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A traçar o próprio caminho

Banda recém formada lota estabelecimentos em Niterói e quer muito mais

Por Gabriel Rolim e Lucas Alves

[caption id="attachment_8528" align="aligncenter" width="660"] Os integrantes da banda Descalçados antes de mais um show em Niterói[/caption]

Tarde de quarta-feira em Icaraí. Dia de ensaio da banda Descalçados. Depois de uma longa caminhada, estamos chegando no final da rua Otávio Kelly. Temos uma ladeira pela frente, até chegar no estúdio. Antes de subi-la, encontramos o baterista da banda, Erik Walker. Nome de estrela. Ele vinha carregando suas bolsas com pratos e baquetas. Ao perceber nossa presença, abriu um sorriso. “É bom quando a gente encontra alguém no caminho pra ajudar a subir com esse peso (risos)”. Logicamente, não negamos o pedido e o ajudamos. A ladeira não era tão grande. Chegamos rapidamente. Logo vimos o vocalista e guitarrista Vitor Milagres com seu belo black power na sacada. Ele abriu o portão. Ao entrar, já vimos o outro guitarrista Guilherme Kraft (mais um nome de rockstar), o baixista Arthur Araújo e o performático tecladista e vocal, Cristiano Bastos.

A Descalçados é uma banda independente, que, assim como muitas outras, sofre com as dificuldades de se iniciar uma carreira. “A gente já conseguiu ganhar um dinheiro com shows, mas não é nem o suficiente pra cobrir custo de ensaio, nem nada disso”, revela Cristiano. A banda foi formada por amigos de colégio e pretende lançar seu primeiro EP já no ano que vem. “A gente quer um EP com uma história toda em cima, a gente não quer só fazer a música e ela ser legal, a gente quer que tenha toda uma história por trás disso” – comenta Vitor.

Niterói sempre foi conhecida por ser uma potência cultural. Músicos como Zélia Duncan e Sergio Mendes se destacaram por aqui e fizeram história. Entretanto, com o tempo, o cenário se modifica para pior. A prefeitura do município possui projetos como o “Arte na Rua”, que organiza eventos pelos principais pontos da cidade, mas, segundo alguns artistas, a Fundação de Arte de Niteroi não está pagando os cachês dos músicos que participam da iniciativa. Seriam R$ 700,00 independente do número de integrantes. Contrastando esse fato com a presença de propagandas que promovem a gestão em horário nobre da Rede Globo, fica claro o descaso da FAN com o seu próprio contexto artistico.

[caption id="attachment_8529" align="aligncenter" width="660"]Caminho Niemeyer tem sido usado para festas elitizadas Caminho Niemeyer tem sido utilizado para festas elitizadas[/caption]

A falta de comprometimento não para por aí. Espaços públicos destinados à propagação da arte na cidade muitas vezes são usados de formas indevidas. Um exemplo a ser citado é o Caminho Niemeyer que costuma ser fechado para eventos particulares, como o Holi One, que ocorreu no último dia 02 e cobrou taxas nada populares para a entrada. Os preços estavam entre R$ 80,00 e R$240,00. Já a Concha Acústica, além de ser pouco conhecida, passa a maior parte do tempo fechada, deserta e sem nenhum policiamento, o que põe em risco a segurança de qualquer um que queira frequentar o lugar.


Leia a matéria “Caminho Niemeyer: privatizaram um espaço público”


Outro grande obstáculo enfrentado pelas bandas independentes em Niterói é a dificuldade para tocar em casas e bares. “Encontrar lugar você encontra, o difícil é tocar. É uma burocracia absurda. Você às vezes precisa tocar só cover, não pode expor o seu trabalho autoral, porque não é o que o público da casa quer ouvir”, explica o baterista Erik. Ele também reclama da falta de atenção por parte dos donos de estabelecimentos, segundo ele, é necessário mandar o seu trabalho e às vezes os proprietários nem se dão ao trabalho de ouvir.


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Para tentar driblar essas dificuldades, a banda está organizando um festival, o Sinestesia, juntamente com as bandas Feels Like e In-Versos. O evento permitirá às bandas mostrar suas próprias composições ao público, além dos covers já corriqueiros. “Eu acho que é um jeito de fugir um pouco da burocracia de alguns festivais de música, que escolhem um ganhador. E o nosso é mais tocar por tocar mesmo”, avalia o baixista Arthur. O guitarrista Vitor Milagres explica as dificuldades de se organizar um festival. “Tive que correr muito atrás de patrocínio. Como tinha várias bandas, cada um sabia contato de som, contato de iluminação, aí foi mais fácil”, ele comenta.


Veja o ensaio “Arte se começa em casa” feito com a banda Feels Like


O festival Sinestesia ocorre no próximo dia 27, no Rotary Club de Niterói, em São Francisco. Os ingressos custam R$15,00 e são vendidos pelos integrantes das bandas participantes. A abertura é às 17:30 e fica por conta da banda Feels Like. Às 19h é a vez da banda In-Versos entrar no palco. A Descalçados fecha o evento às 20:30.




[caption id="attachment_8530" align="aligncenter" width="660"]12032138_1012588435429988_6463461360406924983_n Flyer oficial do Festival Sinestesia[/caption]

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