Não é de hoje que se sabe da precariedade e ineficiência do sistema de saúde público brasileiro e, consequentemente, das péssimas condições de trabalho oferecidas aos médicos que atuam nesse setor. A falta de estrutura dos hospitais públicos em nosso país, a nível de equipamentos, administração, dentre tantos outros tópicos, inclusive nos hospitais universitários, é alarmante. A respeito do Sistema Único de Saúde, o SUS, conversamos com algumas professoras que ministram no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), da Universidade Federal Fluminense (UFF). Elas pediram para não serem identificadas, por isso adotamos algumas letras para identificar cada uma. A professora A, como se falasse algo que guardasse há um tempo desatou num monólogo sobre todos os problemas que enxerga dentro dos hospitais de uma forma geral. Logo após uma explanação geral sobre o assunto enumerou algumas situações que, para ela deveriam ser transformadas de dentro para fora.
- A primeira coisa que deve ser feita é a criação de um quadro efetivo de funcionários, não um que mude de acordo com as vontades da prefeitura ou do prefeito.
As demais contaram mais sobre a situação atual do hospital.
- Hoje, por exemplo, o dia está tranquilo, mas estamos com todos os leitos e ambulatórios ocupados. Se chegar paciente a gente tem que negar e isso é muito angustiante. É muito ruim você dizer “não temos, não podemos”, fechar o olho e ter que repetir isso. Hoje nós dissemos não. Vários pedidos pro mesmo paciente. É difícil isso e eu tenho 31 anos de formada” diz a doutora C.
Tratando mais especificamente da situação do HUAP, a professora A diz que existem diversas situações problemáticas no hospital.
- Nós temos um hospital antigo que ficou muito tempo esquecido, sem reforma e sem modernizações.
Enumerando, ela afirmou complicações com salários que não correspondem à carga horária.
- O problema do hospital é o mesmo: o governo parou de fazer concurso público.
Para ela, uma das maiores doenças do hospital é justamente essa, a falta de um grande efetivo, o que leva a um aumento de trabalho para os poucos que estão ali. Falando a respeito das condições de trabalho em regiões do interior do país, as professoras foram sinceras ao tratar a questão com a seriedade que a difícil realidade sugere.
- No interior ninguém quer operar doentes do SUS, sabe por quê? Eu já fiz anestesia para ganhar sete reais. Era uma criança com o braço quebrado. Quem faz alguma coisa por sete reais? - disse a professora A. A doutora C. completou a colega
- Não adianta você mandar o médico pro interior se lá não tem estrutura. Os sintomas são iguais, tanto na cidade grande, quanto no interior. Eu acho angustiante você ir para o interior, sabendo que você tem que pedir. Tudo o que você precisa é ter dipirona.
Quanto a uma questão mais geral, recorrente e que diz respeito à conduta dos médicos, a professora A falou a sobre a questão da "humanização" da medicina
- Isso é um insulto! Primeiro, não existe aprendizado de medicina ou de qualquer área da saúde sem ser dentro do hospital ou então na rede de assistência básica.
A professora garantiu que a “humanização” dos profissionais não é uma coisa real, já que todos trabalham diretamente com o SUS, os pacientes tratados na residência são pacientes públicos e seres humanos. A prática de medicina, segundo a própria professora, é com os pacientes.
- Eu não conheço um médico que trabalhe há muito tempo e não tenha dado uma caixa de remédio pro paciente, porque sabe que ele não têm dinheiro para comprar, vai tomar um comprimido só e não vai fazer efeito nenhum o tratamento, então dizer que médico é desumano é mentira! O que nós queremos é um atendimento tão bacana tanto no do hospital Sírio-Libanês, onde a Dilma e o Lula se tratam, quanto nos postos de saúde da periferia. Todos os tipos de pessoa têm direito de ter o mesmo tipo de tratamento!
Por Matheus Ferre e Fabrício Mainenti
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