Evento internacional de arte, realizado em Niterói, mostra novas possibilidades para construção de diálogos entre artista, espaço e espectador
Por Ábila Guidoti, Bruna Freire e Rodrigo Cirne
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Aconteceu de 9 a 29 de março, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, a edição de 2015 do projeto cultural Metrópole Nômade, um encontro multicultural em artes visuais, coletivo e aberto ao público para visitação e debates. Foi idealizado em Paris pela Associação METROPOLE em 2009, e já percorreu Hanói, Paris e Rio de Janeiro.
A versão de Niterói reuniu treze artistas de cinco cidades: Rio, Niterói, São Paulo, Belo Horizonte e Paris. Eles buscavam interrogar as conexões existentes entre o CCPCM e o seu entorno, o Campo de São Bento, além de confrontar as barreiras culturais que os separam e o que é arte individual e criação coletiva.
Com artistas de culturas e práticas muito variadas, a mostra teve início com um processo de imersão em um laboratório de pesquisa, na busca de criar interação entre os artistas, o espaço e o público na produção de uma obra plural. Tendo como ponto de partida a particularidade da Galeria Quirino Campofiorito, suas paredes de vidro transparente, e sua localização no Campo de São Bento, os artistas exploraram os entornos do campo buscando referências para seu trabalho, com materiais, texturas, cores e formas, que pudessem, ao longo da mostra, transformar o aspecto da Galeria.
“Uma particularidade da edição é o espaço em que foi desenvolvida, abrindo novas possibilidades de experimentação e não delimitando expectativas quanto ao resultado. O último em Hanói foi em galeria comercial, o período de relação e descoberta foi muito curto. O pessoal da galeria estava aflito: “cadê a exposição?” Aqui não havia essa obrigatoriedade. Mas como estávamos num espaço aberto e queríamos a interação entre o espaço e as pessoas a gente resolveu mostrar o processo. Nossa mostra do processo é também uma mostra em processo", comenta Abigail Nunes, articuladora e responsável pela realização do projeto. Abigail conheceu o então diretor no CCPCM Luiz Carlos de Carvalho em um vernissage no Rio de Janeiro, que após uma visita a ela em Paris, cedeu o espaço para a realização da próxima edição da mostra.
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O Desejo dos Malabaristas
As primeiras produções vieram em forma de sentimento, desejo, curiosidade, desconstrução, revelação, materializadas em desenhos, textos, fotos, poemas, pinturas, espalhadas pelos vidros do espaço. No chão, a marcação de todo bairro de Icaraí feito em linhas de fita crepe com uma pequena mesa de centro indicando o campo. Eduardo, artista mineiro que fez sua primeira participação no encontro, diz “A arte é um campo de experimento tão amplo que o lance é você usar mesmo o que vier e ver onde leva. O trabalho de arte acontece em contexto. O fato de estarmos aqui por um curto período de tempo, com pessoas que não falam a mesma língua e tem que se comunicar pra trabalharem juntas... Todo mundo é meio malabarista aqui.”
Apesar de ser o centro cultural mais antigo de Niterói, a falta de visitantes no CCPCM surpreendeu os artistas que logo pensaram em uma forma de atrair o publico, principalmente alunos das escolas próximas. Intitulada “É assim que eu quero você”, a performance do dançarino Fernando Audmouc propôs uma coreografia guiada pelos passantes: eles escolheram a musica, a roupa, o calcado e o direcionamento da dança.
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Os Totós de Icaraí
Intrigado com o aviso “cães somente na guia” localizado nas entradas do campo, Fernando Audmouc propôs-se a mais uma performance: “ Eu sou o Totó da Abiga e você é o Totó de quem?” na qual ele, após ter o corpo pintado pelo artista Luiz Carlos de Carvalho, seria guiado pelo campo pela Abigail Nunes, em um jogo de questionamentos sobre o que é realmente estar em uma guia e sobre quem é guiado e está guiando nas relações humanas. Nela, Fernando interagia com o público, hora agindo como cachorro, hora agindo como humano, causando desde risos a aparentes desconfortos.
A representação logo foi interrompida devido a um ato de violência dentro do campo. Um homem que passava pelo local em alta velocidade de bicicleta tentou atingir os performers com um chute. Eles conseguiram se desviar, mas o golpe atingiu uma criança na perna. Alan, de 7 anos, aluno do Colégio Estadual Joaquim Távora, foi socorrido por uma ambulância e hospitalizado. Populares que presenciaram a cena tentaram perseguir o homem sem sucesso. A polícia e os guardas do campo apesar de terem sido rapidamente acionados chegaram ao local quando tudo estava resolvido. Alan teve alta após dois dias de internação.
Os artistas se chocaram com a reação do publico e dos oficiais que mesmo diante de tal gesto questionaram e julgaram Fernando por estar usando apenas uma cueca “ao invés de uma sunga”, diziam, mesmo estando com o corpo inteiramente pintado. Alan foi convidado a participar da mostra e deixar sua marca na exposição.
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“Os trabalhos coletivos que eu tenho participado ultimamente são mais engessados, alguém pede um trabalho que você já desenvolveu com seu coletivo. Esse tinha cheiro de ser algo mais aberto e menos guiado. Um encontro de mãos vazias e acontece o processo. Eu acho que esses momentos são momentos do quais você se despe da sua natureza e é obrigado a descobrir algo novo, reciclar sua cabeça”
O processo continuou com as performances “DES caraí” de Fabí Mitsue e “Second Skin” de Jeanne Laurent e Luiz Carlos de Carvalho. Enquanto isso, Cápsulas de Cultura, sticks, fotos, gráficos, entre outras obras produzidas durante as duas semanas preencheram a Galeria de Arte.
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Para encerrar a mostra, os objetos foram retirados, o espaço foi limpo e foi feita uma instalação no centro da Galeria, o Ovo dos Desejos. “Nas primeiras reuniões umas das principais perguntas foi o que nos move, e uma das respostas mais importantes foi “desejo”. A Jane propôs a construção de um ovo onde pudéssemos colocar os desejos das pessoas. Quando o desejo não era secreto, os escrevemos com tinta nas paredes de vidro da galeria”. A próxima edição do Metrópole Nômade ainda não tem local e datas confirmados.
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