Experiências inovadoras que fogem do ensino engessado
Por Carolina Lopes
Aos quatro anos
já aprendem algumas letrinhas, aos seis são alfabetizados, aos sete entram para
o cursinho de inglês, aos 12 são fluentes, aos 15 já precisam pensar sobre qual
carreira seguir, aos 17 escolhem a profissão. Aos 22 estão formados, aos 24
pós-graduados e aos 30 se decepcionam com a carreira e apostam tudo no sonho antigo.
Histórias que estão se tornando comuns para a geração atual.
Que destino foi
dado à educação? A pressão para o sucesso profissional é muito grande. Jovens
são, cada vez mais cedo, influenciados a escolherem suas profissões. Histórias
de adolescentes que estudaram nove horas por dia
e passaram para a faculdade chovem nos jornais em época de vestibular. Porém,
que essa cobrança e modelo de ensino conteudista
começam já na Educação Infantil, que vem sofrendo com as consequências da
pressão por um ensino de qualidade. Mas, qualidade não é sinônimo de conteúdo
massivo, de horas sentado em uma carteira, de livros, apostilas e páginas de
dever de casa que não acabam nunca.
Em 2014, a
Prefeitura do Rio de Janeiro lançou uma propaganda que reflete justamente esse
ensino massivo. A peça publicitária é do programa Fábrica de Escolas do Amanhã
e mostra crianças sentadas em carteiras que estão em cima de uma linha de
produção e diz: “Nossa linha de produção é simples: construímos escolas,
formamos cidadãos e criamos futuros”. O modelo fordista faz produtos iguais,
com funcionários com um conhecimento muito específico e nada além dele. É assim
que o ensino deve ser idealizado? Engessado, com crianças que pensam de maneira
igual, estudando sempre os mesmos conteúdos e fazendo parte de uma fábrica de formação
de alunos?
Propaganda da Prefeitura do Rio de Janeiro
A livre
experimentação, o brincar, a imaginação e até o ócio são de extrema
importância. Desde cedo, as crianças já estão matriculadas em cursinhos, têm
diversas atividades durante o dia; mas e o tempo para ser criança? Muitas
experiências surgem de um momento em que simplesmente não se faz nada. O
próprio brincar também possui seus objetivos, é brincando que a criança
desenvolve habilidades, procura soluções para problemas e desperta a
criatividade, originando muitos aprendizados.
Para uma matéria
do site da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), a coordenadora do Congresso Nacional Primeira Infância – Pelo
Direito de Brincar (realizado este ano), Cinthia Magda Ariosi destacou que “a
criança não brinca mais, para poder fazer atividades, em nome da escolarização
precoce”. Janaina Pereira Duarte,
vice-coordenadora do evento, disse que a quantidade de atividades nos cadernos
e o tempo em que as crianças ficam sentadas em suas cadeiras “provocou um grito
de alerta dos professores”.
É possível
Uma proposta de
educação lúdica e participativa pode parecer algo utópico. Porém, muitos
exemplos nos mostram que é possível. Existem algumas pedagogias alternativas,
como a Construtivista, Montessoriana, Waldorf, Logosófica, e todas elas nada
têm em comum com a escola tradicional.
Marcia Righetti,
diretora da escola Aldeia Montessori, no Rio de Janeiro, diz que a valorização
da infância é muito importante e é preciso “trazer coisas
significativas para o aprendizado, de acordo com o que a criança possa entender
e construir”. Righetti destaca que o problema da educação tradicional é ensinar
o que não se quer aprender e não cultivar a curiosidade. Isso “faz a criança
não gostar de aprender, e como consequência, aprender é chato”, afirma. Segundo
a diretora, a criança já busca o conhecimento com autonomia e independência;
“tem isso dentro dela, a gente que não a deixa usar. Em vez de empoderar,
fragiliza”.
Fernanda
Cerqueira estudou na Aldeia e conta que o ensino a ajudou a ser uma pessoa mais
reflexiva e questionadora e, ainda, estimulou a descoberta de talentos como a
música, escrita e leitura. Fernanda acredita que a valorização da infância “ajuda
a construir um ser mais consciente, crítico e aberto para as questões da vida”.
Para a estudante de Letras, o problema do ensino tradicional é a transmissão de
conhecimento do professor para os alunos, que não participam do processo. “Acredito
que existam alternativas mais didáticas e coerentes para que o ensino não seja
visto como uma obrigação, mas sim como algo que faça sentido, que desperte a
curiosidade em aprender”, destaca.
Mas, e o ensino
público? Já é difícil implementá-lo com sucesso, ainda mais com cortes na
educação e sucateamento dos serviços públicos no Brasil. Porém, existem escolas
que fogem do padrão atual e conquistam seus alunos. Uma delas fica no Rio de
Janeiro, no Engenho de Dentro, a Escola Municipal Bolívar (Ensino Fundamental
do 7º ao 9º ano), que faz parte do programa Ginásio Carioca, implantado em 2011
pela Secretaria Municipal de Educação.
Nas escolas do
programa, os professores têm dedicação exclusiva, o que muda a relação deles
com os alunos. Existem matérias eletivas, trazendo “o universo do desejo para
dentro do conhecimento, porque o currículo escolar é muito formalizado”, como
explica a coordenadora pedagógica da Escola Bolívar, Jurany Maria Miguel. Os
alunos sentam em círculos, favorecendo o trabalho em grupo, e são estimulados a
terem um projeto de vida, com metas e sonhos. O objetivo é fazê-los gostar do
estudo e se interessar pela escola.
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