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Niterói em duas rodas

Por Marcos Kalil e Gabriela Antunes


Desde as manifestações de junho de 2013, a mobilidade urbana vem ganhando cada vez mais destaque. Em São Paulo, a bicicleta ganhou protagonismo nessa discussão, como uma alternativa para o modelo de cidade focado no carro. A implantação de vários quilômetros de ciclovias por diferentes bairros da capital gerou insatisfação em alguns, que viram na iniciativa uma afronta ao já caótico trânsito local, mas também vem angariando aplausos daqueles que pedem por um meio de transporte ambientalmente consciente e menos individualista.

A cidade de Niterói também vem trabalhando para aumentar o número de ciclista e ciclovias, contribuindo assim para uma melhora da mobilidade urbana. Através do projeto Niterói de Bicicleta, já foram implantados mais de 15km de ciclofaixas e outros 10km de ciclovias ainda estão sendo construídos. “A bicicleta representa esse despertar do brasileiro acerca da mobilidade e da sustentabilidade, um modelo menos ostentatório. Mais contato com a natureza e um tipo de vida comunitário.” declarou a ciclista Lilian Rebelo, publicitária, 36 anos. Em meio a esses ideais, algumas pessoas vêm se organizando e criando grupos de ciclista que tem como principal objetivo incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte. Um destes grupos é o Pedal Sonoro.

O coletivo Pedal Sonoro surgiu em dezembro de 2013 com o mote de reunir ciclistas para pedalar ao som de músicas pelo trajeto escolhido. Luís Araújo, um dos criadores do grupo, declarou que inicialmente o evento era organizado por quatro pessoas, mas as necessidades foram crescendo à medida que a visibilidade também crescia. “Percebemos que, se não ampliássemos o número de voluntários, um belo dia a atividade poderia não acontecer por falta de braço”, contou ele. “Atualmente somos umas 15 pessoas mais diretamente ligadas à realização do Pedal Sonoro”, concluiu.

Prestes a comemorar um ano, o Pedal Sonoro atrai de 100 a 150 ciclistas em suas atividades. Durante o evento, todos os participantes recebem o Código Brasileiro de Trânsito e ficam cientes dos direitos e deveres dos ciclistas. O trajeto é também todo sinalizado, para que não haja nenhum acidente. No mês de outubro, em comemoração ao Dia das Crianças, o coletivo resolveu organizar o Pedalzinho Sonoro, no qual o público alvo seria o infantil. O evento aconteceu no Campo de São Bento, em Icaraí, e atraiu cerca de 80 pessoas, incluindo familiares. Os meninos e meninas que compareceram já demonstram saber que é importante incentivar o uso das bicicletas, Alvaro Antonio, de 11 anos, estava muito empolgado com o percurso. Ele contou que anda sempre de bicicleta e que seus parentes a utilizam para ir trabalhar. “Acho importante andar de bicicleta, porque assim não usa o carro. Eu acho errado as pessoas só andarem de carro e não respeitarem os ciclistas. Andar na rua é um direito de todo mundo. A bicicleta não polui o ambiente e o ciclista ainda faz exercício físico”, explicou o pequeno rapaz, engajado desde cedo.

Outro projeto que surgiu em Niterói em meio ao contexto da melhoria da locomoção foi o Mobilidade Niterói. O grupo de Trabalho, denominação usada pelos integrantes, realiza estudos e pesquisas sobre a questão da mobilidade, orientando outras pessoas que queriam fazer projetos a respeito do tema. Mais recentemente, realizaram uma parceria com a Secretaria do Meio Ambiente de Niterói e fizeram uma atividade nas escolas municipais, nas quais introduziram o tema para diversas crianças e adolescentes. Segundo umas das criadoras, Ana Luiza Carpone, este trabalho é muito importante, porque apesar de não reunir tantas pessoas como os eventos, incentiva uma discussão mais profunda. “A questão da mobilidade abrange muito mais do que só a questão da bicicleta, passa pela melhoria do transporte coletivo, do espaço público da cidade e educação da população” conclui ela.

Mesmo com o aumento do número de ciclofaixas e alguns projetos de sucesso, se locomover de bicicleta por Niterói não é tarefa fácil. Há um desrespeito muito grande em relação à demarcação das faixas, cometido tanto por pedestres quanto por automóveis, além do não cumprimento das leis de trânsito relativas a bicicletas. Para Ana Luiza, um dos grandes motivos para o desrespeito às ciclofaixas é o péssimo estado das calçadas de Niterói, que faz com que os pedestres andem na rua. “As pessoas estão andando na ciclovia da Amaral Peixoto porque a calçada é horrorosa. A São Lorenzo é outro desafio porque tem pedaços de calçada lá que são do tamanho do poste, aí o pedestre vai para a ciclofaixa. Se não vai pra onde? Faz o que? Isso tem que ser observado”.

[caption id="attachment_7686" align="aligncenter" width="300"]IMG_20141011_095120 (1) Crianças e adultos reúnem-se no Campo de São Bento[/caption]

Outro problema sinalizado pelos ciclistas é a falta de ligação entre os trechos de ciclofaixas e ciclovias. “Falta interligar pontos estratégicos da cidade. A Marquês de Paraná, onde moro, é uma roleta russa. Eu pedalo porque é mais conveniente, mas eu reconheço que não é fácil para quem não tem hábito de pedalar”, ressaltou Lilian Rebelo, publicitário, 36 anos. Apesar da opinião geral ser de que a situação da bicicleta melhorou muito, um consenso é que a falta de fiscalização é um dos pontos negativos das novas políticas da prefeitura de Niterói. “As iniciativas recentes da atual gestão estão sendo muito bem vindas, porém para que tudo funcione e a cidade se torne ciclável de fato, precisamos de fiscalização eficiente” ressalta Luis. Para ele, é possível disseminar o uso da bicicleta entre a maioria da população, basta que se tenham condições dignas. “A população, de modo geral, apoia a bicicleta e muitos já a utilizam como meio de transporte. Outros ainda não o fazem, mas gostariam de utiliza-la, caso houvesse uma melhor infraestrutura. Podemos avançar muito no processo se as ações que estão sendo propostas forem bem sucedidas” conclui ele.

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