Primeiro foi a campanha pelo impeachment
e a espetacularização dos votos de deputados e senadores. Depois, a aprovação
da PEC 241, atual 55, que congela os gastos públicos por 20 anos. A cobertura jornalística
dos recentes fatos políticos acendeu, mais uma vez, os holofotes sobre a falta
de aprofundamento nas reportagens veiculadas na mídia tradicional. Reunidos no
Controversas, alunos, professores e profissionais discutiram a atuação da
imprensa nesses e em outros episódios, em dois dias de debates, no auditório
Interartes, do IACS.
Curiosamente, enquanto se debatia
a parcialidade do jornalismo político, no dia 29 de novembro, o Senado
protagonizava mais um dos controversos capítulos dessa história: a aprovação da
PEC 55, em primeiro turno. Para o fotojornalista Lula Marques “as manifestações
contra a PEC e as ocupações das escolas e universidades não são pauta” da mídia
tradicional, porque a imprensa continua apoiando o “governo golpista”, como na época
do impeachment.
Já o jornalista Cid Benjamin, que também
esteve em uma das mesas de debate, considera que a imprensa turbina denúncias
contra o PT e não dá tanta atenção às feitas contra o PSDB e PMBD. Cid, que foi
militante durante o período ditatorial, lembra que hoje a manipulação não se dá
pela censura ou veto – como no governo civil-militar instaurado com o golpe de
64 – e, sim, através de decisões editoriais tomadas na edição das reportagens.
O chargista Renato Aroeira discutiu
o papel da imagem na produção de discursos parciais. Para ele, o editor busca o truque da foto
para estampar um determinado discurso na capa do jornal, produzindo uma
espetacularização da notícia.
Durante o Governo Dilma, diversas
imagens ficaram famosas e causaram polêmica. É o caso da foto que ilustra a
capa do Estado de São Paulo, no dia 4 de maio de 2016, com a
presidente ‘em chamas’; ou a da revista Isto
É, do início de abril, que
discutia as “explosões nervosas” da chefe do executivo. Este uso do
fotojornalismo não é algo novo e mostra, segundo a professora da UFF Clarissa
Gonzalez, como a fotografia nunca significou verdade e, sim, um recorte, um
momento.
Truques imagéticos e reportagens
duvidosas apresentam versões da verdade, embora vendidas para o público como
verdade imparcial. O quadrinista André Dahmer, também presente ao evento,
lembrou que os grandes veículos falam que são isentos, mas que isso não existe
e seria melhor que todos assumissem uma posição. Para Renato Aroeira, é impossível
ser ético enquanto o que mais importa é vender.
A democratização da mídia também foi lembrada como fator decisivo
para a atividade jornalística. Embora a Constituição Federal determine que a
comunicação não pode ser objeto de monopólio e que políticos não podem sem
donos ou sócios de concessões de radiodifusão, a concentração midiática em
torno de poucos grupos, muitos deles comandados por políticos tradicionais, é
uma das mais fortes características do mercado de comunicação brasileiro. Cid
Benjamin destacou que, assim, a imprensa vira uma máquina de fortalecer uma
hegemonia política e uma versão do fato. Para Cid, o papel do jornalista
consciente é destrinchar as informações e não passar adiante um pacote
enganoso.
Outras
vozes
O manifesto ‘Monopólio é Golpe’, divulgado
pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), ressalta que
“com um sistema de mídia concentrado em poucos grupos econômicos, a cobertura
da crise política e dos casos de corrupção tem sido seletiva e desequilibrada”
e que a mídia no Brasil é controlada, em 80% do total, por seis famílias.
Além do controle político e da divulgação seletiva de informações,
também não se vê uma apuração completa, além de um trabalho extenso de checagem
de dados e fatos. As jornalistas Mônica Mourão e Helena Martins, em texto do blog Intervozes, da Carta
Capital, afirmaram que a estratégia da grande mídia “se manifestou na cobertura
rasa dos fatos e na ausência de jornalismo de fato. Registros dos atos e de
declarações de deputados foram abundantes. Não se viu, contudo, apuração,
investigação, contextualização e problematização do processo em curso”.
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