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O comércio informal na UFF

Por Larissa Isabela e Leon Lucius

Foto: Leon Lucius

Quem entra no prédio principal do Instituto de Artes e Comunicação Social vê uma antiga mesa de madeira repleta de potes com doces, sanduíches, bolos, tortas e uma garrafa térmica com café. Ao lado de cada uma das opções, seu preço e uma caixinha para colocar o dinheiro; uma cena que vem se tornando cada vez mais comum no cotidiano dos alunos da Universidade Federal Fluminense.
No IACS, o comércio informal é recente. Ele começou no segundo semestre de 2015 com uma pequena e esporádica quantia de brigadeiros e, hoje, já ocupa um espaço maior e tem produtos mais diversos. Já no campus do Gragoatá, na mesa sob o bloco N, entre as filas do “bandejão” ou nos corredores dos prédios, os doces e lanches já chamam a atenção há mais tempo.
QUEM COMPRA
Para quem consome essas comidas, os atrativos estão, por exemplo, na variedade de opções. Para o estudante de Comunicação Social Tiago López, que é vegetariano, o comércio informal interessa mais que os quiosques: “Nas mesinhas tem muito mais opção vegetariana, além de serem produtos feitos em casa”, ele compartilha.
O gosto caseiro também é notado pelo estudante de Ciências Sociais, Julio Marinho, que diz que “os salgados dos quiosques têm o mesmo gosto e, aqui na mesa, as coisas são mais gostosas porque são feitas à mão”.
Foto: Larissa Isabela
Até o mais simples pode chamar atenção nas barraquinhas dos alunos. Gabriel Barros, estudante de Engenharia, diz que costuma “passear pelo Gragoatá” e que se surpreendeu com a quantidade de sabores de brigadeiro vendidos. “São vários sabores que eu nem sabia que existia”, ele conta.


Segundo os alunos, os preços nas barraquinhas informais também costumam ser mais baixos que nos quiosques e isso é importante na hora de escolher onde comer. Mariana Almeida, que cursa Ciências Sociais, diz que “a gente já gasta muito com livros, xerox e transporte. Eu tenho que economizar e acabo comendo sempre no lugar mais barato”.
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Na hora de escolher, os alunos também não deixam de considerar a distância entre o comércio informal e o alternativo. No Gragoatá, por exemplo, a maioria dos vendedores informais está nas proximidades do bloco N, enquanto os quiosques regularizados ficam entre os blocos A e E, e isso faz toda a diferença na hora da escolha.
“Eu compro na mesa do bloco N todo dia, porque não tenho nenhuma aula perto dos quiosques, então nunca vou até lá”, explica Débora Abreu, que estuda Psicologia.
Com Luiza Fernandes e Renan Castelo Branco, alunos de Comunicação Social, acontece o contrário: suas aulas variam entre os blocos A e B e eles acabam comendo nos quiosques. “O preço lá no bloco N é bem mais em conta mesmo, só que nunca dá tempo de andar até lá nos intervalos, então ficamos por aqui”, diz Luiza, endossada por Renan.
QUEM VENDE
A maioria dos vendedores é composta por alunos da faculdade que buscam, com a venda, bancar congressos e viagens universitárias ou até mesmo complementar bolsas estudantis e ajudar na renda familiar.
“Uma parte do dinheiro eu uso para pagar passagem e a outra eu entrego para a minha mãe, pra ajudar em casa”, conta a estudante de Produção Cultural Carolina, que há duas semanas vende empadas no corredor do IACS.
Em outros casos, todo o orçamento do estudante é composto pelo lucro das vendas, como revela Mônica, que cursa Sociologia. Ela conta que, quando a bolsa de iniciação à docência (PIBID) atrasa, o bolo, os quibes, as trufas de chocolate e as empadas veganas acabam segurando as contas. “Minha bolsa atrasa e fica meses sem cair, então, às vezes, essa acaba sendo minha única renda”, desabafa a estudante, que até o dia 13 ainda não tinha recebido.
Foto: Leon Lucius
Segundo Isabella de Oliveira, representante do Diretório Acadêmico de Comunicação Social (DACO), parte do comércio informal é um reflexo de uma assistência estudantil precária.
“A universidade hoje não tem uma política de assistência estudantil que consiga garantir que os estudantes permaneçam sem precisar trabalhar”, ela explica, “de um modo geral, muitos deles recorrem a esse tipo de emprego informal para conseguir arrecadar uma renda extra e se manter na universidade”.
Ela ainda aponta criticamente a tentativa da Reitoria de criminalizar o comércio alternativo nos campi no ano passado.
“É curioso que, em vez de reconhecer outros problemas da universidade, se dá maior atenção a esse tipo de inciativa", ela diz. "Cria-se uma situação na qual mais pessoas vão ficar sem trabalho, sem possibilidades de se manter, ao invés de se criarem artifícios para que essas pessoas permaneçam”, conclui a estudante.

POR UM OUTRO LADO
Foto: Larissa Isabela
Apesar dos benefícios para os alunos que vendem e compram informalmente, há quem se sinta prejudicado. Segundo Isaura Mello, dona de um dos quiosques do campus do Gragoatá, a concorrência dos vendedores alternativos é injusta.
“Para trabalharmos aqui, tivemos que criar uma empresa com CNPJ para participar de um processo de licitação. Então, pagamos aluguel e impostos”, ela conta e, em seguida, completa dizendo que o lucro das vendas compõe toda a renda da família e que as taxas têm de serem pagas mesmo em período de férias ou greve.
Do outro lado, a vendedora também faz reclamações à administração da universidade, dizendo que não há nenhuma fiscalização, mesmo que segundo seu contrato a venda por “ambulantes” seja proibida dentro dos campi.
Sobre um possível dialogo com a reitoria a respeito do comercio dos ambulantes, Isaura diz não ter o que fazer. “Isso é briga de cachorro grande, a gente não se mete. E eles não olham, eles são cegos”, ela desabafa.

LUTA E COMÉRCIO
Foto: Larissa Isabela
O comércio alternativo dentro da Universidade Federal Fluminense vai além dos lanches. As bolsas e camisas produzidas pelo coletivo de mulheres negras D’Gueto colorem o cinza do bloco da Educação no campus do Gragoatá. Segundo Luciene Fortuna, membro do coletivo, os produtos de estamparia africana fazem sucesso entre alunos e professores. “Eu estou aqui há mais de 12 anos e vendo para alunos e professores. Todos gostam e até cobram a minha presença”, ela conta.
O espaço cedido embaixo do bloco D é uma “gentileza dos coordenadores”. Sempre que começa uma nova gestão, ela apresenta o coletivo e seu trabalho e pede autorização para que permaneça vendendo as peças. Luciana explica que ali não é um “camelô”, mas sim um espaço cultural e de resistência da cultura africana.
Ela ainda destaca a importância do lucro para o sustento das seis famílias cujas mulheres participam do processo de produção em bordado e estamparia. “No final dos mês, todas têm que ter o seu salário. Os meses de greve e de férias são os piores pra gente, a gente fica louca”, ela lamenta.
Luciene também afirma sua posição a favor do comércio alternativo e diz que, no entanto, é preciso que haja uma regularização para que esse comércio não traga consigo um fluxo de drogas e pirataria.

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