Por Carolina Viana e Laura Alonso
Conhecida pela qualidade de vida dos habitantes e pelo estilo de vida tranquilo, Niterói tem enfrentado nos últimos anos problemas de cidade grande. Desde 1991, ela está entre os 10 melhores municípios para se viver no Brasil, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Para os residentes e frequentadores, no entanto, a realidade contradiz a exatidão das estatísticas. Violência acentuada e mobilidade urbana são um dos desafios recentes da Cidade Sorriso.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) revelam o aumento de ocorrências de roubos a pedestres. Recentemente, um caso de estupro no Gragoatá chamou a atenção de alunos da Universidade Federal Fluminense (UFF). A região é frequentada por muitos jovens estudantes e abriga um dos principais polos gastronômicos da cidade, na praça da Cantareira. Ludmyla Barbosa, 20, é aluna de Ciências Contábeis da UFF e adota práticas para evitar assaltos nos caminhos que faz em horários noturnos. "Independente de estar com pressa ou não, eu espero o ônibus da UFF e ando sempre em grupo. E não ando com o celular na mão", relata.
Para os moradores mais antigos, a decorrência desses casos resultou em mudança de hábitos. Cecília Rodrigues, 32, mora no bairro do Fonseca há 12 anos e evita andar sozinha depois das 23h pelo bairro. “Eu parei de chegar de madrugada. Se eu sair, eu durmo na casa de alguém pra não voltar pra casa. Nem de táxi, porque ele não aceita ir pro Fonseca às vezes”, diz.
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Além de problemas com a segurança, Cecília enfrenta cerca de duas horas de trajeto do trabalho para casa. A profissional de comunicação utiliza as barcas e ônibus municipais de Niterói. “Vi uma melhora quando surgiu o corredor expresso. Organizou a bagunça que era, porque os ônibus paravam em qualquer lugar. Mas melhorou a organização, não o tempo de trânsito”, relata sobre a Alameda São Boaventura, por onde passa todos os dias.
Diante do trânsito intenso nas principais vias da cidade, a população encontrou na bicicleta uma alternativa de locomoção. Um projeto de implementação de ciclofaixas e ciclovias pela prefeitura, iniciada no final de 2011, tornou a viagem de ciclistas menos perigosa. "As ciclofaixas que existem agora ajudaram bastante, por mais que os carros e ônibus não respeitem tanto. Agora temos um pouco mais de segurança e menos chance de sermos atropelados”, conta o estudante de publicidade Arthur Figueiredo, 26.
A convivência é prejudicada em ruas estreitas e onde o transporte sempre foi feito através de automóveis. Muitos motoristas fazem carga e descarga nas ciclofaixas, que não possuem nenhum isolamento, como blocos de concreto ou grades. Mesmo com o desrespeito da divisão do espaço, Arthur considera a hora de guardar a bicicleta nas ruas a tarefa mais difícil. "O principal problema para mim não está nem na mobilidade e sim na falta de segurança nos bicicletários públicos. Já tive a bicicleta furtada e amigos meus também tiveram suas bicicletas furtadas.”
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Uma cidade de disparidades educacionais e sociais
Ser o único município do estado do Rio de Janeiro entre os dez melhores do Pnud não garante a Niterói o posto modelo de modelo em educação. A faixa de 0,773 pontos do IDHM não detalham as condições das escolas e a formação dos alunos.
Gustavo Ribeiro (21), bolsista da Escola Estadual Manuel de Abreu, em Icaraí, analisa com olhos de um futuro professor o cotidiano de alunos prestes a se formar. “A educação pública de Niterói, assim como na cidade do Rio, enfrenta problemas relacionados à estruturação das escolas e a má condição de trabalho dos profissionais envolvidos, principalmente os professores”, explica.
O déficit educacional começa desde a base do ensino, ainda na alfabetização. Com a experiência nas salas de aula, o estudante de Geografia acredita que faltam investimentos em toda a estrutura educacional pública. “Os alunos passam de ano com grandes dificuldades no desenvolvimento da escrita e leitura e concluem o ensino médio sem apresentar uma preparação de qualidade para a inserção no ensino superior.”
Assim que terminam o ciclo médio de educação, os jovens já esbarram na disparidade social de Niterói. Mesmo tendo obtido um IDHM renda elevado, ele não reproduz com exatidão as desigualdades socioeconomicas da cidade. De acordo com a pesquisa sobre classes econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2011: 30,7% da população niteroiense faz parte da chamada “classe A”, que são considerados ricos ou milionários.
“Niterói que queremos”
Participação popular para melhorar a cidade. Através de pesquisas públicas na internet e entrevistas com personalidades, a prefeitura de Niterói criou o projeto “Niterói que queremos”. A intenção é alcançar melhorias em até vinte anos.
Através do site niteroiquequeremos.com.br, onde foi disponibilizado um espaço de ouvidoria, cerca seis mil pessoas puderam contribuir para a criação de um plano estratégico de desenvolvimento. A iniciativa já aguarda uma nova etapa, prevista para novembro, em que serão apresentados indicadores e metas a longo, médio e curto prazo.
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