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Como é explicar o Brasil para estrangeiros, por quatro correspondentes - Patrícia Álvares

São eles: uma argentina da Al Jazeera English; um norte-americano, autor de ‘Brazillionaires’, do New Yorker; um francês freelancer e uma brasileira da Sputnik News



Por Lizandra Machado e Marcella Ramos


Quase um ano após as Olimpíadas, o país ainda desperta o interesse no noticiário internacional. As razões para isso podem ser muitas – contexto histórico-político-social, direitos humanos, belezas naturais, Floresta Amazônica, exotismo, entre outros. Na quarta e última reportagem da série, o Casarão conversou com a brasileira Patrícia Álvares, da Sputnik News.

*Clique aqui para ler a conversa a anterior, com o Jean-Mathieu Albertine, jornalista francês freelancer


Patrícia Álvares, da Sputnik News
Única brasileira entre os quatro correspondentes, Patrícia Álvares trabalha na agência de notícias estatal russa Sputnik News. Baseada em Montevidéu, no Uruguai, a jornalista, está no veículo desde outubro do ano passado. Antes disso, ela já havia passado pela EFE-Uruguai, CBN, BandNews, Correio Braziliense, entre outros.
Na Sputnik, a brasileira escreve sobre toda a América Latina e relata o “exotismo”, que às vezes chega a ser estranho para os entrevistados. “Quando sou eu que ligo para os entrevistados, eles acham muito engraçado, porque é uma brasileira falando em espanhol nitidamente com sotaque, que não é de um hispano-hablante nativo e de uma agência russa. Sempre rola aquela piadinha de que tudo é tão bizarro, que não tem sentido, que a gente fica parecendo que é espia da KGB”, brinca.
Segundo ela, sobre o Brasil sempre interessam política, corrupção, turismo, praia e economia. No entanto, muitas coisas a jornalista descobriu e foi aprendendo sobre o país por estar no exterior. “Eu fui descobrindo que o Brasil é uma referência negativa ou positiva, dependendo do que é noticiado. Agora, é Temer, Lava Jato, Odebrecht, que explodiu pela América Latina, está tudo bombando. Não sei alguma coisa específica, porque realmente desde o Impeachment [da ex-presidente Dilma, em 2016], que isso meio que ofuscou tudo”, explica Patrícia.
Em 23 de novembro de 2016, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução que acusa os meios de comunicação russos de “propaganda anti-União Europeia”, segundo publicação no seu site oficial. No documento, o órgão recomenda que os países europeus invistam nas suas comunicações e defende "reforçar a comunicação estratégica da União Europeia" contra o que os europeus chamam de “campanha de desinformação” promovida pela mídia russa, especialmente a agência de notícias Sputnik e o canal RT, ambos citados no texto.
“Sim, nós sofremos preconceito por trabalhar na agência Sputnik. Porque o Parlamento Europeu, em novembro do ano passado, aprovou uma resolução que não tinha caráter vinculatório. Ou seja, que não acarretava nenhuma sanção, mas recomendava aos países europeus investirem nas suas comunicações, acusando os canais e suas ‘pseudo-agências’ de notícias, RT e Sputnik, de propaganda e de manipulação da informação para fazer propaganda anti-européia. E comparando essa estratégia de comunicação da Rússia ao terrorismo Islâmico”, explica Patrícia.
A jornalista ainda relata que, em janeiro, saiu um relatório da CIA também acusando a Sputnik de influenciar a campanha eleitoral do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo o documento, a vitória de Trump aconteceu porque a Sputnik fez campanha contra a Hillary. “Nós sabemos que é um meio de comunicação com seus problemas, como todos os outros meios têm. Sabemos que tem umas particularidades bem bizarras, mas é um emprego como outro qualquer. Eu tenho amigos que são super conscientes de perspectivas de direitos humanos e tudo mais, mas tem que trabalhar para meios ‘super coxinhas’. Enfim, todo mundo tenta lutar contra o sistema dentro dele. Nós tentamos, pelo menos, aplicar a nossa ética”, defende Patrícia.


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