Por Bruno Roncada
Muito tempo se passou desde que Eduardo Galeano escreveu, em 1971, As Veias Abertas da América Latina. A realidade mostrava uma história de subserviência da região à Europa, especialmente num primeiro momento, e depois aos Estados Unidos. Mas e hoje? Será que tudo continua como antes?
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) mostra em pesquisa que de 2011 para 2012 diminuiu em 1 milhão o número de pessoas em situação de pobreza na América Latina. A organização ainda afirma que a tendência é que o número continue caindo devido às projeções de crescimento econômico e inflação moderada na região.
A mesma pesquisa, no entanto, mostra que em números absolutos, ainda existem 167 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza na América Latina. Isso representa 28,8% de toda população. E veja bem, os dados são referentes àqueles que vivem em EXTREMA pobreza. Se formos considerar os que não vivem, e sim sobrevivem com salários baixos e sem qualquer tipo de conforto, a tendência é que a porcentagem suba consideravelmente.
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Hoje, a América Latina presencia alguns governos mais voltados às classes populares. Três bons exemplos são Cuba, Venezuela e Bolívia, tendo os cubanos um projeto mais antigo. O que muito se discute na grande imprensa brasileira (ou o que apenas se discute) é o quão autoritários são esses governos. De fato, isso é uma preocupação. Por outro lado, não se pode desprezar de forma alguma a defesa dos interesses populares nesses países, somada ainda à busca por uma independência econômica, desvinculada do oportunismo do capital estrangeiro.
Em sua grande parte, os trabalhadores da América Latina ainda vivem à margem do desenvolvimento das potências capitalistas. As condições às quais estão submetidos estão longe de serem as ideais. Eduardo Galeano, em conferência promovida pelo Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso), realizada em 2012, questiona se o estudo sobre os direitos dos trabalhadores seria coisa para arqueólogos.
O fato é que ainda hoje a população latino-americana sofre em sua maioria com a precariedade nas condições de trabalho. Galeano, nessa mesma conferência, vai chamar a atenção para esse problema de uma forma mais global, expondo exemplos da classe trabalhadora de todo o mundo, muitas vezes impedida até de se filiar a sindicatos.
Dentre os impressionantes casos trazidos pelo escritor e jornalista uruguaio, um que chama bastante atenção é o que envolve a rede de supermercados Walmart. Segundo Galeano, a empresa proíbe seus trabalhadores de terem vínculo com qualquer sindicato. E mesmo assim, por incrível que pareça, Sam Walton, criador da empresa, foi condecorado em 1992 com a Medalha da Liberdade, uma das maiores honrarias nos Estados Unidos. No mínimo, um pouco contraditório.
No encontro, Galeano ainda passa pelas questões trabalhistas envolvendo outras grandes empresas como o McDonald’s e a Nike, sempre chamando a atenção para a forma desumana pela qual os trabalhadores são tratados.
Deixo logo abaixo, disponível na íntegra, o vídeo da conferência. O áudio está em espanhol, mas não é de difícil compreensão. Vale a pena “perder” 28 minutos para assistir a essa aula de realidade.
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