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Etnomatemática

Por Carmem Angel 

As leis 10.639, de 2003, e 11.645, de 2008, tornam obrigatório o ensino de cultura e história afro-brasileira, africana e indígena em escolas públicas e particulares de nível fundamental e médio, com especial atenção às áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Mas por quê deixar campos como a Matemática de lado?

A Matemática que conhecemos e estudamos na escola descende da ciência moderna europeia. Os conhecimentos e as visões de mundo sob o prisma eurocêntrico nos são ensinados como verdades incontestáveis, enquanto os saberes de outros povos são “primitivos”.

Tradicionalmente responsável pelas notas escolares mais baixas, a Matemática tal como estudamos é abstrata e cheia de cálculos considerados difíceis por grande parte dos alunos. Esses saberes lógicos são organizados e concebidos de formas diferentes por outras sociedades.


A etnomatemática tenta conhecer, entender e explicar a forma e o papel da Matemática em diversos contextos culturais, revendo o ensino e a construção histórica do conhecimento e os interesses políticos e ideológicos nela envolvidos. A etnomatemática, como a etnociência, parte da história, da política e da antropologia e percorre um caminho de desconstrução até chegar à pedagogia, trazendo consigo uma bagagem multicultural.

Pouco citada nas escolas, a África desempenhou um papel fundamental no processo de acumulação de saberes que contribuem para a construção social e prática da Matemática. As ciências exatas têm uma base africana e é necessário reconhecer e valorizar essas experiências culturais e históricas para que se possa aproveitar as contribuições desses povos, que trazem abordagens para além da ocidental eurocentrada. Neste quadro, a afro-etnomatemática vem estudando as contribuições próprias dos grupos africanos e afrodescendentes à Matemática e fazendo um levantamento do ensino e aprendizado deste campo do conhecimento em territórios de maioria afrodescendente.

            É importante lembrar que a lei 10.639 não isenta os professores de áreas exatas da responsabilidade do ensino de temática africana ao determinar que estes conteúdos devem ser ministrados no âmbito de todo o currículo escolar.


            Na visão cosmoafricana, a Matemática está na vida e pode (e deve) ser trabalhada para além do papel, exercitando as habilidades da memória e da oralidade, seja através de jogos, música, ou artesanato e lembrando que em tudo isso também há análise combinatória, estatística, equações e logaritmos. 

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