Por Bruno Roncada, Lucas Bueno, Jefferson Júnior e Matheus Lopes
A proximidade dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro surge como uma ótima oportunidade de fomentar a prática do remo em águas brasileiras. Mas o que era para ser motivo de esperança acaba sendo visto com desconfiança por quem conhece o remo de perto. “A única coisa que a gente podia apontar que era para melhorar muito é o fato de a gente ter virado sede de uma Olimpíada. Os patrocinadores apareceram, começou a se movimentar mais dinheiro, mas eu vou ser muito honesto, o trabalho está sendo muito fraco”, diz Alexandre Monteiro, técnico do Botafogo.
A experiência recente do Pan-americano também serve de argumento para os profissionais. Apesar de o Rio de Janeiro ter sediado a principal competição esportiva das Américas, não ficou para o remo o chamado legado, mesmo tendo sido gasto uma quantidade significativa de dinheiro. “Se gastou só ali no Estádio de Remo mais de doze milhões de reais. Se implodiu uma arquibancada alegando que ela era ruim para a visibilidade. Mentira. Se implodiu uma arquibancada para se fazer um cinema, um objetivo particular”, conta o treinador do Vaso, Marcelo Neves dos Santos. “Não se fez sequer um dormitório, uma sala de musculação, uma cozinha, um refeitório, que pudesse ser o início de um centro de treinamento”, emenda.
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- Alexandre Monteiro, técnico da equipe de remo do Botafogo, fala o que pensa sobre a possibilidade das Olimpíadas de 2016 melhorarem a estrutura do remo no Brasil.
- O presidente da Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro, Paulo Roberto de Carvalho, fala sobre a importância do legado olímpico para a melhoria da estrutura do remo.
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As obras feitas no Estádio de Remo para o Pan, localizado na Lagoa, também recebem críticas dos apaixonados pelo esporte. Rafael Barberena, professor de Educação Física da UFRJ, estudioso do remo e ex-atleta, lamenta a descaracterização do Estádio. “A segunda arquibancada era mais baixa. Ela foi implodida. Levantaram outra com dinheiro público e entregaram para fazer cinema. Só levantaram para que os cinemas coubessem”, diz o professor. “Qual era o pleito do remo? Estádio de Remo para o desporto e, aqui embaixo, o centro de treinamento do remo brasileiro. Refeitório? Que refeitório? Alojamento? Não tem nada. Absolutamente nada”, completa.
A situação do Estádio revolta a muitos profissionais, assim como a estrutura material do esporte. Problemas na renovação das frotilhas e nas raias de competição são recorrentes. Até mesmo a estrutura técnica é motivo de reclamação. Falta a padronização dos treinamentos nos diferentes pontos do Brasil. “O remo que é praticado aqui (Rio de Janeiro), é diferente do remo que é praticado em São Paulo, que é praticado no norte do país, que é praticado no sul. Não há uma uniformidade em relação a isso”, diz Marcelo dos Santos, do Vasco.
O trabalho tanto dos atletas quanto dos profissionais é dificultado com essa carência estrutural que afeta o esporte. Os resultados não aparecem e o remo acaba perdendo visibilidade dentre o grande público. “A gente treina aqui, mas muita gente nem conhece o remo. Muita gente acha que remo é ir na praia remar um caiaque, ficar brincando. Não levam a sério que nem o futebol e outros esportes”, conta Guilherme Ricardo Gomes, atleta do Botafogo, que já tem no currículo convocação para a seleção brasileira e título em prova do campeonato sul-americano.
Não são apenas os atletas que sofrem com a desvalorização do seu trabalho. O problema se espalha pelos demais níveis de profissionais do remo. “Você não tem uma bolsa para os profissionais, que dedicam seu tempo integral ao esporte. Eu trabalho de segunda a segunda, de manhã e à tarde. Todos nós do remo trabalhamos demais”, afirma Alexandre Monteiro, técnico do Botafogo.
Ao longo dos anos, o remo foi perdendo espaço para outros esportes, em especial para o futebol. A relação entre os dois esportes se torna particular no caso dos três grandes clubes de regatas do Rio, originários do remo, mas atualmente com maior visibilidade por causa do futebol. Por mais que o futebol movimente muito mais dinheiro que o remo e que seus investimentos sejam maiores, tanto o técnico do Vasco quanto o do Botafogo afirmam não guardar qualquer sentimento de mágoa com o principal esporte do país. “Por outras pessoas eu vejo que existe esse sentimento, mas não da minha parte. Cada esporte tem seu valor. Um gira mais dinheiro, o outro gira menos”, opina o comandante botafoguense. “Eu escolhi o remo porque eu quis”, conclui. Já para o representante vascaíno, “o dinheiro é captado pelo futebol”, portanto “é legítimo”. Ele ainda finaliza: “A gente tem que criar nossa própria estrutura. É possível”.
Se o presente não é bom para o remo, ao menos o esporte pode olhar para o passado para reivindicar um futuro melhor. O tradicional desporto está enraizado na cultura brasileira e carioca. Seja através de músicas, como Marcha do Remador, de Antônio Almeida (Se a canoa não virar/ Olê, olê , olá/ Eu chego lá...) ou ditos populares, como vamos remar juntos até o final e remaremos contra a maré. Pensar em sucesso para o remo, não seria algo inédito. Sua própria história pode servir de motivação. “Isso aqui dividia público com o Maracanã”, conta o diretor técnico do Flamengo, Edson Figueiredo, que completa: “A orla da Lagoa ficava lotada. Passavam o dia na Lagoa, faziam comida, faziam piquenique e saiam daqui para o estádio para ver jogo de futebol”. As torcidas se mobilizavam para apoiar seus respectivos clubes. “Os três clubes tinham seus músicos”, conta o professor Rafael Barberena, falando das famosas charangas. “Quando os páreos vinham na altura dos 500 metros finais, o foguetório aqui (Estádio de Remo) começava, as charangas tocavam e era uma movimentação de bandeiras”, completa.
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