Por Igor Oliveira Simões
Sou,
sempre fui e vou continuar sendo Mangueirense, mas quando anunciaram a Portela
como campeã do carnaval passado não pensei duas vezes antes de sair correndo do meu
retiro carnavalesco nos alpes tijucanos direto pra Madureira. Há pelo menos dez anos frequento os ensaios e precisava ver de perto a felicidade tomando conta
do bairro onde nasci e fui criado. Assim que cheguei na Estrada do Portela já
lotada, os fogos anunciavam outra grata surpresa: o Império Serrano também
havia sido campeão do grupo de acesso. Naquele momento Madureira voltava a ser
a capital mundial do samba.
No
Império mais democrático da Terra, uma faixa pendurada com os dizeres “A minha
história já fala por mim, sou resistência, orgulho sem fim. Tem poesia no ar,
você já sabe quem sou, pelo toque do agogô” resumia o ambiente. O orgulho se
manifestava no samba no pé dos passistas, nas lágrimas das senhoras, na galera
da harmonia que se abraçava e no garotinho que balançava uma bandeira branca e
uma verde, na esperança de ver o seu Império voltar a ser grande ano que vem. A
resistência tá ali diariamente, no Mercadão, no calçadão de Madureira, na
Serrinha, no jongo, no baile charme do viaduto, na imagem de São Jorge, em Dona
Ivone Lara.
Na
Portela, a atmosfera não era diferente. Debaixo das asas da águia, os gritos de
“É campeã”, presos na garganta de gerações portelenses por 33 anos, foram
finalmente libertos. Chegar à quadra era quase impossível, a rua Clara Nunes
estava tomada pelo canto das três raças, que dessa vez podia ser ouvido por
todos os lugares. Enquanto Seu Monarco cantava a chegada da majestade do samba,
Luciano – um dos milhares de torcedores que havia corrido até ali pra ver a
Portela – chorava sem parar, olhando hipnotizado pro palco e dizendo que a
escola é sua vida e que, durante muitos anos, seus amigos diziam não entender
porque torcia pra quem nunca tinha visto ganhar. Com os olhos ainda cheios de
lágrimas e sabedoria, disse que a Portela sabia ganhar com humildade.
Sobre
as cinzas da quarta-feira, a alegria renasceu. Por alguns momentos as dores do
subúrbio foram substituídas pelas delícias de sua conquista. E eu, que nunca
tinha visto o meu lugar tão feliz, tive minha certeza traduzida no enredo
campeão do Império Serrano, que homenageava o poeta Manoel de Barros: O meu
quintal é maior, mas muito maior que o mundo. Madureira sorriu.
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