*Por Marcela Macêdo
O rap sempre teve a marca de ser independente. Um estilo musical considerado "fácil" por muitos - por ser apenas a letra "falada" com uma batida - sofreu e continua sofrendo marginalização e preconceito. Entretanto, alguns artistas conseguiram conquistar seu espaço, tanto com a grande mídia (caso dos Racionais e do Emicida, por exemplo), tanto por meios alternativos.
Alguns artistas de rap independentes veem como oportunidade de divulgar seus trabalhos as chamadas “batalhas”. Os rappers disputam entre si, fazendo rimas que podem ser temáticas - em que eles devem rimar baseados em determinado tema - ou “de sangue”, em que fazem suas rimas baseados em provocações de um contra o outro. A plateia fica responsável por decidir quem rimou melhor.
Um exemplo que anda fazendo bastante sucesso atualmente em Niterói é a Roda Cultural do Engenho do Mato. Trata-se de um coletivo sem fins lucrativos que reúne interessados em cultura na praça do bairro. No local, acontecem shows de artistas independentes de diversos ritmos e batalhas de rap, carro-chefe da roda. Além disso, o evento também reúne uma biblioteca dedicada à comunidade para troca de livros, como forma de incentivo à leitura; e eventuais exposições de arte e grafite.
Aline Pereira, de 35 anos, idealizou a Roda na Praça, que já está em sua 14ª edição, por acreditar que ali seria um local improvável. Segundo ela, a comunidade estava abandonada e a população estava acomodada com a falta de atenção que recebe. Hoje, em média de 50 pessoas estão envolvidas com a Roda Cultural, o que de acordo com Aline é uma vitória, tendo em vista que o evento começou sem a mínima infraestrutura.
Os artistas, que muitas vezes vêm de longe, se apresentam no evento e não recebem gratificação. As apresentações, de acordo com eles, são feitas “no amor” e divulgadas pelo boca a boca e por meio das redes sociais, aliada importante dos artistas independentes. Já os participantes das batalhas recebem um lanche, um troféu e pontuação para concorrer à uma hora de gravação em estúdio.
Confira aqui o vídeo de uma das batalhas.
vídeo por Mariana Penna
Pedro Zoli, de 23 anos, filho do cantor Cláudio Zoli , é cantor de MPB e música pop, além de compositor. Pedro, que já cantou algumas vezes na Roda, afirma que a música deixa a comunidade mais feliz. Porém admite que a vida de um artista independente não é fácil e é preciso buscar apoio constante. Ele diz que apesar de ser filho de um cantor famoso, ainda encontra dificuldades para divulgar seu trabalho. Mesmo assim desistir não está em seus planos. Segundo ele é preciso correr atrás sempre.
Já Marcelo Said, de 18 anos, integrante do grupo Litoral , diz que o rap é muitas vezes mal apreciado e as pessoas ainda têm um pouco de preconceito. Para ele, umas das explicações possíveis é a sinceridade das letras, pois muitas vezes “o rap diz o que as pessoas não gostam de escutar”. Contudo, o cantor gostaria que a mídia apoiasse mais o ritmo.
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Luca Trotta, de 18 anos, também é integrante do grupo de rap Litoral e alerta para os desafios encarados por quem decide se tornar artista independente. “É muito difícil porque só temos as redes sociais e as rodas de rima para divulgar o rap independente. Para o trabalho fluir, temos que botar a cara a tapa e estar presentes em todos os lugares para sermos lembrados”.
Ouça aqui uma música do grupo.
Mas as batalhas não são a única forma de um rapper independente começar e se divulgar. Além de existirem outros meios - como a internet - o estilo musical pode abrir espaço para novos caminhos, ou mesmo virar um trabalho de conclusão de curso.
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fotos por Mariana Penna
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