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Lar Pá Pum resgata cães abandonados

Por Jéssica Rocha

           Lolla Maria, uma dos muitos animais resgatados e encaminhados à adoção pelo Lar Pá Pum Foto: Gi Jobim/Arquivo Pessoal 

Recentemente a Holanda se tornou o primeiro país do mundo a não ter cachorros abandonados em suas ruas. O país chegou à meta sem sacrificar nenhum cão, nem colocá-los em abrigos.  Estima-se que em todo mundo, 600 milhões de cachorros estejam abandonados pelas ruas. No Brasil, a Organização Mundial da Saúde acredita que a população canina de rua esteja em torno dos 30 milhões.
Com o intuito de auxiliar os cães abandonados a encontrarem um lar para chamar de seu, o Lar Pá Pum surgiu em abril de 2010. Dois anos antes, Isabella Gomes sofreu com a perda de seu grande amigo, um yorkshire chamado Gigio e resolveu adotar um outro cão. “Em 2009 eu vi um anúncio da Pedigree na televisão falando sobre adoção, resolvi pesquisar para descobrir como e onde poderia adotar”, relata. Ao visitar uma campanha de adoção, Isabella notou o interesse das pessoas apenas pelos filhotes, enquanto os adultos eram deixados de lado. Comovida com a situação, Isabella observou uma fêmea adulta, preta de porte médio, muito magra e que pedia carinho. Após ajudar segurando-a por um tempo e perceber que a cadela iria voltar para o abrigo, decidiu adotar Nega.
No processo de adoção, o e-mail de Isabella foi cadastrado no mailing de protetores por engano, o que fez com que ela recebesse constantemente pedidos de ajuda e lar temporário (LT). Por ter uma casa disponível, recebeu sua primeira hóspede temporária em abril de 2010, uma pastora chamada Laila, que foi adotada 15 dias depois. Daí surgiu a ideia de ajudar outros cães. Com o auxílio de pessoas mais experientes nesse meio, Isabella conheceu protocolos, clínicas, potenciais parceiros e continuou oferecendo lar temporário. A experiência adquirida com o passar do tempo, a levou a fazer resgates por conta própria. 
Por não ser uma organização não governamental (ONG) ou instituição registrada, o Lar Pá Pum não é um abrigo e nem possui um endereço fixo, onde os futuros adotantes possam conhecer todos os cães a procura de uma família. O projeto é realizado de forma que qualquer pessoa interessada em ajudar, seja adotando ou oferecendo lar temporário, faz parte dele. Um pequeno grupo de voluntários está à frente do projeto, atualmente além da Isabella, Letícia Bergallo e Isabel Alves e a homônima Isabella Gomes também contribuem.  
Focado no resgate, recuperação e adoção de cães, o Lar Pá Pum já ajudou mais de 500 cachorros abandonados. Os resgates podem ocorrer em qualquer lugar do Rio de Janeiro, enquanto não são adotados, os animais resgatados ficam em lares temporários espalhados pela cidade. O projeto segue um protocolo pós-resgate para que a adoção seja realizada: todos os cachorros são vacinados e castrados. Atualmente, cerca de 40 cães estão sob a tutela e responsabilidade financeira dos voluntários do Lar Pá Pum.

Para se candidatar à adoção é necessário preencher um formulário e, a partir dele, as responsáveis conseguem realizar uma primeira filtragem e descartar péssimos adotantes, como os que desejam o cão para caçar ratos, que não têm muro em casa, entre outros. A partir dessa avaliação há uma troca de e-mails entre o possível adotante e as voluntárias, visita do animal à casa para observar a interação do cão com outros animais e o futuro dono. Além de isso, é  verificada a segurança e risco de fuga. 
O Lar Pá Pum acompanha todo o processo de adoção e adaptação do cão resgatado à nova casa, através de e-mails ou de um grupo no Facebook, composto por adotantes e pessoas que oferecem lar temporário, onde os tutores postam fotos e compartilham suas experiências. “Muitas vezes nem precisamos pedir notícias, as pessoas postam fotos, notícias sobre os cães e interagem naturalmente. Os que somem, a gente liga ou manda e-mail de tempos em tempos”, recorda Isabella. A adoção é feita nos municípios do Rio de Janeiro e Niterói. “Já doamos para a região metropolitana e para a serra no passado, mas hoje é inviável acompanhar as adoções muito distantes, então optamos por reduzir nosso raio de atuação”, completa. 
Gi Jobim conheceu o Lar Pá Pum pelas postagens que o irmão fazia nas redes sociais, divulgando casos de adoção de várias ONG’s e protetores. Quando sua cadela de 19 anos faleceu, Gi começou a pensar em ter outro cachorro. “Decidi adotar porque existem muitos animais abandonados, eu já vinha cogitando a possibilidade há uns meses e a Lolla foi o primeiro cão que vi. Não pensei muito no tamanho, cor, idade ou sexo, eu senti que era a hora e era ela”, recorda.
À época da adoção, Dayana como era chamada, tinha 44 dias, atualmente está com um ano. Gi conta que entre o preenchimento do formulário e o encontro com as responsáveis pelo Lar Pá Pum passaram-se 20 dias. “Aí veio a Lolla Maria minúscula no colo da Isabella e meu coração disparou. Assinei um termo de responsabilidade e levei-a para casa já naquele dia”, afirma. A adotante ressalta que as responsáveis pelo projeto fazem um trabalho admirável e sério, além de disponibilizar todas as informações sobre vacinação e castração, tiram dúvidas, indicam veterinário e estão sempre em contato para saber notícias do animal.
Lolla Maria e sua adotante Gi Jobim Foto: Gi Jobim/Arquivo Pessoal 
Um dia na pracinha perto de casa Vídeo: Gi Jobim/Arquivo Pessoal 

Uma foto no facebook do projeto e Rondinele Silva se apaixonou por Juca, na época chamado de Hulk e com aproximadamente um ano e quatro meses. O adotante entrou em contato e alguns dias depois já marcava o dia para o cão conhecer seu novo lar. Rondinele lembra que não procurava por um porte ou raça específicos, e ao conhecer Juca, já imaginava como ele seria amado antes mesmo de chegar em casa.
Com uma ótima adaptação à família, Juca já está com dois anos. O adotante mostra interesse em ajudar outros cães. “Busco sempre dar uma vida melhor para esses peludos que tanto sofrem abandonados pelas ruas. Sempre que posso divulgo e contamos a história do Juca, com o objetivo de mostrar às pessoas que adotar é o melhor caminho”, ressalta Rondinele.
Juca em sua nova casa Foto: Rondinele Silva/Arquivo Pessoal
Isabella deixa como mensagem: “Vê-los felizes, amados, bem tratados, faz tudo valer à pena. Todo mundo pode, basta querer. Faz um de cada vez, junta um grupo de amigos para resgatar um só. Oferece ajuda para as protetoras que estão lotadas. Não seja mero expectador. Pena não salva a vida de ninguém”.

O que é lar temporário?

O lar temporário é a casa de alguém que se voluntaria a receber e cuidar de um dos cães resgatados, enquanto o projeto arca com todos os custos durante esse período, podendo ser com ou sem intenção de adoção. Isabella explica que quando um cão não finalizou o protocolo pós-resgate e a pessoa quer adotá-lo, é um lar temporário com intenção de adoção. Quando não há essa intenção, mas a pessoa recebe o animal, é um lar temporário voluntário.
A própria pessoa que se voluntariou determina o período em que poderá receber o cão em sua casa, seja por algumas semanas ou até o mesmo ser adotado. Tudo é acordado em termo firmado pelo projeto e pelo voluntário. Quando não há lar temporário para um dos cães, o mesmo fica em hospedagem paga, o que representa o aumento do custo para o projeto.
Ao ver que uma cachorra estava sendo expulsa da casa de um pretendente a adotante, Christiana Araújo não pensou duas vezes, ofereceu um abrigo à cadela Surpresa. Já com dois cães em casa, um adotado pelo Lar Pá Pum e outro resgatado pela filha, Christiana mantem uma boa relação com os cães que recebe para lar temporário. “Sei que eles estão perdidos e confusos e sou muito paciente com animais. Tudo o que faço pelos meus, faço por eles também, inclusive dividir o colo para os três”, conta.
“Me apaixono por cada um, mas conheço minhas limitações e não tenho condições de ficar com todos”, considera. A adotante revela que quando os cães são adotados, sente um de alegria por eles e tristeza por não poder adotá-los e considera importante qualquer tipo de ajuda prestada a um ser vivo. “O trabalho dessas pessoas é lindo, abrir mão de tempo, saúde e dinheiro para ajudar essas criaturinhas. Se não fossem por essas pessoas de coração imenso, talvez nem estivessem vivas”, conclui.


Surpresa interage com Gandhi no seu lar temporário Foto: Christiana Araújo/Arquivo Pessoal 
Hora da brincadeira com outros cães da casa Vídeo: Christiana Araújo/Arquivo Pessoal 

O valor do resgate

Segundo Isabella, não há uma média previsível de resgates ou adoções por mês. “Tem meses que não resgatamos nenhum, tem meses que resgatamos 10 ou mais. Em alguns meses a adoção é ótima e em outros os adotantes somem. Tudo depende muito da disponibilidade de lar temporário e financeira, porque resgatar é caro”, conta. O projeto tem um gasto médio de R$ 2.500 reais para manter os animais que já estão aguardando adoção.
Isabella avalia que o custo mínimo de um resgate é cerca de R$ 584 reais, sendo um cão de porte pequeno, saudável e com lar temporário. Cada animal resgatado passa por exame de sangue e consulta completos, além de ser vermifugado e vacinado. Caso seja constatado um problema de saúde, o cão é tratado até que esteja totalmente restabelecido. Portanto, os custos variam muito de acordo com o cão resgatado.

Sem contar com nenhum tipo de incentivo do governo ou patrocínio, a renda do Lar Pá Pum provém de rifas, contribuição das madrinhas ou doações para pagamentos específicos, como castração de um grupo de animais ou compra de caixas de vacina. Além do sistema de amadrinhamento, rifas e vendas de camisetas, o projeto aceita doações de edredons velhos, coleiras, ração, entre outras coisas.  
No site do Lar Pá Pum é possível ter acesso aos cães que estão disponíveis para adoção, ver fotos dos adotados com suas famílias e informações sobre como auxiliar o projeto. A página do facebook é dedicada à postagem de fotos e informações sobre os cães a serem adotados. 


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