Por Breno Behnken
Uma sala de aula vazia, com cadeiras amontoadas nos cantos, não é a primeira imagem de uma universidade que vem à cabeça. No Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF, o IACS, a sala C310 mudou de configuração para receber uma aula especial: as cadeiras foram afastadas, abrindo espaço no centro, o quadro permaneceu branco e a bandeira da República Democrática do Congo foi estendida na janela.
(Foto: Giovanna Mendes)
Uma sala de aula vazia, com cadeiras amontoadas nos cantos, não é a primeira imagem de uma universidade que vem à cabeça. No Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF, o IACS, a sala C310 mudou de configuração para receber uma aula especial: as cadeiras foram afastadas, abrindo espaço no centro, o quadro permaneceu branco e a bandeira da República Democrática do Congo foi estendida na janela.
A Oficina de Danças Afrobrasileiras foi uma das atividades que integrou o calendário de comemorações dos 50 anos do IACS. De 12 a 14 de setembro, palestras, oficinas e apresentações ajudaram a celebrar o aniversário do Instituto que abriga nove cursos. Às 10h do último dia de comemorações, a oficina reuniu por volta de 12 alunos interessados em aprender os movimentos das danças africanas.
O professor Alexandre Singa está acostumado a frequentar as salas de aula da UFF, mas não na frente do quadro: ele é aluno de Comunicação Social. Intercambista, veio da República Democrática do Congo para se formar publicitário em Niterói. E não é a primeira vez que ele dá aulas de dança. Todo sábado ele reúne um grupo no bloco A do campus do Gragoatá, às 10h, para praticar os ritmos.
A aula teve três danças principais, que fazem parte da expressão cultural do país. A Rumba é a mais lenta, uma dança de salão, muito executada por casais em festas formais. Para ensiná-la, Alexandre juntou os participantes em duplas, depois de ensinar os movimentos básicos. Os casais dançam a rumba abraçados, não de frente como no forró, mas um dos pares é abraçado por trás, com os dois olhando na mesma direção. E as batidas lentas da música ajudam a deixar a dança ainda mais romântica.
Já o Mutswashi é mais acelerado. Movendo basicamente só os quadris, é uma dança de conquista e sedução, bastante sugestiva. Os braços e ombros quase não se movem, e as pernas apenas dão o sustento do movimento dos quadris. Ter o rebolado brasileiro ajuda, mas também não é tão fácil assim dançar o Mutswashi.
O Ndombolo, então, é mais difícil ainda. A dança move o corpo inteiro, dos pés à cabeça. É uma dança de comemoração, muito dançada em datas festivas culturais e religiosas. A alegria dos movimentos é contagiante, junto do ritmo rápido da percussão do Ndombolo. Não tem como ficar parado.
Por fim, a aula contou até com uma manifestação contra o candidato à presidência pelo PSL. Isso porque a aula de Danças Afrobrasileiras seguinte estava marcada para o mesmo dia da passeata contra o mesmo candidato. Assim, no meio da coreografia, acabou surgindo o grito de “Fora Bolsonaro, Fora!”, no ritmo do Ndombolo. Afinal de contas, dançar também é um ato político.
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