do Brasil e da América Latina nas décadas de 60, 70 e 80. Antônio Moreno descreve "Eclipse" como um filme pesado em termos de imagem, cor e animação. “É um tipo de filme que você ama ou odeia. Outra coisa é que você pode vê-lo em duas versões: só imagem ou só narração”, conta. A produção ganhou menção especial do júri do Festival de Gramado de 1885 pelo seu “ousado caráter experimental”. Confira aqui a animação "Eclipse".
Outra vertente que começa a ter espaço na área é o chamado documentário de animação. Para exemplificar esse novo tipo, que aborda temas reais, Moreno cita os filmes "Persepolis", de Marjore Strapi e "Valsa com Bachir", de Ari Folman. O primeiro, por exemplo, é um filme francês feito por uma iraniana que fala sobre como viver entre duas culturas.
Mas, apesar de todo o crescimento da animação, no Brasil ainda há dificuldades na área. Moreno cita três delas: a falta de cursos voltados para animação, a dependência de editais e a dominação norte-americana.
Quanto aos cursos, o professor destaca que a formação dos animadores costuma ser autodidata por não existirem escolas de animação. Já sobre os editais para a produção, Moreno explica: “Os editais possuem o ponto positivo de incentivar a produção nacional indo contra o domínio norte-americano. No entanto, os cineastas ficam reféns desses editais, o que faz os projetos só irem para frente depois de uma aprovação, o que nem sempre é fácil.’’
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Os desafios são grandes, mas não são impossíveis. Prova disso é a boa perspectiva que o professor faz para o futuro da animação, cada vez mais influenciada pela tecnologia: “O que se desenha para o futuro é um mundo virtual explícito que nunca foi possível imaginar ou transpor de certas obras. Filmes com o clima ou espaço por onde trafega "Alice no país das Maravilhas", por exemplo, que dão campo para que você possa entrar nesses mundos mais impossíveis de serem transpostos para a tela, que antes só ficavam na imaginação’’.
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