São eles: uma argentina da Al Jazeera English; um norte-americano, autor de ‘Brazillionaires’, do New Yorker; um francês freelancer e uma brasileira da Sputnik News
Por Lizandra Machado e Marcella Ramos
Quase um ano após as Olimpíadas, o país ainda desperta o interesse no noticiário internacional. As razões para isso podem ser muitas – contexto histórico-político-social, direitos humanos, belezas naturais, Floresta Amazônica, exotismo, entre outros. Na segunda reportagem da série, o Casarão conversou com Alex Cuadros, da New Yorker.
*Clique aqui para ler a conversa a anterior, com a Teresa Bo, da Al Jazeera English
Alex Cuadros, da New Yorker
Hoje, morador do Brookyn, em Nova York, nos Estados Unidos, Alex Cuadros, de 32 anos, trabalha como jornalista há 9 anos. Desde 2010 faz cobertura internacional sobre o Brasil, quando mudou-se para São Paulo. Até o ano de 2016, ficou baseado no país, cobrindo principalmente a turbulência política ultra-rica, a epidemia do Zika Vírus e as Olimpíadas do Rio.
Cuadros nasceu na cidade de Nova York, mas cresceu em Albuquerque, Novo México. Na sua carreira, já escreveu para inúmeros veículos, como The Atlantic, The Baffler, Bloomberg Businessweek,Vanity Fair, The Washington Post, entre outros. Atualmente, escreve sobre o Brasil para a revista New Yorker. É autor do livro “Brazillionaires”, em que fala sobre riqueza, poder, decadência e esperança ao revelar detalhes da vida de bilionários brasileiros. A publicação foi considerada o melhor livro do Financial Times de 2016.
Questionado sobre ter sentido alguma vantagem por ser jornalista estrangeiro para conseguir chegar até algumas pessoas, Cuadros se lembra do momento em que foi fazer o perfil do bispo Edir Macedo, da igreja Universal, para o livro “Brazillionaires”. “Eu fui entrevistar um cara da igreja, o João Batista, também vereador em São Bernardo do Campo pelo PTC. Ele falou claramente assim pra mim: ‘eu não falaria com você se você fosse da Globo’. O jornalista brasileiro é visto por outro brasileiro como tendo uma agenda política mais clara. Como estrangeiro, eu era um pouco alienígena, não tinha tanta relação com as questões políticas do Brasil. Acho que isso ajuda porque a pessoa confia um pouco mais em mim”, revela Cuadros.
O jornalista ainda afirma que o fato de ter trabalhado na Bloomberg - empresa global de informações financeiras e notícias fundada pelo ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg - também lhe deu acesso a pessoas que, se ele fosse de um veículo brasileiro, teria mais dificuldade de atingir. “Eu entrevistei o João Roberto Marinho, da Globo, e ele abriu a porta para mim porque eu ia com o editor executivo da Bloomberg. Ele falava que respeitava a Bloomberg e tudo mais, acho que isso abriu mais portas. Tanto por trazer mais confiança, quanto pelo prestígio de ser de um veículo 'gringo'”, conta.
Para Cuadros, uma das maiores dificuldades no trabalho de correspondente é a tradução simplificada dos acontecimentos para quem não vive a realidade brasileira. “Se você escreve uma matéria de mil palavras sobre política, você acaba perdendo um monte de nuances que são impossíveis de incluir em uma matéria desse porte. É um trabalho estressante de simplificação e síntese e às vezes você perde informações importantes, referências que para um brasileiro já são subentendidas. Então, escrever para fora é um trabalho necessariamente imperfeito e simplificado. É difícil e, por conta disso, eu quis escrever um livro, porque eu poderia entrar em detalhes, descrever as nuances, explicar detalhadamente a história, a cultura. Tudo que não tem espaço para explicar em uma matéria curta jornalística”, explica.
Em “Brazillionaries”, Cuadros fala de um momento em que seu editor falha ao entrevistar o empresário Abilio Diniz porque começa a entrevista tratando dos pontos mais delicados. Ele teve que aprender a não ser tão abrupto e direto ao se relacionar com o entrevistados. “No Brasil, pra falar com qualquer tipo de personagem, quando se é jornalista, você tem que fingir um pouco mais que vocês são amigos, que você se importa com a outra pessoa para que a conversa possa fluir. Aqui nos EUA é diferente, as pessoas são um pouco mais diretas. Quando você conversa com alguém sobre um assunto profissional, é bem direto”, compara.
O jornalista norte-americano ainda escreve sobre o Brasil para o site da New Yorker, mas aponta que o interesse diminuiu muito depois dos Jogos Olímpicos. Segundo ele, com os mega-eventos, tudo que acontecia no Brasil podia virar pauta para a TV, com manchetes do tipo “crise e tal no país que vai sediar a Olimpíada”. “Implícito nisso é que esse interesse vinha do fato de que um monte de "gringo" iria para o Brasil. No auge do boom, o Brasil estava visando ser até uma potência mundial e agora, evidentemente, esse processo parou. O país voltou a ser, e eu falo do ponto de vista de um leitor médio americano, mais um país estrangeiro com problemas. Obviamente não é a minha visão, eu adoro o Brasil e continuo lendo as notícias todos os dias, mas é difícil para alguém que precisa prestar atenção em tanta coisa. A gente tem o Trump, a Síria e a Rússia... Mas o interesse diminuiu muito”, analisa Cuadros.
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