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Fenômeno do teatro universitário

Por Mariana Farias e Luísa Vianna


 

[caption id="attachment_5092" align="alignright" width="351"]Plateia lotada homenageia o elenco no palco da UERJ. Plateia lotada homenageia o elenco no palco da UERJ.[/caption]

Nesta semana acontece algo inédito no teatro universitário do Rio de Janeiro. Uma montagem acadêmica, fruto de um Projeto de Extensão da Unirio, vai se apresentar em um dos maiores teatros da cidade, a gigantesca Sala Grande da Cidade das Artes, na Barra: "The Book of Mormonentra", em curtíssima temporada que começou dia 24 de maio, estará em cartaz até o próximo sábado, dia 30. A estreia já contou com plateia lotada, presenças ilustres e, mais uma vez, o teatro, com 1300 lugares, não conseguiu comportar o número de pessoas que foram assistir ao musical.


No domingo, dia 25, aniversário de seis meses desde a primeira apresentação do grupo, o elenco de universitários teve uma surpresa emocionante. Fernanda Montenegro subiu ao palco ao final do espetáculo para parabenizar os atores, a equipe e o diretor pelo espetáculo e, depois de as cortinas se fecharem, conversou emocionada com o elenco. Fernanda disse que o espetáculo a fizera lembrar de sua juventude e de como sua paixão pelo teatro surgiu, que sentia-se renovada ao ver a alegria, a energia e força tão presentes naquele grupo e deixou um recado:  "perseverem, sempre".

[caption id="attachment_5093" align="alignright" width="470"]Elenco com Fernanda Montenegro no palco da Cidade das Artes Elenco com Fernanda Montenegro no palco da Cidade das Artes[/caption]

Vídeo de Fernanda Montenegro com elenco 

Mas e  você? Já tinha ouvido falar de "The Book of Mormon"? Se você está antenado no que acontece de melhor no teatro universitário já deve ter ouvido falar. Se está antenado no que acontece de melhor no teatro carioca, também.  "The Book of Mormon" é um musical norte americano escrito pelos mesmos autores de "South Park": Trey Parker, Robert Lopez e Matt Stone. Ganhou o maior prêmio do teatro em seu país em 2011, o Tony Award, e, hoje, tem o ingresso mais caro e disputado da Broadway.

"The Book", para os íntimos, foi montado aqui no Brasil pelo Projeto de Extensão do professor Rubens Lima Jr. da Unirio que existe há 12 anos. O Projeto já levou ao palco obras como "Cambaio", "Tommy", "Rocky Horror Picture Show" e "Spamalot". No entanto, nenhuma dessas montagens alcançou a visibilidade de "The Book of Mormon". Inicialmente, o espetáculo ficaria apenas um mês em cartaz no pequeno teatro de 100 lugares da Unirio, a Sala Paschoal Carlos Magno, cinco dias por semana, com senhas distribuídas uma hora antes, gratuitamente. Não foi o bastante. O teatro não comportava o número de pessoas que faziam fila para assistir ao espetáculo, às vezes cinco horas antes do início da apresentação. Voltou em janeiro, para mais três semanas  na Unirio. Contou com presenças ilustres, como Denis Carvalho, Maurício Sherman,  Alessandra Maestrini, João Fonseca e Thiago Abravanel. Depois da resenha da crítica de teatro do Globo, Bárbara Heliodora, que considerou o musical uma das principais peças do verão carioca, aumentou ainda mais o burburinho.

[caption id="attachment_5113" align="alignright" width="470"]Fernanda Montenegro com os protagonistas, Leo Bahia e Hugo Kerth Fernanda Montenegro com os protagonistas, Leo Bahia e Hugo Kerth[/caption]

O projeto recebeu um convite da UERJ para se apresentar no grande Odylo Costa Silva, em abril, um teatro de mais de 1000 lugares. O público continuou fazendo fila e veio, então, o inesperado: o convite para uma curta temporada na Cidade das Artes.

"The Book" é um projeto universitário que conta com alunos de diversos cursos das universidades federais do Rio de Janeiro, entra elas a UFF. Não é necessário ser aluno de Artes Cênicas. Há estudantes de Produção Cultural , Jornalismo, Canto, Dança, Teoria Teatral e até de Enfermagem e Museologia. Outra informação importante é que a produção das últimas duas temporadas do musical foi encabeçada por um aluno da UFF do Pro Cult, Gabriel Demartine.

As audições foram feitas em abril do ano passado. Alunos foram testados nos quesitos dança, canto e interpretação. Então, seguiram-se oito meses de ensaios e muito aprendizado. Quem cantava bem, mas não sabia dançar, aprendeu. Quem dançava bem, mas não era experiente no canto, também.  Numa conversa casual com o elenco, perguntamos qual era o segredo de tanto sucesso e eles concordaram: união. Acreditam que há uma energia muito grande correndo entre  eles e  que, de alguma forma, isso chega às pessoas e as deixa  felizes. “É o que ouvimos por aí”, disseram.

[caption id="attachment_5114" align="alignright" width="470"]Parte do elenco durante os ensaios Parte do elenco durante os ensaios[/caption]

Mas o sucesso continua sendo uma surpresa. Eles confessaram que, antes da estreia, achavam que seriam muito criticados e rejeitados pela plateia. Primeiro pelo próprio texto do musical, que não tem o menor pudor em criticar as religiões de maneira bastante “forte”, com palavrões e ironia.  Segundo, porque vários negros são interpretados por atores brancos. Eles contam que na época das audições não apareceram alunos negros em número suficiente. Uma das estratégias para achar alunos negros capacitados foi abrir audição para outras faculdades federais, mas mesmo assim não foi o bastante. Antes, só alunos da Unirio participavam. “Isso evidencia uma injustiça social nacional. O número de negros nas universidades federais continua sendo muito menor do que o de brancos. E isso acabou virando uma crítica nossa também”, explicaram.  A caracterização extensa e complexa foi criada por um aluno da Unirio de teatro e também ator do musical, Vitor Martinez. Vitor foi indicado ao Prêmio Avon de Maquiagem  na categoria Teatro, por seu trabalho no espetáculo. 10153019_657542994321030_4150596543446308525_n

O projeto recebeu inúmeras propostas de teatros comerciais dentro e fora do Rio para mais temporadas, mas,  a produção universitária precisa continuar  no meio acadêmico. O projeto não possui os direitos autorais da peça e neste caso, pela legislação brasileira, a obra só pode ser encenada em meio acadêmico, com objetivos de estudo e aprendizado, e sem intenção de lucro, por isso, os ingressos são gratuitos. A temporada na Barra foi possível porque a Cidade das Artes é um espaço que pertence ao poder público e pode fazer uma parceria com a Unirio, instituição da mesma alçada.  Então, se você ainda não viu a peça mais comentada dos últimos seis meses e o maior fenômeno do teatro universitário até hoje, ainda dá tempo.  As senhas gratuitas são distribuídas uma hora e meia antes do espetáculo na Cidades das Artes e a temporada está no fim.

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