Consultoria focada em experiências analisa dimensão de festivais de música na vida dos brasileiros e apresenta estudo sobre viabilidade da realização do Tomorrowland no país
Por João Pedro Soares, Luis Pedro Rodrigues e Rafael Bolsoni Bastos
“O mana não é simplesmente uma força, um ser, é também uma ação, uma qualidade e um estado” (...) “Em suma, a palavra compreende uma quantidade de ideias que designaríamos pelas palavras: poder de feiticeiro, qualidade mágica de uma coisa, ser mágico, ter poder mágico, estar encantado, agir magicamente”.
O termo estudado pelo antropólogo e sociólogo Marcel Mauss em seu livro Sociologia e Antropologia, publicado em 1950 na França, foi transferido para um contexto bem diferente 63 anos depois. Em dezembro de 2013, a palavra deu nome a uma empresa brasileira de consultoria voltada para experiências. “Procuramos estreitar a relação entre pessoas, culturas e mercados através de estudos que ajudem nossos clientes a compreenderem um ambiente em que desejam entrar ou se aprofundar”, diz sua descrição. Antes mesmo de existir, a Mana já tinha como primeiro cliente nada menos que a gigante holandesa do entretenimento ID&T, organizadora do festival de música eletrônica Tomorrowland, realizado anualmente em Boom, na Bélgica.
Formada pelo casal Franklin Costa, sócio-fundador da Movimento e dono de uma bagagem de anos de marketing no mercado da música eletrônica, e Carolina Soares, uma “curiosa profissional” – bióloga, mestre, doutora na área e, agora, mestranda em antropologia –, a empresa, em seu primeiro projeto, procurou entender o que representa um festival de música na experiência de vida do brasileiro. Com planos para trazer o Tomorrowland para o Brasil, a ID&T encomendou aos dois sócios um estudo sobre o perfil do público que frequenta festivais no país. “A ideia era buscar entender as experiências das pessoas de uma forma ampla, humana. Às vezes, o cliente tem um produto ou serviço e sabe muito do seu próprio material, mas não sabe em que cenário isso está sendo inserido, o que está acontecendo no mundo hoje, o que as pessoas estão fazendo e como isso dialoga com o seu produto”, disse Carolina.
No início do trabalho, a Mana não tinha o aval da empresa holandesa para que o seu maior evento, o Tomorrowland, viria para terras tupiniquins. A saída encontrada foi mapear os grandes festivais de música do Brasil – uma tarefa “megalomaníaca”, segundo a sócia. Rock in Rio, Lollapalooza, XXXperience, Dream Valley, além do próprio Tomorrowland, foram analisados. O que deu certo, o que não deu certo, por quê... “A gente fez esse estudo de cenário, no qual buscamos quais os patrocinadores eram frequentes nesses festivais, quais as características eram os diferenciais de cada festival. Analisamos o preço dos ingressos, como era a venda, se os ingressos se esgotavam ou não. Olhamos a mídia, o que estava sendo falado sobre o evento. Fomos para as fanpages, mapeamos quem eram as pessoas mais ativas por lá, o que elas estavam falando...”, resumiu a pesquisadora.
Carolina Soares passou três meses imersa no Facebook e descobriu que havia um sonho em torno do Tomorrowland, que ganhou grande visibilidade no Brasil após aparecer no programa humorístico Pânico, na Band. O Tomorrowland reúne mais de 150 mil pessoas do mundo inteiro nos seus três dias de duração e conta com a apresentação de mais de 100 DJs – em 2013, quase quatro mil brasileiros estiveram na Bélgica para o festival. “Não é só um evento, uma festa. É uma experiência que as pessoas querem viver. Elas querem estar naquele mundo mágico, compartilhar com outras pessoas que acreditam nesse mesmo ideal”, contou Carolina. O festival é conhecido por explorar temáticas fantásticas, que fazem menção a um mundo de sonhos, de magia, de conto de fadas – ao “mundo do amanhã”. Yesterday is History, Today is a Gift, Tomorrow is a Mystery, diz o seu slogan.
Para a pesquisadora, dois fatores fizeram com que o evento ganhasse tamanha dimensão, no Brasil e no mundo: além da exploração de cenários e estruturas que remetem à magia e à fantasia, o festival “se vende” muito bem em seus aftermovies, os vídeos pós-evento. “As imagens são feitas para arrepiar, para emocionar”, diz ela. O aftermovie da edição de 2012, por exemplo, alcançou mais de 112 milhões de visualizações no Youtube. “Eu perguntava às pessoas: ‘como você conheceu o Tomorrowland?’ E a resposta era quase sempre a mesma: ‘meu amigo que me mostrou um vídeo irado’. E assim vai: o amigo repassa para outro amigo, que repassa para outro amigo...”, destacou Carolina.
Os dois sócios da Mana se surpreenderam com a grande inserção da marca no país, principalmente na internet. A base de fãs brasileira na página oficial do festival gira em torno de 600 mil pessoas. Muitos desses fãs ativos não têm sequer idade para ir ao evento. “A ideia final foi uma surpresa. A entrada que a marca já tem no Brasil é absurda, sem eles terem feito um esforço, sem eles terem gastado um real para isso. Descobrimos que tem garotas de 14-15 anos cujo sonho não é mais ir a Disney, mas ao Tomorrowland”, disse Carolina, em tom de espanto.
Mas, afinal, o evento vai vir para o Brasil? De acordo com os sócios da Mana, a ID&T realmente tem planos para trazê-lo para cá. Carolina acredita que é possível. “Os belgas ficaram bem otimistas com o nosso estudo”, revelou. “Minha fala final foi de que o Tomorrowland ultrapassa os limites de um evento de música eletrônica e não deve ser tratado apenas como um evento de música eletrônica. Tem gente que não é fã desse tipo de música e vai ao Tomorrowland, quer ir ao Tomorrowland. É muito mais do que uma soma de shows, é uma experiência”, concluiu. Os brasileiros poderão viver essa experiência em seu próprio país? Tomorrow is a mystery: só o tempo (e a ID&T) vão dizer.
E aí, também quer viver essa experiência?
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[…] a opinião de que o público brasileiro se pauta pelo movimento internacional. Em entrevista (http://jornalocasarao.com/2014/06/02/yesterday-is-history-today-is-a-gift-tomorrow-is-a-mystery/) ao Casarão, a mestranda em Antropologia e sócia-fundadora da agência Mana, que analisou a […]
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