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Até a chegada da ordem

Por Lucas Schuenck e Nathália Larghi


Há dois anos, na Praça dos Ex-Combatentes, em São Gonçalo acontece um movimento diferente. Todas as quartas-feiras, por volta das 20h, cerca de 400 pessoas, em sua maioria jovens e adolescentes, se juntam para fazer arte de rua. Batalhas de mc's(assista aqui), dança de break boys, shows e grafites são algumas das atividades e apresentações que acontecem semanalmente. Há cerca de seis meses, entretanto, esse movimento quase acabou. Alegando que o grupo não tinha autorização da Prefeitura para realizar um evento em praça pública, a polícia proibiu que os aparelhos de som fossem ligados. Como a música é o carro chefe da roda, o encontro acabou ficando a perigo e levantou a questão: será que o governo local incentiva à cultura de rua como deveria?


Luã Medeiros, 25 anos, popularmente conhecido como Gordo, é um dos idealizadores desse evento. Rapper desde os 17 anos e membro do grupo Soldados da Pista, teve a ideia de criar a roda ao perceber que faltavam espaços e festas que valorizassem a cultura hip-hop, que há uns anos atrás ainda era hostilizada e conhecida como característica exclusiva de favelas. Gordo se uniu ao DJ Arra e, posteriormente, ao videomaker e web designer Felipe Gaspary, para a criação do evento. Todo o dinheiro gasto com aparelhagem de som vem do bolso dos próprios organizadores e de alguns frequentadores que querem colaborar.


A proibição da roda aconteceu em julho deste ano, sob o argumento de que os envolvidos não têm autorização da Prefeitura para realizar o evento. De acordo com Gordo, a atitude dos PMs de evitar que a roda aconteça tem sido hostil, mas, mesmo assim, o público frequentador apoia a realização. “Eles (PMs) nos impedem de ligar o som, mas a galera permanece e faz o movimento acontecer, mesmo com batalhas à capela (sem auxílio de som) e break (tipo de dança do Hip-Hop) sem música. Na semana seguinte, a resistência acaba sendo maior, com um maior número de participantes e mais apoio”, explica o jovem.


(Saiba mais sobre Luã "Gordo" Medeiros aqui)


A polícia alega que, sem autorização, não há como fazer a segurança de que o evento precisa. Por se tratar de um local público, os idealizadores e participantes da roda rebatem dizendo que seria obrigação da Prefeitura manter a ordem em qualquer lugar. Atualmente o projeto continua acontecendo, mesmo sem autorização, mas os participantes temem que a polícia apreenda sua aparelhagem.


"Fazemos na cara e na coragem [...] Nosso maior medo é a apreensão do equipamento de som, como nos foi ameaçado caso continuássemos com a roda”, explica "Gordo". Porém, o conflito não acaba por aí. O rapper conta que sente que o projeto não tem nenhum apoio do governo ou da Secretaria de Cultura.


“O governo parece não estar interessado em nos regularizar e sim em nos extinguir e a polícia acaba sendo marionete de suas vontades”, opina. A proibição e a suposta falta de interesse da Prefeitura em regularizar a roda acaba levantando a hipótese, entre os envolvidos da cultura, de que os órgãos competentes possuem certo tipo de preconceito com o evento. A Polícia Militar, segundo frequentadores, age também alegando que o uso de drogas é um dos fatores para a interdição da Roda. Entretanto, moradores do local afirmam que o bairro e suas proximidades não contam com rondas de policiamento ostensivo diárias.


“Se eles (polícia) alegam que o crime e as drogas estão rolando na praça, por que não colocar uma viatura de prontidão para garantir a segurança do local?”, indaga Claudios “Battousssai” de Oliveira, frequentador assíduo do evento e morador das redondezas.


A Secretaria Municipal de Turismo e Cultura de São Gonçalo informou, por e-mail, que está aberta a discussão para a formalização da Roda Cultural.


Leia a declaração na íntegra:


"A Secretaria Municipal de Turismo e Cultura (SMTC) informa que já entrou em contato com os organizadores do evento para discutir a realização da Roda Cultural, no entanto, não obteve retorno.
O objetivo da SMTC é formalizar o evento, em parceria com a Subsecretaria de Fiscalização e Posturas, para que o mesmo não aconteça de maneira marginalizada.
O secretário de Turismo e Cultura, Michel Portugal, garante que está a disposição para discutir parcerias que promovam o desenvolvimento da Cultura no município.


Secretária Municipal de Governo e Comunicação Social."


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