Por Gabriela Capanema
A palavra violência foi tão naturalizada no nosso cotidiano que parece desnecessário defini-la. Foi transformada em um significante vazio sempre acolhendo novos significados e situações e formas de interpretar a realidade. A reiteração constante desse conceito nos noticiários jornalísticos através, por exemplo, da metáfora da guerra, concretiza o fato de que os meios de comunicação ocupam uma importância central no processo de legitimação e fortalecimentos do estado de violência em que vivemos.
Na última segunda-feira aconteceu o I Seminário de Mídia e Violência no Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF com a intenção de trazer o assunto à tona e pensar a importância de fazer com que as pessoas não adotem o discurso da violência como um processo natural de se definir a realidade. Com o tema “Inimigos mapeados, as velhas e as novas guerras da cobertura midiática”, o debate foi uma iniciativa da professora de Comunicação da UFF, Danielle Brasiliense, baseado em seu projeto de pesquisa para o CNPQ.
Fizeram parte da mesa Luiz Eduardo Soares (UFRJ), o Mestre em Comunicação Social e doutorando pela UFRJ Pedro Barreto e o jornalista e historiador Maurício Duarte (UFRJ), com a mediação do professor de Jornalismo da UFF, Marcio Castilho. Foram levantadas questões específicas a respeito das relações entre mídia e violência, como a criminalização do usuário de droga, o comércio varejista de entorpecentes, a desmilitarização da Polícia Militar, o sistema carcerário e a questão das milícias sob a ótica de que o Jornalismo é um dos principais agentes na classificação da violência e criminalidade como uma guerra urbana no Rio de Janeiro.
Pedro Barreto, que atua no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ, apresentou ao público sua dissertação do mestrado com o tema “Segurança para quem? - O discurso midiático sobre as Unidades de Polícia Pacificadora” mostrando através da análise do discurso de O Globo a influência que o jornal exerce nas políticas do Estado, legitimando as medidas agendadas pelo Poder Público. Também participou do debate o jornalista e historiador pela UFF, Maurício Duarte, que trabalha atualmente na Assessoria de Comunicação do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. O Mestre em Comunicação Social fomentou uma importante discussão, através da análise de matérias polêmicas de jornais e revistas de grande circulação, sobre a produção de sentido do jornalismo e a sua interferência direta no debate público.
Autor dos livros “Elite da Tropa” e “Meu casaco de general”, entre outros, Luiz Eduardo Soares trouxe questões importantes para o debate, como a violência estrutural presente no sistema carcerário, a associação irreversível do ser humano (ex)carcerário aos crimes que cometeu, transformando esse vínculo em sua essência. O professor da UERJ e Doutor em Ciências Políticas afirmou que esses temas são tão presentes e relevantes no nosso cotidiano que parece que a metáfora da guerra já venceu. “Se tratando de guerra não se trata mais de segurança pública e nem justiça criminal, mas de construir a paz e negociar e encontrar instrumentos heterodoxos de ação”, revela Luis Eduardo. Também Mestre em Antropologia Social, Luis Eduardo divulgou sua peça de teatro que será montada no início de 2014 por Marcos Faustino, “Entrevista com o Vândalo”.
O aluno de Comunicação Social Andrew Costa participou do Seminário e afirmou que o debate sobre a produção de sentido nos meios de comunicação clarificou o entendimento do processo no qual a mídia constrói a criminalização e legitimação da violência contra pobres. “Luiz Eduardo Soares discutiu com muita qualidade a necessidade de legalização das drogas e desmilitarização das polícias como um importante passo para a desconstrução de uma sociedade violenta e como essas frentes de debate estão intimamente ligadas com as tarefas da comunicação social para o próximo período”, disse Andrew.
No fim do debate, a professora e organizadora do evento, Danielle, também lançou seu portal Observatório de mídia e violência com um grande banco de dados de matérias, dicas de filmes, documentários, artigos de especialistas e criminalistas da área. “A ideia é poder ampliar um pouco mais a visão sobre determinado crime, acontecimentos e especialmente sobre o próprio conceito de violência’’, explicou Daniele.
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