por Jéssica Pietrani, Mariana Jardim e Mariana Pitasse
Barracas, caixas e as mais variadas mercadorias não estão mais no local cativo que ocupavam há mais de 40 anos no Largo da Batalha, região de Pendotiba, em Niterói. Em maio deste ano, os feirantes tiveram que se retirar do local onde funcionava uma das maiores feiras livres da cidade. A reviravolta é parte do Calçada Livre, programa da Prefeitura que promove ações de fiscalização e ordenamento urbano da cidade.
Apesar de terem sido realocados para outro espaço duas semanas após a expulsão, os ambulantes não ficaram satisfeitos. “Não tínhamos banheiro, nem água potável. Não tem fluxo de pessoas aqui. Foi só depois que fizemos nosso primeiro protesto que a Prefeitura começou a construir um banheiro para nós”, comenta o feirante Marcão do Coco.
De acordo com os ambulantes, as vendas chegaram a cair 80% desde que mudaram de terreno. O novo lugar onde estão instaladas as barracas, atrás da policlínica do bairro, não é central como o antigo calçadão, que fica perto de supermercados e do comércio local. “Nós sabíamos que a feira precisava de uma regulamentação. Mas por que não organizar em vez de retirar?”, questiona Marcão.
Desde que foram realocados, os feirantes deram início a uma onda de protestos, em que a principal reivindicação é o retorno ao calçadão. A pauta também foi reivindicada pelos manifestantes que ocuparam a Câmara Municipal de Niterói, em agosto deste ano. Mesmo com respostas negativas da Prefeitura, algumas vitórias foram alcançadas, como a instalação de uma lona no novo endereço da feira. A expropriação de um terreno, que visa à construção de um mercado popular no bairro, e um subsídio financeiro, concedido aos ambulantes até a finalização das obras do mercado, também foram prometidos aos trabalhadores.
Em reunião realizada na Prefeitura, no dia 2 de dezembro, para discutir a situação dos feirantes, estavam presentes Fabiano Gonçalves, secretário de Desenvolvimento Social, os vereadores Henrique Vieira, Renatinho, Renatão do Quilombo (PSOL) e Bruno Lessa (PSDB), além dos próprios ambulantes e apoiadores do movimento. “Temos que ter uma solução de hoje para amanhã, no máximo. Se nós não conseguirmos ajudá-los, os senhores não terão tempo para aproveitar esse período natalino”, afirmou o secretário, ao se referir às promessas de expropriação do terreno e subsídio financeiro. Até o fechamento desta matéria, as garantias ainda não haviam sido colocadas em prática.
- Confira nesses vídeos as condições que os feirantes têm enfrentado depois da instalação do projeto Calçada Livre no bairro
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É importante compreender que políticas como o Calçada Livre, implementado em Niterói, não são isoladas e fazem parte de um projeto muito maior. São pequenas peças que, reunidas, compõem uma nova organização e estruturação da(s) cidade(s) - Rio de Janeiro e Niterói. UPP's, remoções de comunidades inteiras, obras e mais obras com dinheiro público - mas em parcerias público-privadas... É a preparação para a modernização que deve ser vista por todo o mundo na Copa e nas Olimpíadas. Mas isso é feito a que custo? Foi tentando oferecer alguns olhares e perspectivas sobre esse tema que a jornalista Paula Paiva - ex-aluna da UFF - apresentou como projeto de conclusão de curso a reportagem especial Das raízes históricas das remoções às construções da cidade.
Quer dar uma olhada na versão final do livro reportagem? É só clicar aqui.
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