São eles: uma argentina da Al Jazeera English; um norte-americano, autor de ‘Brazillionaires’, do New Yorker; um francês freelancer e uma brasileira da Sputnik News
Por Lizandra Machado e Marcella Ramos
Quase um ano após as Olimpíadas, o país ainda desperta o interesse no noticiário internacional. As razões para isso podem ser muitas – contexto histórico-político-social, direitos humanos, belezas naturais, Floresta Amazônica, exotismo, entre outros. Na terceira reportagem da série, o Casarão conversou com Jean-Mathieu Albertine, jornalista francês freelancer.
*Clique aqui para ler a conversa a anterior, com o Alex Cuadros, da New Yorker.
Jean-Mathieu Albertini, Freelancer
Diferente dos demais, o francês Jean-Mathieu Albertini, de 28 anos, não tem o respaldo de um grande veículo estrangeiro conhecido aqui no Brasil. Quando terminou os estudos na França, em meados de 2015, já tinha o interesse de trabalhar de forma independente nas terras tupiniquins. Veio seis meses depois, em um trabalho no consulado em Recife, onde conseguiria juntar dinheiro durante um ano para se manter nos primeiros meses de trabalho freelance. Desde então, repórter cobre o Brasil para diversos veículos europeus, como o Mediapart (site francês), XXI e Sang froid (revistas francesas) e Sept (site suíço)
Mesmo que mantenha uma frequência em alguns jornais, como o Mediapart, o trabalho de Jean-Mathieu depende do empenho próprio de vender as pautas que acha interessantes e da disposição de ir a lugares mais obscuros para achar boas histórias. Como bom empreendedor autônomo, ele cita com facilidade os assuntos que mais chamam atenção do público francês e, consequentemente, dos veículos: “Política, violência e Amazônia. Na França, é muito forte a ideia de que a Floresta Amazônica é o 'pulmão do planeta'. Além disso, a Guiana Francesa fica do lado. A Floresta gera interesse em si, qualquer que seja a pauta. Se você apresentar bem, consegue emplacar, mas há uma dificuldade de chegar lá”, explica.
Ele identifica a dificuldade de acesso à Floresta como um problema até para os próprios veículos brasileiros. Para ele, é papel dos correspondentes contar essas histórias que nem a imprensa nacional consegue cobrir. “Tem jornais brasileiros que fazem um trabalho bom na Amazônia, mas é muito raro. É grande demais e o pessoal não pode mandar muita gente para lá. Também não sei se tem muito interesse. Não sei explicar. Acho que os correspondentes estrangeiros têm um papel muito importante de ir a esses lugares mais remotos. Eu tento fazer, quando posso, mas é muito difícil”, revela.
Jean-Mathieu prefere contar as histórias de maneira aprofundada, como nos moldes da revista brasileira Piauí. Para pôr em prática as ideias maiores, ele prefere escrever para jornais com menor periodicidade, que lhe permitem escrever um texto mais denso. Assim, ele consegue dar mais detalhes sobre as nuances da política e da cultura brasileira. Entretanto, a maior parte do seu trabalho é mais curta e sobre política. Como Cuadros, ele se queixa que é um trabalho mais complicado, mas com o tempo ele adquiriu algumas estratégias para se tornar mais inteligível.
“Política é um pouco mais difícil porque os artigos são mais curtos, então, tenho que simplificar. O que eu tento fazer no Mediapart é focar em alguma pessoa e não sobrecarregar de nomes, porque se você sobrecarrega, os franceses ficam perdidos. Um dos últimos artigos que eu escrevi foi sobre o Temer. Eu foquei no nome do Temer, na Lava Jato. Depois, para tirar os nomes dos outros envolvidos na história é só colocar, por exemplo, “Ministro do STF”, tentar simplificar um pouco. Explicar para o público brasileiro já é difícil, imagina para os franceses”, conta.
Como correspondente no Brasil, Jean-Mathieu conta que a reportagem que mais lhe marcou na carreira foi sobre o justiceiro Hélio José Muniz Filho, também conhecido como Helinho e “Pequeno Príncipe”. Condenado por cometer 65 homicídios nos anos 1990 na periferia de Camaragibe, região metropolitana de Recife, Helinho foi morto na cadeia em 2001. A grande reportagem foi publicada no jornal suíço Sept, em 2016.
“Achei essa matéria bastante interessante porque esse justiceiro matou muita gente. Foi um dos maiores justiceiros do Brasil e morreu faz tempo, no início dos anos 2000. Mas quando eu fui lá a memória dele ainda estava forte e, principalmente, a lógica era a mesma. Mesmo sendo um número baixo, as taxas de homicídio voltaram a crescer. Tentei explicar a lógica por trás disso, porque o cara, basicamente, queria fazer o bem, mas matava mais gente. No início, ele matou uma pessoa que matou o tio dele, e isso já é uma vingança. Depois, como era apoiado pela população, ele matou um cara que roubou uma bicicleta, depois matou a mulher de um traficante, porque não gostava dele. Achei interessante esse conceito de justiceiro e como ele pode dar errado. Enfim, a história dele me permitiu explicar boa parte da violência, mas nem tudo, claro”, explica Jean-Mathieu.
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