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Aécio: Perseverança tucana

Por Gabriel Vasconcelos e João Pedro Soares



A campanha: uma chegada inesperada


Após três derrotas consecutivas na disputa pela Presidência da República – com José Serra, em 2002 e 2010, e Geraldo Alckmin, em 2006 – o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) lançou a candidatura do mineiro Aécio Neves. Considerado o quadro mais carismático do partido, o atual senador venceu a resistência interna à sua candidatura, representada pela ala paulista da legenda, liderada pelo senador recém-eleito José Serra.

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Após ser praticamente descartado das previsões de 2º turno, devido à ascensão fulminante de Marina Silva (Rede Sustentabilidade), o neto de Tancredo Neves mostrou seu poder de reação, sobretudo na última semana da corrida eleitoral e recebeu cerca de 34,8 milhões de votos, o que lhe rendeu a vaga no 2º turno, ao lado de Dilma Rousseff. Para analistas políticos, os ataques de adversários que evidenciaram as contradições de Marina, enfraqueceram as expectativas em torno da ex-senadora, o que teria feito o chamado “eleitor do voto útil” - aquele unicamente disposto a derrotar Dilma Rousseff - a vislumbrar mais possibilidades em Aécio Neves. A soma dos “sufrágios úteis” aos do tradicional eleitorado tucano, majoritariamente concentrado em São Paulo (¼ do total obtido por Aécio) foi suficiente para atingir a inesperada marca de 33,5% dos votos válidos.

Agora, para o segundo turno, o discurso, antes quase sempre focado na economia, parece se virar, também, para a necessidade de uma “nova política”, justamente a bandeira levantada Marina Silva, que declarou seu apoio a Aécio nesta segunda etapa. O objetivo é claro: conquistar os 22 milhões de votos da candidata do PSB que lhe permitiriam alcançar a maioria no pleito.

Outros trunfos para superar a petista são a ênfase na necessidade de alternância no Executivo federal e o quadro econômico desfavorável. Como alternativa, ele apresenta a indicação de Armínio Fraga – presidente do Banco Central durante o governo Fernando Henrique – ao cargo de ministro da Economia. À despeito do que argumentam a presidente Dilma e a campanha do PT, Armínio afirma que a crise internacional já está superada. Logo, não haveria motivos para o Brasil crescer nas taxas atuais, a não ser por má gestão da equipe econômica.

Com o objetivo de conquistar o eleitorado de menor renda, a principal base de sustentação do PT hoje, o tucano promete manter os programas sociais criados durante as gestões de Lula e da própria Dilma. Além disso, busca atribuir a criação do Bolsa Família, maior programa de transferência de renda já criado pelo Governo Federal, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A relação de Aécio com FHC, aliás, é dicotômica. Ele conta com integral apoio do ex-presidente, e não reluta em se apresentar como seu seguidor. Mas, quando é confrontado com argumentos que remetem aos oito anos de mandato de FHC, enfatiza que não são a mesma pessoa e que é preciso pensar à frente.

Assim como Dilma, se eleito, Aécio também deve ficar refém do loteamento de cargos para alcançar a governabilidade. Apesar do crescimento do PSDB na Câmara, com o ganho de dez parlamentares, uma eventual maioria nas votações dependeria da composição com partidos de grande representatividade, como o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Com a guinada conservadora que as eleições de 2014 provocaram no Congresso, é provável que a eleição do candidato tucano impulsione medidas também tacanhas, como a redução da maioridade penal - principal bandeira de seu vice, o atual senador Aloysio Nunes - e gere um entrave para as lutas ligadas aos direitos humanos. Por outro lado, é inconteste que sua eleição significaria um choque de confiança econômica com potencial atração de investimentos. Isso se deve, à princípio, à sua boa relação com o empresariado e as promessas de Armínio Fraga sobre reforma tributária e políticas mais horizontais - que tenham impacto na economia como um todo e não só em setores estrategicamente designados pela pasta da Fazenda.

Outra área que pode sofrer sérias mudanças com uma eventual eleição de Aécio é a pasta de Relações Exteriores e, tão, logo a política externa brasileira. Por mais de uma vez Aécio já sinalizou que promoveria um afastamento econômico e, sobretudo, ideológico do país com relação ao Mercosul e uma reaproximação comercial com antigos parceiros como os Estados Unidos e, principalmente a União Europeia. Nos últimos anos, o bloco europeu tem tentado fechar acordos de livre comércio com países de todo o mundo, mas, segundo o Mercosul, a lista de contenciosos (produtos em negociação) não é vantajosa ao Cone Sul porque o mercado europeu é muito fechado a produtos importantes para o brasileiras e seus vizinhos como as commodities agrícolas como o algodão e o frango. Mesmo assim, Aécio Neves já teve encontros com lideranças da UE, como o ex-presidente da Comissão Europeia, Manuel Durão Barroso, para quem confirmou seu interesse na negociação, como forma de expandir mercados para o Brasil. Quanto aos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que inclusive criaram um banco de financiamento, é improvável que a integração recue, independente, do governo eleito.

História: uma vida em Minas


Natural de Belo Horizonte, Aécio Neves tem 54 anos e é graduado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Quando jovem, ele ocupou cargos públicos por indicação de seu avô e ingressou na vida parlamentar aos 27 anos, como deputado federal por Minas Gerais, função que exerceu por quatro mandatos, até 2002. Entre 2001 e 2002, chegou a presidir a Câmara dos Deputados. Neste mesmo ano, foi eleito governador por Minas Gerais e reeleito em 2006, obtendo a maior votação já registrada no estado. Ele terminou o mandato com aprovação de 92%, muito em função do alto investimento em obras de infraestrutura, como a abertura de estradas e avenidas em todo o estado. Durante as eleições deste ano, essa taxa vem sendo relativizada, já que seu candidato para o governo de Minas, o também tucano Pimenta da Veiga, perdeu a disputa no primeiro turno, para o petista Fernando Pimentel. Além disso, pesam reclamações constantes de servidores públicos da Educação e Saúde sobre o período em que ele esteve à frente do governo mineiro. Em 2010, renunciou ao cargo de governador para concorrer ao Senado e foi eleito com a expressiva marca de 7,5 milhões de votos.

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