Por
Jéssica Simões
Um relatório global lançado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2017, apontou um aumento de 18% nos
casos de depressão entre 2005 e 2015. 322 milhões de pessoas no mundo sofrem
com a doença, que atinge principalmente as mulheres. No Brasil, estima-se que
5,8 % da população, o equivalente a 11,5 milhões de pessoas, enfrentam a
depressão, enquanto outras 18,6 milhões, que correspondem a 9,3% da população,
lidam com os distúrbios relacionados à ansiedade.
Fraqueza, frescura e falta
de Deus. Essas são apenas algumas das características que as pessoas com
depressão ou ansiedade escutam quando externalizam os sintomas.
O preconceito dificulta ainda mais a vida de
quem convive com alguma dessas doenças. Além disso, é comum que as pessoas se
perguntem como tudo começou.
Carolina Medeiros, de 23
anos, enfrenta a ansiedade e a depressão desde a adolescência. Ela conta que
sempre foi muito introvertida e sentia dificuldade para fazer novos amigos.
Durante a infância, Carolina foi abandonada pela mãe, aos 4 anos de idade.
“Meu pai não entendia as
necessidades de uma menina. Ele me criava de acordo com o que minha irmã dizia
para ele. Também fui sendo criada pelas namoradas do meu pai, mas nenhum de
seus relacionamentos durava muito tempo. Eu não tinha um referencial”, explica
Carolina.
Aos 13 anos Carolina já
tinha problemas para dormir. Começou a fazer diversas atividades extracurriculares
e mesmo assim o problema persistia. Aos 16 anos, começou a sentir os sintomas
da ansiedade, mas a princípio achou que se tratava de problemas cardíacos.
Dois anos depois, Carolina
passou no vestibular para o curso de Engenharia Civil na Universidade Federal
da Bahia (UFBA), mas novamente a doença interferiu em sua vida.
“Depois da universidade.
minhas crises começaram a ficar mais frequentes e graves, então eu acabei
desistindo e tranquei a matricula. Eu também não coseguia ficar em nenhum
emprego, começava um trabalho e com 15 dias já me desanimava”, confidencia.
O tabu também colaborou para
que o estado de Carolina se agravasse. A irmã não acreditava que ela sofresse
mesmo da doença e a convivência se tornou cada vez mais difícil. O namorado de
Carolina na época também não lidava bem com as situações de crise, o que
acarretou no fim do relacionamento.
“Fui lidando com o meu
problema sozinha. Em alguns dias não comia, em outros tinha dificuldade para
tomar banho”, relata.
Como lidar com a doença
ainda causa divergência de opinião entre a família. O pai de Carolina ainda
acredita que é só um momento e que vai passar. A mãe, que voltou a fazer
contato há pouco tempo, quer que ela continue a medicação. Já o novo namorado
de Carolina, com quem ela mora atualmente, prefere que ela lide com a doença de forma
natural, sem remédios.
Em relação ao futuro,
Carolina se diz cautelosa.
“Ainda não estou trabalhando, mas comecei a fazer
uma nova faculdade. A depressão é assim, você tem momentos de bem-estar, mas
precisa monitorar a doença por toda a vida.”
O fato da depressão ainda
ser tratada como tabu, fez com que Diego D., de 34 anos, se isolasse. Após o
fim de seu casamento, Diego foi diagnosticado com a doença. O médico decidiu entrar com a medicação, mas
não surtiu nenhum efeito. Diego, que já
enfrenta o problema há um ano e meio, conta que seus amigos se afastaram e por morar
no exterior, prefere esconder da família seu diagnóstico.
“O preconceito existe, é
real. No começo eu tentei explicar para as pessoas próximas que estava com
depressão, mas tudo o que eu ouvia era que iria passar, que era só procurar uma
igreja, arrumar uma namorada. As pessoas também diziam que a vida segue e não
adiantava ficar chorando pelos cantos.”
Diego, que é autônomo, conta
que tem dificuldade de concentração no trabalho, por isso em determinados dias
encerra seu expediente mais cedo. Além disso, ele
conta que não consegue ter uma vida social tranquila, tampouco fazer novos amigos.
“Meu sonho é ter uma vida
normal, sair dessa doença. Queria fazer novos amigos, porque hoje em dia eu não
confio em mais ninguém. Ter a felicidade novamente”, desabafa.
Existem tratamentos eficazes
para cada caso, como ativação comportamental, terapia cognitivo-comportamental, psicoterapiainterpessoal ou uso de medicamentos antidepressivos, mas de acordo com a
OMS apenas metade dos afetados pela depressão ou ansiedade no mundo recebem o
tratamento adequado. Isso acontece devido à falta de profissionais capacitados, além do
próprio estigma social que circundam as doenças mentais.
A Universidade Federal Fluminense, através do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), oferece atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito à comunidade.
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