Após cancelamento de edições do Fashion Rio, moda fluminense passa por renovação
por Carolina Baldi e Natacha Dominicci
Março de 2015. A edição de verão 2016 do Fashion Rio, que ocorreria em março, é cancelada. Desde 2014, a moda fluminense perdeu seu principal evento promocional. Criado em 2001, o Fashion Rio nasceu de um projeto do Fórum Empresarial da Moda, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Após o cancelamento das duas últimas edições - a de novembro de 2014 e a de março de 2015 -, o desfile passa por uma reformulação. “Quando o evento foi criado, ele tinha um diferencial, um objetivo muito forte. Ao longo dos anos, a economia muda, o mercado muda, e aí surge a necessidade de mudar também o formato para conseguir atingir esse objetivo de aumento de competitividade das empresas”, explica Ana Carla Coutinho Torres, chefe de Desenvolvimento Setorial do Senai Moda Design.
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O número de marcas que participavam do evento diminuiu nos últimos tempos. No desfile de verão 2010, por exemplo, 31 grifes lançaram suas coleções, enquanto o de 2014 contou com apenas 15 marcas. Segundo Ana Carla, isso não foi resultado do enfraquecimento da moda carioca, e sim do grande número de feiras pelo Brasil e o alto custo envolvido na participação em um evento desse porte. “Hoje, os canais de compras são diversos. Os empresários do Rio acreditam que os modelos de feiras existentes já não atendem mais as expectativas dos empresários e compradores. Eles chegaram a conclusão de que o produto que possui o valor do Rio, fabricado no Rio, pode ser vendido em qualquer lugar”, completa Ana Carla.
De fato, como mostra o relatório de Desempenho das Exportações de Moda do Estado do Rio, divulgado em abril de 2014 pelo Sistema Firjan, o produto fluminense está presente em países de todo o mundo, incluindo os conhecidos pela alta exigência de qualidade, como a França. O estado representou, em 2013, 15% das exportações de moda brasileira e o preço médio dos produtos cariocas - US$ 73/kg - foi 41% maior do que a média do país, entre 2009 e 2013.

A indústria da moda do Rio também é expressiva dentre os setores do estado: ela é a que mais emprega na indústria de transformação - que transforma a matéria prima em produto. O setor também possui grande influência sobre os demais por captar os desejos dos consumidores e possuir grande capacidade de adaptação às tendências de consumo, abrindo caminho para os demais segmentos.

A cadeia de moda fluminense abrange os segmentos: têxtil, confecção, vestuário, calçados, bolsas, acessórios, jóias e bijuterias. Ela é 90% composta por pequenas e médias empresas, cujo foco é fornecer seus produtos, e não consolidar uma marca, como pretendem as grifes. “Cada um dos nichos possui seu papel dentro da cadeia. As grandes marcas divulgam nosso estado e seu potencial criativo, e as pequenas são a base de nossa indústria”, destaca Ana Carla. Ela, no entanto, ressalva que algumas empresas pequenas também estão começando a construir uma identidade para suas marcas: “Elas produzem, são fornecedoras, e ao mesmo tempo têm marca própria para ter um diferencial no mercado. Aqui pela Firjan, a gente tem ações que promovem esse desenvolvimento setorial, que leva informação qualificada para essas empresas, que dá acesso ao mercado. Vinculado ao Fashion Rio, por exemplo, tem o Cria Rio, que abrange as empresas dos pólos de moda do estado”.

O Fórum Empresarial de Moda tem se concentrado em projetos como o Cria Rio, que buscam fortalecer as marcas fluminenses, para que elas ganhem mais representatividade e visibilidade por todo o país. Para levar mais informações sobre a moda do Rio para outros estados, há também o Guia Cria Rio, que disponibiliza o contato e o endereço de empresas de moda do estado, o que facilita o encontro das marcas pelos consumidores.
O Fórum também aposta no incentivo aos novos talentos como forma de fortalecer a moda fluminense. “Esse estímulo é super importante para a renovação do mercado”, ressalta Ana Carla. Desde 2009, o Fórum promove o projeto Despertar para Moda, que pretende aproximar crianças e jovens das profissões dessa indústria e atendeu, até 2014, mais de 400 crianças em várias cidades do estado. “O projeto tem o objetivo de sensibilizar crianças e adolescentes, os profissionais do futuro, e mostrar que a indústria da moda vai além do simples ato de costurar, envolvendo todo um processo de tecnologia, criatividade e técnica”, aponta Ana Carla. Para ver mais sobre o projeto Despertar para Moda, clique aqui.
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E é incentivando novos talentos e fortalecendo o mercado já existente que a moda fluminense, assim como o Fashion Rio, passa por um processo de renovação. As novidades para o evento ainda são guardadas a sete chaves pelos organizadores, que só adiantam que o evento voltará consolidando ainda mais as marcas do estado e gerando mais competitividade para as empresas. Para os seguidores da moda do Rio, só resta uma coisa: aguardar.
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