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Audiovisual como forma de resistência e educação

Por Dandarah Filgueira e Júlia Carvalho

“- Como era o jeito de fazer fogo antigamente? Quem deu o fogo pra gente?              
 - Ke`yrusu (o Sol)!” 
Esse é o primeiro diálogo do filme Panambizinho – O Fogo que nunca acaba, um curta de 12 minutos produzido independentemente pela Associação Cultural dos Realizadores Indígenas (ASCURI). O filme conta a história da origem do fogo e da lenha, de acordo com a sabedoria indígena da aldeia de Panambizinho no Mato Grosso do Sul.  
Diante do contexto enfrentado pela sociedade contemporânea, ainda regida pela diferença de classes e socialmente desigual, incentivos culturais têm oportunizado o acesso à arte em grupos até então limitados aos incentivos políticos cada vez mais precários. Entre esses coletivos está a ASCURI (Associação Cultural de Realizadores Indígenas do Mato Grosso do Sul), grupo de jovens indígenas que utilizam as novas tecnologias como estratégia de resistência. Com intenção similar atua o Cafuné na Laje, coletivo independente de arte-educação que trabalha a produção de filmes com crianças e adolescentes, incentivando o conhecimento ao audiovisual. A ação dos grupos revela as iniciativas populares que ultrapassaram as limitações financeiras e hoje atuam como alternativas de lazer e arte

A ASCURI surgiu em 2008 e hoje luta contra o modelo de mídia hegemônico para fortalecer a autenticidade do povo indígena. O coletivo de cinema autônomo resiste por meio de parcerias colaborativas, necessárias para compra e subsequente distribuição de materiais nas aldeias que recebem as atividades da equipe. Ademilson Concianza, estudante indígena do curso de especialização em Montagem da Escola de Cinema Darcy Ribeiro, explica que a produção de filmes é importante para divulgar a luta indígena e para ensinar aos mais novos sobre sua cultura. 
“Começamos a fazer documentário sobre nossa luta mesmo, porque audiovisual pra nós...ajuda a divulgar nossa luta, audiovisual parece um professor que tá ensinando a nós, a criança vai aprender através do audiovisual”, disse. 

Foto: Dandarah Filgueira

O Coletivo Cafuné na Laje, por sua vez, busca oportunizar o acesso à cultura por meio do incentivo à produção audiovisual na favela Jacarézinho, periferia carioca. Para Léo Lima, facilitador do projeto, o Cafuné busca representar o cotidiano da favela sem associá-la à violência, à guerra as drogas e à marginalidade, um enfoque diferente do que expõe a grande mídia. 

Foto: Júlia Carvalho

Foto: Dandarah Filgueira

“Nunca estudei cinema, nunca pensei em fazer cinema. Minha vontade era só a de mostrar o Jacaré de outro modo. De alguma forma os investimentos chegam na favela e as crianças usufruem disso”, explica. Para o tutor, o projeto é um incentivo ao conhecimento. “Não é que vamos tirá-los do tráfico ou dar um emprego, a gente vai trocar uma ideia. Por exemplo, por qual razão as mulheres negras são invisibilizadas no cinema? Vamos tentando desconstruir olhares”, relata. 
 O grupo de crianças presentes também dividiram suas experiências no coletivo, contando como é o processo criativo dos filmes, sobre o que gostam de fazer e os motivos pelo qual participarem do projeto. Para Crislayne, de 11 anos, a iniciativa é positiva e pode gerar frutos no futuro.  “Eu  desde o começo, quando a gente não tinha nada, e hoje a gente já tem tudo. A gente pode sair dali atriz, querendo ou não querendo. Depende da gente”, revela. 
A iniciativa de arte e educação independente teve início em 2013, e atualmente conta com mais de 20 curtas metragens gravados pelos participantes. O objetivo é ocupar espaços populares e estimular essas produções de acordo com os recursos disponíveis, garantindo a manutenção do projeto. Já conseguimos criar vários curtas nessa pegada de fazer filme com dinheiro e de fazer filme sem dinheiro. Tinha filme que nem tínhamos microfones. Hoje temos dois e podemos até emprestar equipamento pra galera trabalhar. Essas crianças têm muito o que contribuir com o cinema. Especialmente o cinema no Brasil.”  
Os grupos estiveram presentes no Cine Debate do Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF, promovido em comemoração aos 50 anos do IACS. 

Para saber mais sobre os dois grupos que participaram do Cine Debate, acesse o site da ASCURI e o seu canal no YouTube, e curta a página no Facebook do Cafuné na Laje e também se inscreva no seu canal no YouTube.

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