Por Gabriella Balestrero, Wladimir Lenin e Marcella Ramos
Não é de hoje que os movimentos
estudantis se mobilizam para protestar contra medidas governamentais
impopulares. Ir para as ruas, ou ocupar a reitoria são ações que os estudantes
costumam usar para mostrar insatisfação. Porém, um novo tipo de protesto tem
tomado todo o Brasil, iniciado pelos estudantes secundaristas e que ganham
força a cada dia nas universidades públicas e privadas. Trata-se das ocupações
dos próprios lugares de ensino, como forma não só de protesto mas também de
ressignificação do espaço.
As ocupações são horizontais e a gestão é feita totalmente pelos alunos, que se organizam em Grupos de Trabalho, os GTs, onde cada grupo fica responsável por uma parte da ocupação, como segurança ou comunicação. Na UFF, elas começaram no prédio do Serviço Social, no campus do Gragoatá, e foram se espalhando pela universidade, alcançando outros campi, como o Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS), o Instituto de Ciências Humanas e Filosofia (ICHF), a Faculdade de Direito e o Instituto de Física, no campus da Praia Vermelha.
Segundo dados da União Nacional dos Estudantes, A UNE, já são 229 universidades ocupadas com o objetivo de protestar contra a PEC 55, que está tramitando no Senado. A Proposta de Emenda Constitucional prevê o congelamento dos gastos públicos por vinte anos, podendo apenas ser corrigida pela inflação.
Emanuela Amaral, estudante de Jornalismo e participante da ocupação do IACS, acredita que as ocupações dos institutos, ao invés da reitoria, não só aproximam os alunos do movimento estudantil, mas também trazem reflexões e reinvenções políticas sobre o espaço ocupado, de como tornar a universidade um espaço feito por e para os estudantes. “A gente dorme na sala que tem aula, pinta nossas paredes e repensa na recriação desse espaço de forma muito mais próxima”, conta.
Para ela, as ocupações dão força ao movimento e mostram que existe uma grande parcela da população que é contra a PEC e o que ela significa. “A gente ocupa cada espacinho da universidade contra o retrocesso de direitos que essa PEC representa como projeto do governo do presidente Michel Temer para a Educação e outras áreas. Se vai passar ou não, a gente não sabe, mas pelo menos a gente está se mobilizando e daqui pra frente eu acho que esse movimento só vai crescer.”
Alunos da PUC se unem às Federais em protesto contra a PEC
Rosa Miranda, Ocupação Preta, estudante de Cinema
A ocupação preta é auto gestionada e dividida em em gts, e a gente dá preferência aos negros e aos de fora com as atividades que essas pessoas se propõe a fazer com temática afro-brasileira, que se relacionem com a nossa cultura, como estudos a respeito de nós, feitos por nós.
A ocupação preta é auto gestionada e dividida em em gts, e a gente dá preferência aos negros e aos de fora com as atividades que essas pessoas se propõe a fazer com temática afro-brasileira, que se relacionem com a nossa cultura, como estudos a respeito de nós, feitos por nós.
A importância da Ocupação Preta é trazer as pessoas fora da universidade para cá como, por exemplo, uma pessoa do Mama África, alunos do coluni, alunos da creche, que fizeram vivência griô. Fizemos o ocupa pretinho, que foi uma atividade com as crianças da creche da UFF, com contação de história de orixá, produção de bonecas abayomi.
Bárbara Barroso, Ocupa Física, aluna de Física
A Física é complicada de ocupar e para se engajar em qualquer movimento social na universidade. Sou nova na faculdade, mas vejo que aqueles que estão a mais tempo nunca se mobilizaram com nenhuma causa. Fizemos a nossa primeira assembleia e não conseguimos quórum. Mas, na segunda, vimos que tínhamos quorum e aí fizemos a ocupação. Apesar das aulas acontecerem normalmente estamos organizando aulões e debates políticos.
Viviane de Azevedo Magalhães, Ocupa IACS, Aluna de Arquivologia
O IACS tem particularidades, ele é um Instituto de Artes e Comunicação e nós fazemos muitas aulas públicas e nessa aulas fazemos performances. Já fizemos aula de forró e trabalhamos muito a questão corporal e tentamos o juntar o debate político com essas atividades. Temos uma rádio, a Ocupa Som, e estamos construindo um espaço para barrar a PEC e mostrar para o governo golpista que estamos aqui.
Luan, Ocupa ICHF, aluno de Filosofia
É uma outra relação que a gente tem com a universidade. Nós estamos aqui convivendo dia-a-dia com os terceirizados, conversando e vendo os problemas que eles enfrentam, dialogando com os professores de igual para igual, preservando o patrimônio da universidade, ganhei outra visão. Me sinto mais integrado. Vejo que o Estado é nosso, apesar de na nossa história o Estado ser construído por um grupo seleto e para um grupo seleto. Vemos que isso minimamente está mudando. Nossa movimentação é fazer uma ação cada vez mais coletiva e com a ocupação todos que se sentem parte desse coletivo.
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