Embora o discurso inicial, do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, tenha sido o de que a Copa seria realizada “custeado prioritariamente pela iniciativa privada", de fato, a própria Matriz de Responsabilidades do governo federal mostra que o financiamento e investimentos públicos seriam responsáveis por cerca de 85% dos gastos. Considerando que os financiamentos são empréstimos que se espera serem pagos, os investimentos públicos seriam responsáveis por cerca de 53% dos gastos totais.

Apesar de ser veiculado um dispêndio de cerca de 26 bilhões de reais para a Copa, se computarmos apenas o que vai ser realmente para a Copa, ou seja, ponderando o uso das obras com outros usuários e com o tempo, veremos uma realidade diferente. Os maiores gastos da Copa no Brasil foram em mobilidade urbana e estádios, cada um com 31%. No entanto, quando somados, os gastos não exclusivos para a Copa perfazem 60% do total.

Uma primeira questão que embaraça a visão dos gastos é não separar custeio de investimento. As despesas de custeio são aquelas usadas na manutenção dos bens e ações do governo, como gasto com manutenção, material de consumo e pessoal, ou seja, gastos que são “consumidos” no período do ano orçamentário. Já as despesas de investimento com a compra de bens e construção de novas estruturas são “consumidas” ao longo da vida útil desses bens e construções.
A duração da Copa será de um mês. Portanto, mesmo considerando o uso exclusivo para a Copa neste mês, quando ponderamos os investimentos em infraestrutura por uma vida útil de apenas 50 anos, vemos que esses investimentos se mostram insignificantes. Com base no documento oficial com anexos referentes às atividades de Segurança (Resolução Gecopa Número 18), os gastos relativos em “segurança do evento” serão de 230 milhões de reais. O plano de segurança da Copa do Mundo de 2014 previa três quartos para a compra de equipamentos e o restante para o custeio do sistema, com a implantação de 14 centros de comando e controle que ficariam como legados na área de segurança que a Copa do Mundo deixará para o país, permitindo uma integração do policiamento entre os estados após o evento.** Como envolve equipamentos eletrônicos cujo aspecto tecnológico impõe uma vida útil abreviada, consideremo-la com de 10 anos. Por fim, adotemos uma repercussão para os próximos 4 anos para o investimento em turismo, e veremos os gastos que serão “usufruídos”pela Copa serão responsáveis por algo em torno de 2% do total dos gastos, corroborando com o discurso do “legado da Copa”.

Fonte: http://www.copa2014.gov.br/pt-br/brasilecopa/sobreacopa/matriz-responsabilidades
Outra crítica com relação aos gastos na Copa é a de que foram altos se comparados ao orçamento anual para a saúde e educação, setores fundamentais para a população e que ainda se encontram bem abaixo dos níveis satisfatórios.
Uma abordagem que tem sido feita é comparar os gastos totais com o orçamento anual. Em função dos vários governos locais envolvidos, concentremos a verificação na evolução do orçamento federal.
A FIFA ratificou o Brasil como país-sede da Copa do Mundo 4 em 2007 e a escolha das cidades-sede foi em 2009 com as reformas ou construções previstas para começar em 2010. Podemos, então, ponderar que, independente do cronograma de realização e dispêndio orçamentário, o governo teve um prazo de quatro anos para os gastos e, então, coincidi-lo com a gestão deste último governo.
Se observarmos as dotações orçamentárias do governo federal, vemos, pelo gráfico a seguir, que não houve evolução anômala nos gastos em cinco rubricas

Resumo da ópera futebolística. A tão propalada participação majoritária da iniciativa privada nos investimentos na Copa não se confirmou. Por outro lado, os gastos que serão usufruídos pela Copa são diminutos quando comparados pelo que será deixado como “Legado” e nem significou impacto significativo nas dotações orçamentárias ao longo do tempo.
O que se procurou aqui não foi contradizer as críticas aos superfaturamentos e à falta de priorização das necessidades básicas no da população, mas que estes não são legados exclusivos da Copa. A luta por mais panis e menos circus não se resume a esta temporada.
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