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Wakanda, terra do Pantera Negra, é um dos lugares ambientados em "Vingadores: Guerra Infinita" (Marvel-Disney/Divulgação) |
Por: Bruna Rodrigues
O longa da Marvel Studios "Vingadores 3: Guerra Infinita" estreou no Brasil na última quinta-feira (26) e se tornou a maior bilheteria de abertura da história do cinema mundial, arrecadando US$ 725 milhões em todo o mundo, sem contar a China, onde o longa estreia no dia 11 de maio. Mas mesmo antes de chegar às telonas, o terceiro filme da saga dos Heróis Mais Poderosos da Terra já indicava ser um sucesso. No Brasil, a pré-venda em um dos maiores sites de ingressos se tornou a maior da história do portal somente nas primeiras 12 horas. Todo essa agitação em torno de Guerra Infinita chama mais a atenção para o fenômeno dos filmes baseados em histórias em quadrinhos de super-heróis, gênero que tem tomado cada vez mais espaço no cinema.
Baseado na coleção de HQs da Saga do Infinito, "Guerra Infinita" apresenta ao público a busca do titã Thanos pelas Jóias do Infinito, que dão ao portador poder incalculável no universo. Caberá aos heróis da Marvel como Os Vingadores, os Guardiões da Galáxia e os guerreiros de Wakanda reunirem-se para evitar a destruição de tudo que conhecem pelas mãos de Thanos. Mas apesar da apreensão de boa parte dos fãs, que temiam perder alguns de seus personagens favoritos, as expectativas para o filme eram altas e continuam, por parte de quem ainda não pôde ir ao cinema.
"[Guerra Infinita] representa a junção de todas aquelas histórias que acompanhamos aos poucos. Todo mundo tem suas histórias separadas, mas se juntam e lutam pelo bem comum. Traz um personagem super importante e um embate mais importante e desafiador pra equipe como um todo", diz Ana Carolina Moraes Monteiro, de 20 anos, estudante de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense. Ana Carolina é fã de super-heróis desde a infância, quando começou a assistir a animação "X-Men: Evolution", mas foi durante o Ensino Médio que ela se apaixonou pelo universo extendido dos heróis.
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Ana Carolina exibe sua camiseta com os principais heróis da Marvel, uma das diversas que a estudante coleciona (Arquivo pessoal) |
"Meus favoritos são o Capitão América e o Homem Aranha, pois são dois personagens que têm a vida normal e do nada alguma coisa muda neles e eles tentam se adaptar", conta ela. "Me identifico porque creio que nossa vida está sempre mudando, e eu me desespero muito quando algo muda. Ver como eles reagem às mudanças, superando, me mostra que tem outros meios além do desespero. Sem contar na graça do personagem do Homem Aranha e em como o Capitão América é leal ao que prega e pensa", compartilha Carol, que também gosta do Universo Extendido da DC, marca responsável por heróis populares como Batman, Superman, Mulher Maravilha e Flash.
A estudante Sofia de Souza Baptista, de 17 anos também compartilha do mesmo ponto de vista de Ana Carolina. Ela já garantiu seu ingresso no Kinoplex Rio Sul em Botafogo, no Rio de Janeiro, e possui expectativas mais do que altas para o lançamento do filme que encerra a chamada Fase 3 do MCU. "O Universo Cinematográfico da Marvel investiu uma década na caracterização dos personagens. É praticamente a consolidação da Marvel na indústria cinematográfica como uma das maiores blockbusters do século, sem o menor exagero", garante Sofia. "E só isso já demonstra um pouco das minhas expectativas pra esse filme, assim como para todos os fãs da franquia. E ele representa, pra mim, um dos maiores marcos da minha vida como fã da cultura geek. Espero ver as minhas expectativas serem superadas, o que provavelmente não será um tarefa muito difícil", diz.
Assim como Ana Carolina, Sofia também teve seu primeiro contato com super-heróis na infância, e conheceu o universo extendido da Marvel no início da adolescência. As temáticas de agentes secretos e espiões sempre foram suas paixões, gosto que influenciou em seus favoritos dentro do MCU. "Por isso meus personagens favoritos sempre foram a Viúva Negra e o Soldado Invernal. Meus filmes favoritos são 'Capitão América: Soldado Invernal' e 'Pantera Negra', que conquistaram o meu coração de uma maneira indescritível", compartilha a estudante.
Ler histórias em quadrinhos de super-heróis também é um dos hobbies da adolescente, descoberto por ela através de um jogo do universo da DC Comics. "Comecei a ler as revistas da DC por conta do videogame 'Injustice: Gods Among Us'. Achei interessante a temática e fiquei mais feliz ainda quando vi que lançariam uma HQ do jogo. Comecei a acompanhar, e descobri que eu era uma fã de HQs", relembra Sofia. "Aí estendi minha leitura pra Marvel. Hoje em dia sou muito mais fã da Marvel, mas o meu carinho pela DC nunca sumiu, afinal, a primeira heroína que tive conhecimento que existia foi a Mulher Maravilha", conta.
A popularidade de filmes de super-heróis no cinema atual
Não é de hoje que super-heróis povoam o imaginário popular e tomam espaço no cinema e na TV. Diversas adaptações de histórias em quadrinhos surgiram em meados do século passado, como os seriados "Flash Gordon" (1936) e "As Aventuras do Superman" (1951), e o filme "Capitão América" (1944), e desde então marcam presença de forma pontual entre produções de outros gêneros até os dias atuais. Ainda assim, apesar das adaptações não serem inéditas no cenário cultural, a popularidade que possuem hoje tem chamado mais atenção, de forma positiva e também negativa.
Uma das mais importantes produções do gênero, a trilogia do Batman de Christopher Nolan também fez história no cinema mundial. O primeiro filme ("Batman Begins", 2005) arrecadou "apenas" U$S374 milhões em bilheteria, mas a franquia alavancou com o tempo; o segundo filme ("O Cavalheiro das Trevas", 2008) ultrapassou a marca de U$S1 bilhão e ainda recebeu oito indicações ao Oscar, levando duas estatuetas. O último longa, "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", de 2010, arrecadou US$ 1,084 bilhão no mundo.
Antes dos arrasa-quarteirões de super-heróis mais modernos, "Titanic" (1997) foi o primeiro filme da história a superar U$S 1 bilhão em bilheterias e se manteve como a produção mais rentável do cinema por mais de 10 anos, até ser superado por "Avatar" (2009), ambos dirigidos por James Cameron. Até o início de 2018, os dois longas haviam sido superados em solo americano por "Star Wars: O Despertar da Força" (2015), que superou as marcas de arrecadação de U$S 659 milhões de "Titanic" e U$S 760,5 milhões de "Avatar" com o recorde de U$S 936,6 milhões. Entretanto, "Pantera Negra", lançado em fevereiro de 2018, derrubou Titanic do pódio de arrecadação no cinema dos Estados Unidos, com U$S 663 milhões somente nos cinemas americanos.
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Lançado em fevereiro deste ano, o filme "Pantera Negra", dirigido por Ryan Coogler também quebrou recordes consolidados por longas de outros gêneros (Marvel-Disney/Divulgação) |
"O cinema desde sempre explorou temas, personagens e autores de outras mídias. Nesse sentido, não é nenhuma novidade termos essa voga de filmes adaptando personagens de sucesso das HQs. Por outro lado, a partir dos anos 1950, percebeu-se que o público majoritário do cinema passou a ser de jovens, e nos anos 1970, se aprofundou o modelo dos filmes de verão, mirando no público infanto-juvenil, recheado de efeitos especiais. Acredito que hoje vemos apenas uma continuidade ou aprofundamento dessa tendência", afirma Rafael.
Apesar de não ver o fenômeno como negativo, o professor concorda em um ponto com muitos dos críticos desse gênero: a falta de variedade. "O problema, ao meu ver, não é a existência desses filmes, mas a falta de diversidade. Com os orçamentos cada vez mais altos partir dos anos 1950, Hollywood passou a investir em menos filmes. Hoje, arrisca-se pouco e, consequentemente, as grandes produções são muito repetitivas", explica. Rafael utiliza como exemplo a grande recorrência de filmes inspirados em marcas já conhecidas, sejam heróis populares, videogames ou remakes de antigos sucessos da telona.
O que mudou para Rafael ao longo desse tempo foi o modo com que o consumidor desse gênero de produção é visto atualmente. Se antes super-heróis eram coisas de criança, agora o público já é mais levado à sério do que antes. "Os fãs hojes são os mesmo fãs dos filmes de ação do passado, mas com uma autoridade maior, dada pelo interesse dos estúdios em agradá-los, pela possibilidade deles se manifestarem com mais alcance [blogs, mídias sociais], e pela importância que foi dada aos personagens clássicos de HQ, que hoje desfrutam de maior respeitabilidade do que no passado", pontua.
Em relação às críticas que filmes de super-heróis recebem, os fãs discordam, é claro. "Filmes de heróis são tão merecedores dessa popularidade quando qualquer outro tipo no cinema", opina a estudante Camila Sofia, de Santa Maria Madalena, no Norte Fluminense. "Não é porque um filme é um blockbuster que ele não pode quebrar recordes. Além disso, os filmes de heróis buscam alcançar um público muito grande e satisfazem a todas essas camadas do público, enquanto alguns outros gêneros não fazem isso", afirma. Camila tem 18 anos e pretende assistir Guerra Infinita na cidade onde estuda, Campos dos Goytacazes.
Ela conheceu o MCU em 2011, com o lançamento de "Capitão América: O Primeiro Vingador" e desde então nutre admiração pelo herói, no qual se enxerga. "A identificação foi quase imediata, eu me apaixonei pelos ideais e pela força do Steve Rogers pré-soro. Como eu fui uma criança magrela e com problemas respiratórios, vi aquele soldado provando a todos que não colocaram fé nele que estavam errados, e o que fazia um ser humano digno eram ideais e altruísmo", relembra.
Também fã de filmes que envolvam política, ação e ficção científica, Sofia de Souza Baptista também não vê como negativa a popularidade que os filmes inspirados em HQs de super-heróis possuem hoje. "Eu acho inevitável. HQs sempre tiveram um impacto muito grande na sociedade como um todo. Além do mais, essas histórias costumam envolver a fórmula mais adorada pelo público: coisas impossíveis sendo tratadas de maneira humana e racional, um dos fatores que mais amo nesse universo", opina a estudante.
A estudante Ana Carolina Moraes Monteiro, por sua vez, prefere filmes de suspense além dos blockbusters de super-heróis. Mas concorda com as opiniões levantadas por outros fãs do gênero à respeito da popularidade desse tipo de produção. "Eu acho que conforme a popularidade [dos filmes de heróis] vem crescendo, vem gerando maior visibilidade pelas questões que os filmes abordam. Filmes diversos abordam questões como o poder da mulher na sociedade, mas os filmes de heróis abordam a mesma coisa de uma maneira mais clara e que acaba inspirando crianças desde cedo, por exemplo", opina a jovem.
Em poucas horas, "Vingadores: Guerra Infinita" quebrou recordes de pré-venda nos Estados Unidos e em outros países, ultrapassando seu antecessor, "Vingadores 2: Era de Ultron" em mais de 1000%. O primeiro trailer do longa também se tornou o mais assistido das plataformas digitais. Tudo isso mesmo antes do lançamento, somado à expectativa dos fãs e a recepção após sua estreia torna consenso que o penúltimo filme do arco dos Heróis Mais Poderosos da Terra é um dos mais esperados e vai contribuir ainda mais com a consolidação do gênero de filmes de super-heróis no cinema atual. O longa com duração de 2h e 36min é dirigido pelos irmãos Joe e Anthony Russo, e ainda contará com uma continuação ainda sem nome definido, prevista para maio de 2019.
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