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O Quadrante 32


Texto e fotos por Cláudio Barbosa


Há quatro séculos, numa época em que não havia lunetas nem telescópios, e a observação dos astros era feita a olho nu, um pesquisador alemão fundou no Brasil o primeiro observatório astronômico moderno das Américas, baseado num instrumento até então inédito: o Quadrante Astronômico. A partir dele, foi possível construir catálogos de estrelas, medir o movimento dos planetas, determinar a inclinação da órbita da Terra em relação ao Equador e observar eclipses da Lua.




[caption id="attachment_7064" align="aligncenter" width="470"]Observatório 2 Observatório Nacional[/caption]

A experiência criada por Jorge Marcgrave, naturalista e astrônomo alemão autor do Quadrante Astronômico e fundador do observatório brasileiro, foi reconstruída no Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast). Com base em estudos feitos pelo pesquisador da Universidade de São Paulo, Oscar Toshiaki Matsuura, foi possível reproduzir no campus do Museu uma estrutura de madeira que retrata, em tamanho real, o espaço em que Marcgrave realizava as medições do céu, além de um Quadrante Astrônomico similar ao utilizado pelo pioneiro.




[caption id="attachment_7051" align="aligncenter" width="225" class=" "]Observatório no telhado em Recife. Foto: Cláudio Barbosa Observatório no telhado em Recife.[/caption]

Para a exposição “Observações do Recife Holandês”, foi construído um Quadrante a partir das descrições de época e de pesquisas recentes desenvolvidas com o auxílio de recursos técnicos e softwares específicos, que permitiram a releitura de uma experiência observacional realizada em Recife.


De acordo com Oscar Matsuura, pesquisador colaborador do Mast / MCTI, Marcgrave inaugurou o observatório em Recife em 15 de setembro de 1639. Uma plataforma quadrada foi construída no telhado do casarão. O observatório, de formato hexagonal, ficava no centro da plataforma e tinha  dois andares. A sala de cima tinha janelas de vidro e abrigava o principal instrumento, o Quadrante de 5 pés (cerca de 1,5 m).




[caption id="attachment_7054" align="aligncenter" width="300"]Oscar Matsuura Oscar Matsuura no Quadrante[/caption]

Oscar Matsuura disse que seu trabalho se iniciou ao vir para o Mast, quando começou a estudar a Astronomia de Marcgrave, um alemão que acompanhou a missão da corte de Nassau para Recife, em 1638. Muitas cartografias de Marcgrave não foram publicadas, mas há muitos documentos no observatório do país, e no arquivo da cidade de Laiden, na Holanda. “Eu me interessei por esses manuscritos de astronomia. E foi um trabalho de muitos anos, muito tempo, e o resultado foi um livro que escrevi “O observatório no telhado”, que conta as atividades de Jorge Marcgrave no Brasil. Divulguei trabalhos. E no Mast houve o interesse em reconstruir o equipamento. Contribuí com os desenhos”.




[caption id="attachment_7050" align="aligncenter" width="225" class=" "]Desenhos feitos por Jorge Marcgrave Foto: Cláudio Barbosa Desenhos feitos por Jorge Marcgrave[/caption]

O quadrante de 5 pés foi construído no Brasil com madeira de lei, que os portugueses chamavam de “pau-santo”. Ao apontar a mira do quadrante para um astro, podia-se ler nos círculos graduados os ângulos da altura e do azimute do astro. O quadrante tinha uma sofisticada mira, chamada pinacídio ticônico, que possibilitava maior precisão no apontamento dos astros.


Jorge Marcgrave


Segundo Heloisa M.Gesteira, pesquisadora do Mast, Jorge Marcgrave nasceu em Liebstad, na região da atual Alemanha, em 1610, e faleceu em 1644, quando chegou a Angola, onde continuaria seus estudos sobre a natureza local. Frequentou várias universidades, entre as quais a Universidade de Leiden, importante centro intelectual da República das Províncias Unidas. Nessa instituição, assistiu a aulas de medicina e de astronomia, tendo, portanto, uma formação bastante vasta. Através de algumas publicações ainda feitas no século XVII e documentos guardados em arquivos, foi possível reproduzir o Quadrante.


Além dos estudos sobre a fauna e a flora e da confecção de mapas sobre a região, Marcgrave dedicou-se aos estudos sobre o clima. De 1639 a 1642, o astrônomo realizou observações meteorológicas que foram registradas em tabelas publicadas sob o título de Tractus topographicus e meteorologicus Brasiliae cum eclipsi solaris na obra Indiae utriusque res naturalia et medica, de 1658.


A Exposição


Segundo Heloisa Meireles Gesteira, historiadora e curadora da exposição, o trabalho é o resultado de um trabalho desenvolvido pelas quatro áreas de atuação da instituição: história das ciências, museologia, divulgação e educação em ciências.


"Observações do Recife Holandês" reconstitui parte dos trabalhos de Jorge Marcgrave, jovem sábio que viveu na América entre 1638 e 1644. No Recife, ele realizou observações sobre o clima, as terras, as plantas, os animais, as gentes e o céu do Hemisfério Sul, até então pouco conhecido entre os astrônomos europeus.


Eugênio Reis, coordenador de educação e ciência do Museu explica o objetivo da exposição, e como tem sido idealizado o projeto para o museu. “Esta exposição é o resultado de um trabalho de longos anos, e o Prof. Matsuura, vem fazendo o resgate dessa história, de  um observatório que parece que foi o primeiro que o Brasil teve, e recentemente considerado um dos maiores observatórios da época. E esse Quadrante não é a reconstrução da réplica. Ele não é baseado no instrumento oficial, ou seja, ele é baseado nos relatos que Marcgrave fez em seus livros. O Quadrante tem desenhos e medidas, mas é um desenho. E foi baseado nesses desenhos que foi reconstruído esse instrumento. E ele é um representante de um instrumento astronômico muito importante para uma época pré-lunetas, pré-telescópica. Quando as observações astronômicas eram feitas a olho nu.”, explica.


Para obter informações para visitas ao Museu ou sobre a exposição "Observações do Recife Holandês", acesse: http://www.mast.br/exposicoes_hotsites/exposicao_observacoes_do_recife_holandes/index.html

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