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Tem que torcer!

Clubes do Rio sofrem com pouco investimento, mas contam com fidelidade de torcedores apaixonados


Por Renata Amaral e Aline Ventura


Parece óbvio pensar em Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco quando se fala de futebol carioca – mas não para todo mundo. O futebol brasileiro é comumente subdivido entre clubes grandes e pequenos. A discrepância de investimento entre os maiores e menores também afeta o número de torcedores. Embora os times de menor expressão do Rio contem com uma longa história de glórias e com torcidas apaixonadas pelos clubes,  em 2014 contavam com 12,9% dos torcedores, contra 87,1% dos fãs dos grandes, de acordo com o IBOPE. A tradição, no entanto, é passada de geração para geração.


“Minha relação com a Portuguesa vem desde pequeno. Desde os primeiros anos de idade, meu pai, minha mãe, minha avó, meus tios, minha família que mora toda na Portuguesa, sempre me levou, sempre gostou muito do clube Eu sempre joguei bola e fui atleta lá. Meus amigos também moram e sempre frequentaram o clube. Sempre tive muito carinho e gratidão”, explicou Gustavo Varella, torcedor da Portuguesa do Rio de Janeiro, embasado por Hilton Taboada, fã do América-RJ:


“O meu avô paterno era América e me influenciou na escolha, juntamente com o meu tio, que era torcedor fanático e me levava ao estádio. Tenho uma filha de oito anos e ela já é América.”


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A diferença entre os quatro maiores e os demais times do Rio está no investimento financeiro, nos pilares de sustentação e na infraestrutura. Além de Fluminense, Flamengo, Botafogo e Vasco, apenas o Macaé, que joga a Série B do Brasileirão, recebe dinheiro das cotas de televisão - um valor de R$ 270 mil mensais, uma disparidade em relação aos cerca de R$ 9,5 milhões recebidos pelo Rubro-Negro, por exemplo. O restante dos clubes depende essencialmente das receitas geradas durante o campeonato estadual.


A torcida não hesita em apontar um fator crucial, além da verba, para que o abismo entre os clubes continue existindo: o papel da mídia. Sem muita cobertura das equipes menores, o público fica propenso a acompanhar apenas a rotina dos “times grandes”.


“Falta mídia. Divulgação do dia a dia do clube. Quando comecei a me interessar por futebol e consequentemente pelo América, ainda existia um setorista para o time, que cobria o dia e os treinos do clube”, explicou Hilton.


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O Mecão conta com 31 títulos em sua prateleira, sendo um deles nacional, três regionais e 27 estaduais, dos quais sete são de campeão do Carioca. Apesar da trajetória vencedora e de ser considerado um clássico do Rio, o América não disputa o Brasileirão desde 2011 – a última participação, em 2010, foi na Série D. Já no Estadual, desde 2012 o time amargava a disputa da Série B. Foi apenas neste ano que o Diabo conseguiu se classificar e retornar à elite do futebol carioca.




[caption id="attachment_8486" align="aligncenter" width="660"]Matéria do Jornal O Dia sobre a volta do America à Série A do Carioca Matéria do Jornal O Dia sobre a volta do America à Série A do Carioca[/caption]

“Foi uma sensação de alívio e uma alegria imensa. Durante o período em que o América esteve na segunda divisão, sentia um vazio muito grande quando assistia aos jogos do Campeonato Carioca”, disse Hilton, que não torce para mais nenhum time.

O caso de Paulo Vinícius Inácio é diferente. O torcedor da Portuguesa, de 21 anos, torce também para o Vasco da Gama. Seguindo na contramão da maioria dos torcedores, o morador da Ilha do Governador não tem dúvidas: a Lusa é o seu primeiro time.

“Eu tenho o papel de mobilizar e estruturar a torcida organizada Brava Raça Lusitana, e contagiar os jogadores com o apoio dentro do campo. O Vasco vive um momento complicado, assim como os outros quatro grandes devedores do futebol carioca. O Maracanã foi demolido e a cada dia mais estão querendo acabar com a cultura de arquibancada, com ingressos caros, estádios de grife. Mesmo com o Vasco sendo um dos quatro que a mídia mais fala, o único que de fato tem um estádio próprio, os jogos estão cada vez mais inacessíveis às famílias de classe média e baixa. Na Portuguesa isso ainda não chegou, mas creio que agora, com o acesso, infelizmente muita coisa mude”, explicou o torcedor, que completou falando do amor pela Lusa:

“Foi amor à primeira vista, torcer para o clube do bairro em que fui criado. Além disso, a Portuguesa vive o futebol de verdade, longe das arenas e dos cartolas. O futebol e o amor ao clube é levado em primeiro lugar, sem tanta interferência das empresas e do famoso ‘futebol moderno’, que elitiza os estádios e assombra o Brasil hoje.”

 

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O futebol carioca vive atualmente em declínio. Com apenas três dos considerados grandes na primeira divisão do Campeonato Brasileiro e um na Série B, não se veem mais muitos clubes do Rio disputando com força a competição nacional. O Macaé briga para não cair na segunda divisão, enquanto Madureira e Caxias, que disputaram a Série C neste ano, foram rebaixados para a divisão inferior, onde Resende, Duque de Caxias e Volta Redonda lutam sem nenhuma expressão.

A falta de força em que se encontra o esporte no estado e problemas cada vez mais crescentes com a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) fez com que Flamengo e Fluminense optassem por criar uma liga independente para ser disputada no próximo ano. A Sul-Minas-Rio tem projeto para envolver os principais clubes cariocas e os de outros estados também. A criação novamente não engloba ou melhora a situação dos times de menor investimento, pelo contrário. Com o foco em outra disputa, os cariocas ficarão cada vez mais preteridos pelo público, mídia e investidores.

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“A decadência do futebol carioca está ligada diretamente à decadência de clubes como América e Bangu, pois se diminuiu a qualidade e competitividade do Campeonato Carioca. Tenho certeza de que se os clubes ditos grandes criassem um projeto de fortalecimento dos clubes menores, com intercâmbio de atletas, infraestrutura, objetivando a subida da qualidade técnica desses times e inclusive ascensão às divisões nacionais, ao invés de estarem buscando alternativas de outras Ligas, tenho certeza de que todos sairiam ganhando”, disparou Hilton, que não escondeu seu sonho:

“Imagina se o futebol do Rio voltasse a ter cinco clubes na Primeira Divisão do Brasileiro, dois na Série B e tantos outros nas demais séries... proporcionaria um calendário anual a estes clubes, receitas e junto a isso uma melhor qualidade dos elencos e valorização do campeonato regional.”

E parece que as preces do torcedor fanático do América foram atendidas. Recentemente o clube anunciou uma forte parceria com o Corinthians para a próxima temporada, justamente no quesito jogadores – o time paulista cederá atletas por empréstimo para o Mecão disputar a Série A do Campeonato Carioca com expressão dentro de campo, pois a força da tradição o clube já tem.

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