Os brechós são contestações. Antes de ser um estilo diferente de se vestir, a maioria das pessoas que trabalham e que compram nos brechós seguem um estilo de vida. São contra o preço excessivo cobrado pelos produtos, contra o consumismo exacerbado, contra a padronização na moda. As pessoas não buscam só tendências a serem seguidas, e sim um estilo alternativo. As roupas não são rotuladas, nem produzidas em série, são únicas.
A designer Deborah Nunez participa de um encontro de brechós que acontece todo mês, no espaço São Dom Dom. Deborah expõe roupas, acessórios e sapatos dela e de amigas. “Não tenho uma loja física, na verdade tudo começou quando eu e minhas amigas fazíamos um brechó de troca lá em casa. Compus vários looks só pelas trocas”, conta. A designer enxerga nos brechós um conceito anti-consumista e de reciclagem, além de uma forma de boicotar os preços altos dos shoppings. “Estamos em uma sociedade de hiper estímulos e consumista. A todo tempo somos pressionados a corresponder a certos padrões de moda e nem sempre conseguimos” destaca Deborah. Segunda ela, O brechó também serve para promover o desapego: "Muitas coisas que não usamos ficam guardadas meses no armário. Fiz uma limpa na minha casa, me senti mais leve, menos cheia de coisas"
Segundo Clara Lobo, organizadora do evento, o público do brechó são as pessoas que querem se vestir de maneira única e não seguem tendências. "Eu não gosto de comprar roupa em shopping. A ideia do brechó é gerar um espaço cultural, com estilo, e não com moda", diz Clara. Todos os dias, DJ’s fazem apresentações e deixam o ambiente descontraído, o que contribui para que os clientes sintam-se a vontade.
Solanges, dona do estabelecimento, diz que o bar funciona como um espaço múltiplo: "Estamos com um projeto eclético. Pensei em juntar o entretenimento com preço justo. Por Niterói, temos muitos universitários e pessoas alternativas. Muitos deles frequentam o brechó." Solanges destaca que ainda hoje muitas pessoas têm preconceito de comprar em brechós, mas acredita que isso mudará com o tempo devido aos preços caros das lojas. "A tendência do brechó é comprar uma roupa cara por um preço menor." Ela lembra outra qualidade do brechó: a diversidade de roupas. "Num shopping, para encontrar diversidade nos produtos, o cliente precisa ir a varias lojas. No brechó, os produtos estão todos misturados, é uma despadronização da moda", afirma. Ela faz questão de falar que ninguém faz marketing no brechó, a compra é um movimento que acontece.
Tânia é dona do brechó Chiquetê e afirma com convicção que hoje o mundo está se encaminhando para o brechó. "A crise mundial faz com que o novo conceito seja renovar. O brechó não tem tendência, não existe só um estilo, existem muitos estilos. Já as lojas de shopping, seguem um modelo", destaca. Ela conta que é cliente dos brechós de Nova York e de Las Vegas e traz diversos produtos para o Brasil. Diz também que tem um site secreto para clientes que não gostam de frequentar brechós, mas que nem por isso deixam de consumir. "As juízas e médicas famosas não podem entram num brechó porque sentem vergonha. Elas encomendam o produto e eu levo na casa delas à noite", conta.
Carolina, frequentadora e cliente dos brechós, diz que se interessa pela exclusividade e pelo preço dos produtos. "Brechó não tem peça repetida. De repente, uma peça dos anos 80 volta à moda, e você consegue ela por um valor bom e num design que ninguém vai ter", diz. Afirma que não se importa com a marca do produto, nem com o preço, e sim se o produto atende às suas necessidade. Ela destaca mais uma justificativa para frequentar brechós: "O clima do brechó é mais descontraído do que na loja, não tem pressão dos vendedores. Eu me sinto mais à vontade para escolher o produto."
O encontro de brechós começou em Janeiro e acontece três dias por mês, de quinta a sábado. Neste mês de agosto, será nos dias 14, 15 e 16. A divulgação do evento é feita via facebook.
- Clara Lobo (organizadora do evento)
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