Navigation Menu

Todo filme começa curto

Por Luiza Gould e Igor Pinheiro







Com Charles Chaplin até mesmo um dia de chuva pode render boas risadas, como você pôde ver. Pelo menos é o que mostra o curta Between Showers, de 1914. Nele, o ícone do cinema mudo, na pele do eterno Vagabundo, disputa com outro homem a atenção de uma bela moça, tentando ajudá-la a atravessar uma rua cheia de lama. As brigas envolvendo um pedaço de madeira, um guarda-chuva e um policial garantem diversão em menos de dez minutos.


 Os 53 curtas de Charles Chaplin criados no início da carreira do ícone do cinema mudo mostram que o formato é uma espécie de porta de entrada para as telonas, como afirma Sérgio Santeiro, professor da Universidade Federal Fluminense, diretor, roteirista e produtor de curtas. Segundo ele, quem começa a fazer filmes, tem curtas como suas primeiras produções, que podem ir até 30 ou 40 minutos, tempo padrão da maioria dos festivais internacionais na área.


 A facilidade de produção é um dos motivos que fazem com que os curtas sejam procurados pelos iniciantes do mundo cinematográfico. Santeiro explica essa característica resgatando uma propriedade do cinema brasileiro há cinco décadas: “O estilo de produção de filmes, antes dos anos 60, era uma coisa muito pesada, um tipo de produção muito cara. E o curta sempre teve e sempre vai ter a vantagem de ser mais acessível. Eu costumo dizer que é a coisa mais democrática que existe no cinema. A rigor, qualquer pessoa pode fazer, não envolve maiores esquemas de produção”, opina Santeiro.


Os anos 60 entraram para a história como o período de surgimento do Cinema Novo e de expansão do cinema nacional, impulsionado por filmes como "Cinco Vezes Favela'. A produção de 1962 foi resultado da união de cinco curtas, com diferentes diretores e histórias. Os curtas viraram os episódios: "Um favelado", "Zé da Cachorra", "Escola de samba", "Alegria de viver", "Couro de Gato" e "Pedreira de São Diogo", todos sobre o mesmo tema: a favela. Em 1975, a Lei do Curta ajudou a marcar o formato como expressivo no país. Ela obrigava a exibição de um curta nacional de até 15 minutos antes de um longa-metragem estrangeiro. Essa iniciativa e a crise econômica da época levaram a diminuição temporária da produção brasileira de longas-metragens e ajudou a formar uma geração de curtas-metragens. A lei, porém, entrou em declínio nos anos 90 e até hoje se espera sua reformulação.




[caption id="attachment_1053" align="alignleft" width="270"]IMG_1754 Sérgio Santeiro atesta que outra opção para a inserção dos curtas no mercado seria a televisão, "mas isso também não acontece tão bem quanto se gostaria que acontecesse"/ por Daniela Reis[/caption]

 A história de sucesso dos curtas nacionais esbarra com o problema da exibição. Apesar da fácil produção, fazer com que eles cheguem ao grande público e ao mercado se torna um empecilho. “O curta funciona mais ou em conjunto com outros ou acoplado a filmes comerciais de longa-metragem. Mas, de certa maneira, os filmes brasileiros têm uma presença muito grande no cinema mundial, mesmo que isso não se traduza em nenhuma ocupação comercial propriamente”, observa Santeiro.


 E o que esperar do futuro dos curtas? O diretor diz que o futuro já começa a ser desenhado pela nova realidade trazida com a era digital. “Esse futuro está cada dia mais perto. E não só para o curta-metragem, não só para o cinema. Essa vertente digital, e a internet é para onde estão apontadas as esperanças do audiovisual em geral, do audiovisual independente, sobretudo, porque não depende das grande estruturas comerciais de produção.” A fala do professor aponta para uma possível saída da dificuldade de exibição dos curtas. Mas cria, ao mesmo tempo, o problema do retorno financeiro com as produções, com o espaço gratuito da internet. Apesar do dilema que deve permanecer pelos próximos anos, Santeiro não deixa de ressaltar: “Não há dúvida que houve uma expansão muito grande da circulação e da possibilidade dos filmes cumprirem uma carreira de exibição que até então era impossível.”


Vai dar cinema!


AnimacoesProducoes-de-Alunosvideos

0 comentários: