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A febre do monstro: Pokémon Go


Lançamento do jogo no Brasil e no mundo causou discussões sobre segurança e alienação

Por Bruna Freire

Nos últimos meses a internet só tem falado de um assunto, além das polêmicas Olimpíadas Rio 2016 e #ForaTemer: Pokemón Go. O jogo foi lançado no Brasil um mês depois do lançamento oficial em outros países, gerando muita ansiedade nos fãs brasileiros que não deixaram de reclamar e fazer pressão nas redes sociais. Inclusive Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, fez uma menção à Nintendo através de suas páginas oficiais pedindo que o jogo fosse liberado no país já que o mundo todo estaria visitando a cidade maravilhosa para os Jogos Olímpicos.

"Alô, Nintendo!": o prefeito Eduardo Paes fez questão de pedir o lançamento de Pokémon Go a tempo das Olimpíadas.
O universo de Pokémon não é nenhuma novidade. A franquia mundialmente adorada teve início com o jogo para GameBoy em 1995, seguido pelo famoso desenho animado e depois continuada com uma variedade infinita de produtos da marca que faz sucesso até hoje. No entanto o game surge para popularizar uma nova proposta de jogabilidade móvel que combina realidade aumentada e GPS. Para que o avatar do jogo se mova pelo mapa até os lugares onde aparecem Pokémons e e outros itens, o jogador precisa de fato andar pelas ruas da sua cidade e visitar determinados pontos marcados que podem ser desde parques e museus até igrejas e cemitérios. Quando encontradas as criaturas aparecem no cenário real, visto através da câmera do celular do jogador, misturando mundo real e fantasia na tela do aparelho.

Os Pokémons aparecem a qualquer momento em qualquer lugar. Para encontrá-los, o jogador deve se locomover pela cidade através do mapa do jogo.
Inovação é uma palavra frequentemente associada à Nintendo. A empresa japonesa sempre apresentou uma proposta diferenciada das outras gigantes do ramo dos videogames como Sony e Microsoft, apostando mais na diversão coletiva do que em gráficos super realistas, por exemplo. O lançamento e enorme sucesso do Nintendo Wii e seus controles sensíveis ao movimento, em 2002, deu outra cara para a sua geração de consoles e mostrou que o público estava completamente receptivo às novas formas de jogar. No caso de Pokemón Go, a tecnologia de geolocalização já havia sido aplicada antes no jogo Ingress (da mesma desenvolvedora, Niantic), mas não despertou muita atenção. Tanto o Nintendo Wii quanto Pokemón Go mostram que a empresa sabe bem combinar funcionalidade inovadora com uma identidade vendável e transformar em um produto de sucesso mundial

Como uma boa novidade, o game tem trazido todo tipo de polêmica e discussões diversas sobre as maravilhas e os perigos da nova tecnologia. Algumas com razão, se baseando no uso extrapolado e descabido que tem sido feito principalmente dos aparelhos móveis nos últimos tempos; e algumas que se passam por uma certa paranoia seletiva supostamente denunciando o uso de informações dos jogadores por parte das empresas envolvidas no game. É fato que Pokémon Go vem causando todo tipo de incidente (e acidente) desde que foi lançado: algumas pessoas têm se machucado por andar pelas ruas com a atenção completamente imersa no jogo, o número de roubos de celular já aumentou e inclusive alguns nomes de bebês nos EUA estão sendo inspirados nos nomes dos Pokémons. Alguns vídeos mostram verdadeiras multidões empolgadas correndo por parques para capturá-los.



Os riscos são reais e a preocupação é fundamentada. No entanto, não se deve tirar a responsabilidade de quem joga, da maneira como se interage com o mundo virtual. Os acidentes causados por desatenção ao trânsito, por exemplo, subiram bastante em número depois da popularização dos smartphones e da internet móvel, e as selfies já matam mais que ataques de tubarão. Chega a ser cômica a preocupação com espionagem e roubo de informações pelo jogo vinda de uma sociedade que publica fotos e vídeos freneticamente nas redes sociais (alguém já leu os termos de uso do Facebook?), faz transações bancárias online e check-ins em aplicativos como Foursquare. Podem até ser questionadas as segundas intenções por trás de Pokémon Go, mas o jogo chegou tarde demais para ser o principal canal de espionagem a se preocupar na atualidade.

Deixando um pouco de lado os problemas, o game também tem trazido melhorias para a vida de algumas pessoas. Além de um hospital infantil nos EUA estar usando o jogo para estimular os pacientes a sair da cama, ficou famoso nos últimos dias o caso de um jovem britânico com autismo que conseguiu voltar a sair de casa e se relacionar com outras pessoas através do jogo depois de 5 anos sem pisar na rua. Até o Hemorio aproveitou a presença de Pokémons no estabelecimento para lançar campanha de incentivo à doação de sangue. Apesar de seus possíveis perigos, o game vem com uma proposta inovadora porque obriga quem joga a sair de casa, percorrer as ruas e explorar a cidade. É um incentivo à locomoção, à interação pessoalmente e à ocupação de espaços ao ar livre. Hoje em dia não há mais fundamento para a demonização dos jogos eletrônicos. O pensamento de que eles emburrecem ou infantilizam é comprovadamente ultrapassado e se preocupar com uma possível alienação também se mostra uma crítica mal direcionada: quem nunca se pegou "zumbizando" por aí nas redes sociais e outros aplicativos de smartphone que atire a primeira pedra. O buraco é mais em baixo. 

E aos que ainda não experimentaram o jogo porque é "coisa de criança": permitam-se.


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