*Por Gabriela Vasconcellos
Arthur Moura entrou no meio musical em 1999, com uma banda influenciada pelo heavy metal, fazendo experimentos com rock n’roll e rap. Em 2002, deixou a banda de rock e decidiu se aventurar apenas no segundo estilo, formando o Fluxo. Arthur é responsável por fazer a produção e a parte instrumental das músicas.
Na mesma época montou seu estúdio, o 202. Uma das razões foi a dificuldade enfrentada pelos músicos independentes para encontrarem “home studios”, mais baratos que os convencionais. Isso acabou levando Arthur a ter contato com mais pessoas do rap, e o direcionou também para o meio audiovisual. No início, fazia os videoclipes de seu próprio grupo, e então para outros artistas independentes, como o Mc De Leve. O engajamento com o audiovisual aumentou e, então, passou a produzir curtas, além de um documentário sobre o cenário do rap, que se consolidava no Rio de Janeiro no início dos anos 2000: o Poetas de Rua, filmado de 2004 a 2009.
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O primeiro média metragem foi Paralelo 14, filmado em 2008, e o longa mais recente – que Arthur admite ser seu “xodó” – foi Utopia e Cidade, produzido durante dois anos. Este está disponível online há oito meses, e tem mais de 2500 visualizações. O longa tem duas horas e dois minutos e trata do movimento estudantil niteroiense, bem como a greve universitária que aconteceu no ano passado.
Com documentários críticos, que abordam temas pouco explorados, o objetivo é sempre mostrar o outro lado e fazer os espectadores pensarem. Atualmente, seu canal do youtube tem mais de 100 envios, alguns com mais de 40 mil visualizações. O clipe “Rolé de Camelim”, de mc De Leve já foi assistido mais de 250 mil vezes.
Para ele, ser independente quando se trata de rap é fundamental: “A importância de ser independente é construir uma comunicação alternativa aos meios de produção midiáticos hegemônicos, no qual o artista possa ser o seu próprio protagonista”, opina. No entanto, conhece bem o outro lado da moeda, e faz questão de deixar claro que as dificuldades não são apenas financeiras, como muitas pessoas pensam. Arthur acredita que um dos principais problemas do cenário independente é a falta de articulação dos artistas e de organização em torno de um objetivo comum.
Apesar de muito envolvido com a produção de documentários, Arthur nunca deixou de lado o rap. Pelo contrário, este sempre esteve presente na sua vida, inclusive acadêmica. Ele está para se formar no curso de história, na UFF. “Tudo que eu estudava aqui na universidade eu tentava fazer uma ligação com o rap. Pensava no que os conhecimentos que eu estava adquirido poderiam contribuir para o movimento”. E certamente contribuíram.
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Durante anos, ele imergiu no estudo do tema, e acabou acumulando material suficiente para escrever sua monografia: Uma Liberdade Chamada Solidão: a formação do rap independente no Rio de Janeiro (1990-2013). Nela, Arthur fez um estudo sistemático sobre as relações de poder existentes no estilo: o que vem a ser essas relações de poder, a mercantilização, sua construção discursiva, etc. Ele busca entender e explicar como o sistema capitalista influencia na arte e na música, comparar a formação do rap independente e como está nos dias atuais, e discutir a formação de ideologias. Em suas palavras: “A monografia na verdade traça um panorama das relações de poder internas do hip hop em diálogo direto com as problemáticas sociais, e como o rap se encontra hoje, em 2013”.
Seu trabalho, no entanto, não foi bem aceito na academia. Sua orientadora negou o projeto por razões, segundo ela, estéticas e políticas. Mas foi feito um acordo e agora Arthur está se formando. “Eu não sei se a academia não se interessou pelo tema, mas o fato é que isso pouco importa. Eu não escrevi pra academia, mas sim pras pessoas que querem se aprofundar um pouco mais nas problemáticas sociais e entender mais as movimentações populares da juventude. O que importa é que eu propus um trabalho que discute uma série de questões. Não é só o rap. E o que aconteceu foi uma grande dificuldade de inserir esse debate na academia por questões burocráticas e políticas”, afirma.
Arthur acha que, embora seja um instrumento valioso para entender a periferia brasileira, principalmente a do eixo Rio-São Paulo, o estilo musical ainda esteja à margem das preocupações do campo acadêmico. Mas acredita na mudança: “Daqui a um tempo a academia vai estudar essa temática mais a fundo. E espero que a minha monografia contribua pra isso”.
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