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A Representatividade LGBT No Cinema Contemporâneo


Como o filme “Com Amor, Simon” vem ajudando os jovens a se sentirem representados 

Por Anonymus

Atualmente muito se tem discutido sobre representatividade nos meios de comunicação. A sensação de falta que assistir a TV ou ir ao cinema traz ao não nos identificarmo com nada que é mostrado em tela vem trazendo à tona a importância para que todas as histórias sejam contadas do jeito certo. A importância da representatividade no meio social é imensa, seja ela de raça, etnia, gênero ou orientação sexual.

A representatividade LGBT vem sendo retratada há bastante tempo, porém com toques escancarados de clichés, sexualização e estereótipos. Não é de hoje que vemos algum personagem gay como o alívio cômico de novelas, como exemplo o personagem Samuel da novela ‘O Outro Lado do Paraíso’ da Rede Globo que tem uma representação vergonhosa para comunidade LGBT, principalmente depois do sucesso que foi o personagem Ivan, homem trans da novela anterior ‘A Força do Querer’, também da Rede Globo. Também não é de hoje que vemos filmes próprios para comunidade trazendo algo extremamente sexualizado, como se o mundo LGBT fosse promíscuo. 

Mas nem toda representatividade é sexualizada ou estereotipada, como é o caso de alguns filmes consagrados de Hollywood, como ‘Meninos Não Choram’ (1999), que retrata a vida de Teena Brandon ao se tornar Brandon Teena e reivindicar uma nova identidade, masculina, numa cidade rural de Falls City, Nebraska. A trama garantiu um Oscar de Melhor Atriz para Hillary Swank e muitos outro prêmios do cinema. O filme ‘O Segredo de Brokeback Mountain’ (2006) retratando a história de dois jovens rapazes que sem conhecem no verão de 1963, também rendeu o prêmio de Melhor Diretor para Ang Lee nos Oscars. 

Em 2016, os Estúdios da GLAAD (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation - aliança contra a difamação de gays e lésbicas, em livre tradução) elaboraram um estudo sobre a representatividade LGBT do cinema, mostrando que a representatividade do grupo social havia piorado em Hollywood. 

Dos 126 filmes importantes estreados no ano de 2015, apenas 17,5% tinham personagens que se identificavam como LGBT e até mesmo nos filmes considerados inclusivos para o grupo representativo, a representação LGBT foi bastante desigual: 77% eram homens gays, 23% mulheres lésbicas e apenas 9% bissexuais. Somente um filme foi considerado inclusivo para transsexuais. E apesar de não haver mudanças em relação ao ano anterior, houve uma clara piora na qualidade da representação de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. 

Segundo Sarah Kate Ellis, presidente da GLAAD, a televisão está muito à frente na inclusão da comunidade LGBT, com séries como Orange Is The New Black (Netflix), Sense8 (Netflix), How To Get Away With Murder (ABC), entre outras. Em análise publicada no site, ela critica a postura de Hollywood em relação à comunidade LGBT.

“Deixar de fora a comunidade LGBT – ou incluí-la somente como motivo de piada –mantém vivos velhos preconceitos e cria um ambiente inseguro não só aqui nos Estados Unidos como no mundo inteiro, onde a maior parte das pessoas vê esse retrato”. 


É claro que Hollywood veio tentando mudar esses dados e o que vimos foram até filmes LGBTs sendo indicados ao Academy Awards, o caso de ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ (2017) filme que retrata a relação de Elio Perman e Oliver em meados de 1983 na Itália. O mesmo ocorreu com o filme chileno ‘Uma Mulher Fantástica’ (2017), premiado com a estatueta de melhor filme estrangeiro, que retrata a vida de Marina, uma mulher trans. 

Já no primeiro trimestre de 2018 mais um filme LGBT entrou em cartaz nos cinemas, o chamado “Com Amor, Simon”, filme baseado no livro “Simon VS Agenda Homo Spiens” de Becky Abertalli. O filme retrata a vida de Simon Spiers, um jovem de 17 anos que tem uma vida normal, família normal e amigos normais, mas que esconde um segredo, ele é gay. 

A diferença de ‘Com Amor, Simon’ para muitos outros filmes do gênero, é que este é uma comédia romântica muito ao contrário dos outros que sempre possuem um tom sombrio e dramático, conforme analisa o estudante Daniel Oliveira.


"A diferença principal é que 'Com Amor, Simon' nos traz um romance que queremos viver, que nos identificamos e torcemos juntos"
Daniel Oliveira, 20 anos, estudante de Jornalismo da UFRN e gay.



‘Com Amor, Simon’ retrata o amor adolescente em que todos podem se identificar, rir e chorar. A única diferença é que é sobre dois meninos gays vivendo uma grande história de amor e talvez este seja o motivo pelo qual o filme foi tão aclamado pelo público e crítica, já que nunca um filme LGBT que conta uma história tão singela e leve havia sido comercializado mundialmente. 

Rapidamente foi-se percebendo o impacto desse filme ao começarem a ser divulgados relatos de jovens “saindo do armário” e de pais mais abertos à orientação dos seus filhos. " Eu queria que esse filme tivesse saído nos cinemas antes, quando eu ainda estava me descobrindo (pausa) teria sido tão mais fácil para mim e para tantas outras pessoas." disse Daniel.

Apesar da boa receptividade do público, ‘Com Amor, Simon’ entrou em cartaz no Brasil com faixa etária +16 devido ao conteúdo homossexual inserido no filme. Ou seja, apesar de estarmos avançando em representatividade, ainda estamos parados no século passado, em que homossexualidade é tratada como um tabu e proibida para todos - principalmente para os jovens, que são os que deveriam ter o maior acesso nessa fase de descobertas e assim poderem chegar ao seu auto-conhecimento e à compreensão ao se verem espelhados em tela.

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