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Imagem: Senado Federal |
Por Maria Eduarda Monteiro
No
século da internet, as redes sociais são umas das principais formas de
comunicação devido a sua imediaticidade e interatividade. Em território
brasileiro, estima-se que 64,7% da população esteja conectada à internet. As redes sociais
revolucionaram a comunicação, alterando até mesmo a organização dos jornais e
tornando-se um meio essencial de divulgação de notícias.
Apesar
da presença crescente do "mundo virtual" na vida das pessoas, ainda existe a
ideia de que a virtualidade está isolada do “mundo real”. Por exemplo, aqueles
que estão sempre mexendo em seus celulares são criticados por não viver a vida
real, como se ambas as dimensões, real e virtual, fossem opostas. Ao contrário disso,
há a complementaridade.
Uma
situação que evidencia a influência das redes sociais no mundo dito real foi a corrida
eleitoral dos Estados Unidos, em 2016. A eleição de Trump foi uma surpresa para
alguns jornais tradicionais do país. A explicação para o inesperado resultado
da disputa presidencial está na maior rede social do mundo, o Facebook. O mecanismo do Facebook faz com que seja
construída uma bolha de opiniões, em que só se visualiza o que faz coro ao seu
próprio perfil analisado pela rede de Zuckerberg. Assim, a polarização foi
acentuada e, aliada à circulação de notícias endossando o discurso de Donald
Trump, garantiu o impacto nas urnas.
Cerca
de 156 milhões de estadunidenses têm contas no
Facebook e, de acordo com BBC, pelo menos dois terços deles usam a rede
social como fonte primária de notícias. Por outro lado, apenas na época da eleição de 2016, o Projeto de Propaganda Computacional, da Universidade de
Oxford, relatou que
46,5% do conteúdo sobre política apresentado no Twitter no estado de Michigan
se referiam a notícias falsas. A conclusão é uma conta
que não fecha: quase metade das notícias do momento em discussão relacionava-se a inverdades; simultaneamente, parcela considerável das pessoas utilizam o Facebook
como ferramenta para se informar.
A
expressão fake news foi escolhida
como palavra do ano de 2017 pelo dicionário da editora britânica Collins e em 2016, pela Oxford. Esse
termo refere-se à difusão de notícias falsas, muitas vezes de cunho alarmista e
que causam confusão nos leitores. A internet e as redes sociais potencializam a
capacidade de compartilhamento dessas notícias falsas. O levantamento feito
pelo Grupo de Pesquisa em Políticas
Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai), da USP, estima que 12 milhões de
pessoas compartilharam fake news somente
em junho de 2017.
Porém,
compartilhar notícias falsas nem sempre é sinônimo de estar mal-intencionado,
muitas pessoas acreditam no que estão lendo e divulgam pensando que estão
repassando informações reais e importantes. Entretanto, essas pessoas garantem
o “sucesso” da proliferação de notícias falsas, que podem surgir de boatos ou
de pessoas e organizações que visam desmoralizar algum adversário.
No
Brasil, as eleições para presidenciável acontecerão em outubro desse ano.
Assim, a polarização das redes ganha notabilidade, e as notícias sobre questões
eleitorais estão entre as mais compartilhadas. No cenário nacional, mesmo fora de
épocas eleitorais, não é raro encontrarmos exemplos de figuras públicas, principalmente
políticos, sendo alvos de difamação.
Em
2015, o deputado Jean Willys entrou com processo contra o padre José Cândido da
Silva, que apresentava à época o programa "Questões de Fé" pela TV
Horizonte. O Padre atacou Wyllys em seu programa afirmando que havia um projeto
de lei para legalizar a união entre seres humanos e animais. Atribuído a
deputada federal Maria do Rosário, o projeto jamais existiu. José Cândido foi condenado a pagar 15 mil pela divulgação da notícia
falsa, cuja fonte era uma publicação de humor em rede social.
Em um caso ainda mais recente, após o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol RJ), circulou pelas redes uma foto cuja descrição afirmava ser um registro de Marielle quando namorava o traficante Marcinho VP. Essa notícia, assim como outras de cunho semelhante, tinha intuito de acusar a vereadora de envolvimento com o crime. A desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, também publicou no Facebook um comentário em que dizia que Marielle "estava engajada com bandidos e foi eleita pelo Comando Vermelho".
Em um caso ainda mais recente, após o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol RJ), circulou pelas redes uma foto cuja descrição afirmava ser um registro de Marielle quando namorava o traficante Marcinho VP. Essa notícia, assim como outras de cunho semelhante, tinha intuito de acusar a vereadora de envolvimento com o crime. A desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, também publicou no Facebook um comentário em que dizia que Marielle "estava engajada com bandidos e foi eleita pelo Comando Vermelho".
Em 2013, um episódio muito repercutido foi a
apreensão de um helicóptero com pasta base de cocaína, pertencente à
Gustavo Perrella (Solidariedade – MG), filho do senador Zezé Parrella (PDT –
MG). Todavia, o episódio circulou nas redes informando que o helicóptero era de
Aécio Neves (PSDB – MG), aliado político de Zezé, mas não foram obtidas
quaisquer provas sobre o envolvimento de Aécio com o acontecido.
“Eu acredito que as pessoas compartilham fake news porque
muitas vezes essas notícias condizem mais com o que elas pensam sobre as coisas
do que a realidade. É sobre alimentar as próprias ideologias”, comenta Yago
Evangelista, atuante na Abre Caminho, plataforma virtual de campanha do pré-candidato Guilherme Boulos.
No dia 10 de maio, o Facebook iniciou um programa de
controle às fake news no Brasil. Em conjunto com a Agência Lupa e Aos fatos, agências
de checagem de fatos, a rede passou a verificar a veracidade das notícias
denunciadas pelos usuários como falsas. Assim, se a inverdade for confirmada, o
Facebook controla e divulgação do material nos feeds dos usuários, impedindo
sua propagação normal.
Organizações expressivas, entretanto, como o
Movimento Brasil Livre (MBL) e o Instituto Liberal (IL), posicionaram-se contra
a tendência global do controle às notícias falsas. No site do IL, um texto intitulado
“Antes a Fake News do que o controle midiático” questiona: “podem empresas e governos
definirem e imputarem verdades selecionadas por seus moldes?”.
Em sua página no Facebook, o MBL criticou a aliança
da rede social com organizações “esquerdistas” de checagem de fatos. O
movimento utiliza aspas para se referir às fake news, pois defendem que não se
tratam de notícias falsas, mas de postagens atacadas pelas organizações de viés
à esquerda.
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Imagem: Movimento Brasil Livre |
Além da rede de Zuckerberg, o
Tribunal Superior Eleitoral também fará uma campanha
publicitária de combate às fake news, segundo anunciado por Luiz Fux, ministro
do STF e presidente do TSE.
O MBL e a página "Lula Presidente" foram procurados para falar sobre o assunto. A desconfiança para com a mídia mostrou ser um empecilho na obtenção de respostas. Até o momento, a reportagem não teve qualquer pronunciamento dos movimentos. A Agência Lupa declarou não conceder entrevistas até o fim da disputa eleitoral.
Segundo a análise da revista Veja, que considerou as 4.591 postagens campeãs de compartilhamento entre cerca de 12.000 publicações de páginas populares no Facebook, Lula é o nome mais citado em notícias falsas, sendo 73% de viés negativo. O pré-candidato, entretanto, mesmo em regime prisional, aparece como liderança nas pesquisas eleitorais, de acordo com as pesquisas do CNT/MDA realizadas em maio de 2018.
O MBL e a página "Lula Presidente" foram procurados para falar sobre o assunto. A desconfiança para com a mídia mostrou ser um empecilho na obtenção de respostas. Até o momento, a reportagem não teve qualquer pronunciamento dos movimentos. A Agência Lupa declarou não conceder entrevistas até o fim da disputa eleitoral.
Segundo a análise da revista Veja, que considerou as 4.591 postagens campeãs de compartilhamento entre cerca de 12.000 publicações de páginas populares no Facebook, Lula é o nome mais citado em notícias falsas, sendo 73% de viés negativo. O pré-candidato, entretanto, mesmo em regime prisional, aparece como liderança nas pesquisas eleitorais, de acordo com as pesquisas do CNT/MDA realizadas em maio de 2018.
Victor Hugo Trindade administra uma página do
Facebook chamada “Cirão Carioca” em campanha para o pré-candidato Ciro Gomes,
ex-governador do Ceará. Victor enxerga muitos benefícios no alcance das redes
sociais: “Ciro critica abertamente o mercado financeiro, o fato de 55% do
orçamento federal serem destinados a banqueiros com juros e pagamento da dívida
pública. É inviável imaginar essa discussão no Jornal Nacional, por exemplo, que
tem o Bradesco como um de seus principais patrocinadores. A internet populariza
o acesso à informação e facilita a divulgação de ideias, e a campanha do Ciro
necessita disso.”
Em 1° de maio desse ano, uma tragédia marcou o
Brasil: dois prédios desabaram após um incêndio, na cidade de São Paulo. Os
prédios eram ocupados por famílias sem teto apoiados pelo Movimento
de Luta Social por Moradia (MLSM). Após o episódio, uma grave acusação falsa
circulou nas redes, gerando muita confusão e envolvendo o nome do pré-candidato Guilherme
Boulos, liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). “As pessoas
confundiram o MLSM com O MTST e começaram a dizer que o Boulos era o
responsável pela ocupação”, declarou Yago Evangelista, membro da plataforma de campanha Abre Caminho, associada ao pré-candidato do Psol.
Marcelo Machado, presidente nacional do partido em formação Liga Democrática Liberal (LIGA), fala que diversas mentiras são compartilhadas sobre Bolsonaro, pré-candidato que tem seu apoio: "As pessoas colocam nas redes que o Jair foi torturador na época do regime militar e isso é totalmente inverídico. Na época, ele nem pertencia ao Exército Brasileiro." Machado acredita que deve haver punição para os divulgadores das fake news, e alega que esse conteúdo afeta a vida das pessoas e o resultado nas urnas.
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