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‘RESPEITE TODA FORMA DE AMAR’

Por Rebeca Letieri


28 de junho é referência para os que lutam por uma sociedade livre de preconceito e homofobia. Em 2014, o movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis) tomou as ruas de diversos estados e cidades do país para celebrar a data.


O dia ficou marcado na história como uma data de libertação. Em 28 de junho de 1969, cansados das humilhantes e opressoras paradas policiais em um bar em Nova York, homossexuais, drag queens e travestis foram para as ruas e deram o seu basta. E o que era pra ser uma batida policial de rotina se transformou numa revolta popular. Stonewall Inn, como é chamado o bar, foi um marco por ter sido a primeira vez em que um grande número de pessoas LGBTs se juntou para resistir aos maus tratos da polícia norte-americana contra a comunidade.


Nesta noite, a polícia prendeu pessoas trans e drags por “travestismo”, considerado ilegal pelo Estado. A hostilidade se intensificou até que um policial empurrou um dos manifestantes, que respondeu com um golpe em sua cabeça. A multidão se posicionou ferozmente, atirando garrafas e pedras contra a polícia, que não teve outra alternativa a não ser se esconder da revolta, que rapidamente ganhou mais apoio popular. O conflito durou a noite toda e continuou pelos 4 dias seguintes.


A resistência queer não acabou em Stonewall. O queer é um território de tensão contra a narrativa dominante do branco-hetero-monogâmico-patriarcado, e que também existe por afinidade com todos os que são marginalizados, excluídos e oprimidos. Para a comunidade LGBT, queer é o total rechaço ao regime do “normal”.


Com o objetivo de abraçar a causa, e celebrar a data, o coletivo Diversitas - UFF lançou a campanha "Eu tenho orgulho de ser LGBT”. A intenção era fazer com que pessoas LGBTs e simpatizantes postassem uma foto com os dizeres da campanha usando a hashtag #diversitasUFF.


Jô Assumpção é estudante de Pedagogia da Universidade Federal Fluminense, UFF, e fez parte da campanha. “A universidade é um dos lugares que não podemos nos colocar com tranquilidade. Nós temos um número muito pequeno de pessoas travestis e transexuais assumidas dentro da universidade. Muitos não se assumem por vergonha de ser excluído. A UFF têm mais de 40 mil alunos, e apenas 2 travestis e transexuais assumidos”, comentou. “Então a campanha é uma maneira de mostrar pras pessoas que nós temos LGBTs, dentro da universidade, orgulhosas de si e que estão organizadas num coletivo. A hashtag serve pra mostrar que não somos poucos e que juntos temos mais força de lutar contra a homo.lesbo.bi.transfobia”.


O coletivo Diversitas - UFF existe há mais ou menos 10 anos. E teve início como um espaço de debate organizado por professores LGBTs dentro da universidade. Com o tempo, alunos abraçados pela causa, ocuparam o espaço, e transformaram-no em um coletivo de estudantes. “Eu faço parte do Diversitas há mais ou menos 2 anos. Sou um militante, ativista pelos direitos humanos, pela dignidade humana. E isso passa por várias coisas, inclusive a sexualidade, que é o que mais me toca. Foi a opressão que eu senti mais forte. Se assumir LGBT é algo de um empoderamento difícil. O coletivo me ajudou muito a superar essa vergonha entranhada de ser LGBT. Quando eu participo da campanha, ao mesmo tempo que eu me fortaleço, é também uma forma de me sentir útil em ajudar outras pessoas a entrar nesse processo”, ressaltou.




[caption id="attachment_6370" align="aligncenter" width="470"]LGBT Jô (no topo ao centro) e @s participantes da campanha do Diversitas[/caption]

Nos dias 24 e 25 de julho, a UFF vai dar espaço ao Acolhimento Estudantil, evento que acontece todo semestre e conta com diversas barracas com temas específicos, prontas para receber os novos alunos ingressantes da universidade. O Diversitas - UFF participa todo semestre do evento, e contou para o Casarão o que está por vir: “O coletivo vai montar um mural com as fotos divulgadas pela campanha pra fazer uma intervenção. Com o objetivo de mostrar que existe um coletivo e que existem pessoas que são LGBTs dentro da universidade e não tem vergonha de se assumirem. Dessa forma, quem tá entrando não se sente sozinho, e se sente representado, o que dá mais conforto pra que essas pessoas se assumam”, contou Jô.


Para ele, o movimento LGBT progrediu bastante, porém, ainda há muito que avançar. “Eu tenho 23 anos e tinha 17 anos quando assumi. E desde aquela época eu vejo o número de pessoas assumidas aumentando. O movimento ta fazendo com que as pessoas se sintam mais a vontade e mais livres pra se expressarem. Mas ao mesmo tempo, o numero, desse ano, de pessoas LGBTs que sofreram assassinatos e agressões, é maior do que todo o ano passado. Isso significa que o preconceito não diminuiu. Mas não podemos deixar de considerar que quando a gente avança, é de se esperar que o número de pessoas homofóbicas responda à altura. O que a gente tem q fazer é resistir e não deixar que eles sejam mais fortes”, completou. “O melhor de ser gay é poder dar pinta. É ser quem você quiser ser. E você ter orgulho de ser LGBT é isso”.



ORGULHO LGBT


2014 marca mais um avanço do movimento de luta LGBT. No dia 26 de junho, foi sancionado a lei que torna o GDN, Grupo Diversidade Niterói, Patrimônio Cultural Imaterial da cidade de Niterói, do estado do Rio, de autoria do Vereador Leonardo Giordano, do PT. A cidade foi palco do I Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT que teve início às 18h do dia 5 de junho, no Centro Petrobras de Cinema, em São Domingos e é fruto de uma parceria entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Prefeitura de Niterói, através da Secretaria Municipal de Cultura, da Fundação de Arte de Niterói (FAN) e da Coordenadoria de Defesa dos Direitos Difusos e Enfrentamento à Intolerância Religiosa (CODIR) e com o apoio da Secretaria de Estado de Cultura.


Para o vereador Giordano, o movimento ainda precisa avançar. “Tem muita homofobia pra ser combatida, mas a gente olhando pra trás, fica muito feliz, porque um bom caminho já foi andado, e esperamos que essa causa avance cada vez mais”, acrescentou.


Vinicius Souza, que também compareceu ao evento representando o Diretório do Centro Estudantil, DCE, da UFF, falou sobre a responsabilidade dos dirigentes frente ao debate contra a homofobia, e defendeu o apoio integral do diretório ao movimento. “Primeiro a gente precisa fazer uma análise muito básica: o estatuto do DCE da UFF determina que nos temos obrigação de lutar contra toda intolerância e opressão e todo tipo de preconceito existente. Então de antemão o DCE da UFF apoia integralmente essa atividade que está acontecendo aqui. E vai continuar atuando o tempo todo pra que os LGBTs tenham seu direito respeitado dentro do ambiente acadêmico”, acrescentou.


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