por Ariel Cristina Borges e Maria Clara Vieira
Nada de salto alto ou batom vermelho. Pouco brilho e muito suor. Entre giros e acrobacias, músculos das pernas, braços e abdômen contraem-se para suportar o peso de um corpo inteiro acima do solo, enquanto as articulações sujas de magnésio aderem à fria barra de ferro. Nada de Madonna ou Britney Spears, nada de cabaré: o treino é movido a rock’n roll. Além da pouca idade, a instrutora e proprietária do estúdio surpreende a repórter com a confissão: “Nunca tinha dançado na vida”.
Natália Roque, de 26 anos, começou a praticar Pole Dance aos 22, e dá aula desde os 24. A ideia de procurar o esporte surgiu de uma brincadeira: “Eu e uma amiga estávamos procurando uma atividade para emagrecer e, brincando, eu sugeri o pole dance, com aquela ideia de que é dança de boate. Entramos na internet para pesquisar, e encontrei dois vídeos (aqui e aqui) que costumo dizer que mudaram a minha vida”.
O Pole Dance é uma prática esportiva que mistura dança e ginástica, e consiste em exercícios praticados pelo atleta sobre um poste ou barra vertical. É amplamente associado às casas de strip tease, mas também apresenta a modalidade artística, que visa o lado acrobático, sendo utilizado em performances circenses e exercícios fitness, com o objetivo de dar força e flexibilidade ao corpo. A luta pelo reconhecimento do pole como esporte dissociado da dança sensual resultou na divisão da modalidade entre pole fitness e sexy pole.
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O primeiro estúdio de Niterói
“Depois de ver os vídeos, comecei a procurar um estúdio imediatamente”, conta Natália. A primeira dificuldade, entretanto, foi a escassez de opções: “Passei os meses seguintes indo para Duque de Caxias para fazer aula, porque tinha ônibus direto de Niterói. A outra saída era ir para Madureira”.
O primeiro estúdio de Pole Dance do Brasil foi fundado há apenas seis anos. De fato, a difusão do Pole Dance enquanto prática esportiva só se deu a partir dos anos 2000, de modo que ainda é difícil encontrar estúdios que ensinem a preços populares.
Natália começou a dar aulas na sala de casa, em julho de 2011, e em pouco tempo percebeu que precisava de um espaço maior: “Eu dava aula de segunda a sábado, o dia inteiro”. Formada em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, a atleta conta que abraçou o Pole Dance no fim da primeira graduação e tentou conciliar com um curso de dança. Entretanto, teve que escolher entre pagar uma faculdade particular – devido à dificuldade de chegar à UFRJ à noite – e abrir seu estúdio, o primeiro de Niterói.
A proprietária ressaltou a dificuldade de encontrar uma local a preço acessível na cidade: “Eu não queria cobrar caro. A tendência é que os esportes menos populares sejam mais caros devido a menor quantidade de professores. O problema é que isso afasta o público. É ruim saber que tem tanta gente que gosta, mas não pode pagar. Queria alunas apaixonadas pelo esporte”.
A decisão de abandonar a carreira acadêmica em nome do esporte enfrentou resistência: “Meu pai é médico e militar, então, é muito prático. Eu já estava formada e deixei tudo para me dedicar à dança; Minha família nunca questionou a escolha do Pole Dance em si, mas a vida profissional artística”. Entretanto, Natália afirma que nunca sofreu qualquer discriminação devido ao imaginário social acerca da dança: “O preconceito vem daquilo que você não conhece, e muita gente não sabe o que é Pole Dance”.

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